Morte Preciosa
“Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (Sl 116:15) – Essa é uma das muitas declarações confortantes e abençoadoras na Sagrada Escritura com respeito àquele grande evento do qual a carne tanto se contrai. Se o povo do Senhor fizesse mais frequentemente um estudo em oração e fé do que a Palavra diz sobre a partida deles deste mundo, a morte perderia muito, se não tudo, dos seus terrores para eles.
Mas ah!, ao invés de fazer isso, eles deixam sua imaginação correr solta, se entregam a temores carnais, andam por vista e não por fé. Olhando para o Espírito Santo em busca de direção, esforcemo-nos para dissipar, à luz da revelação divina, algumas das trevas que a incredulidade lança ao redor até mesmo da morte de um cristão.
“Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos”. Essas palavras declaram que um santo morrendo é um objeto de atenção especial para o Senhor, pois note as palavras “aos olhos do”. É verdade que os olhos do Senhor estão sempre sobre nós, pois Ele nunca tosqueneja nem dormita. É verdade que podemos dizer a todo tempo: “Tu és Deus que vê”. Mas parece, a partir da Escritura, que existem ocasiões quando Ele observa e cuida de nós de uma maneira especial. “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46:1). “Quando passares pelas águas, estarei contigo” (Is 43:2).
“Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos”. Isso traz diante de nós um aspecto da morte que é raramente considerado pelos crentes. Ele nos dá o que pode ser chamado de o lado divino do assunto. Com muitíssima frequência, contemplamos a morte, como a maioria das outras coisas, a partir do nosso lado. O texto nos diz que do ponto de vista do Céu, a morte de um santo não é algo repugnante ou horrível, nem trágico ou terrível, mas “precioso”. Isso levanta a pergunta: Por que a morte do Seu povo é preciosa aos olhos do Senhor? O que existe na última grande crise que é tão querido para Ele? Sem tentar uma resposta exaustiva, sugiramos uma ou duas respostas possíveis.
1. Suas pessoas são preciosas ao Senhor.
Eles sempre foram e sempre serão queridos para Ele. Seus santos! Eles são aqueles sobre quem Seu amor foi posto antes da Terra ser formada ou os céus criados. Foi por causa desses que Ele deixou Seu Lar nas alturas e a quem Ele comprou com Seu sangue precioso, voluntariamente dando Sua vida por eles. Eles são aqueles cujos nomes são trazidos no peitoral do nosso grande Sumo Sacerdote e gravados nas palmas das Suas mãos. Eles são o dom de amor do Pai para Ele, Seus filhos, membros do Seu corpo; portanto, tudo que diz respeito a eles é precioso aos Seus olhos. O Senhor ama Seu povo tão intensamente que os próprios cabelos das suas cabeças estão contados: os anjos são enviados para ministrar a eles; e porque suas pessoas são preciosas ao Senhor, as suas mortes também o são.
2. Porque a morte termina as tristezas e sofrimentos dos santos.
Os nossos sofrimentos têm uma razão de existência, pois por muita tribulação devemos entrar no reino de Deus (At 14:22). Todavia, o Senhor não “não aflige…de bom grado” (Lm 3:33). Deus não é esquecido nem indiferente para com nossas provas e tribulações. Concernente ao Seu povo de outrora, está escrito: “Em toda a angústia deles foi ele angustiado” (Is 63:9). “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece daqueles que o temem” (Sl 103:13). Assim, também somos informados que nosso grande Sumo Sacerdote se “compadece das nossas fraquezas” (Hb 4:15). Aqui, então, pode haver outra razão pela qual a morte de um santo é preciosa aos olhos do Senhor – porque ela marca o término de suas tristezas e sofrimentos.
3. Porque a morte proporciona ao Senhor uma oportunidade de mostrar Sua suficiência.
O amor nunca é tão feliz como quando ministrando às necessidades do seu objeto querido, e nunca o cristão é tão necessitado e impotente como na hora da morte. Mas a extremidade do homem é a oportunidade de Deus. É então que o Pai diz ao Seu filho em temor: “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça” (Is 41:10). É por causa disso que o crente pode responder confiantemente: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23:4). Nossa própria fraqueza apela à Sua força, nossa emergência à Sua suficiência. Esse princípio é mais abençoadoramente ilustrado nas bem conhecidas palavras: “Como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os braços, recolherá os cordeirinhos (os fracos) e os levará no seu regaço; as que amamentam, ele as guiará mansamente” (Is. 40:11). Sim, Sua força é aperfeiçoada em nossa fraqueza. Portanto, a morte dos santos é “preciosa” aos Seus olhos porque proporciona ao Senhor uma ocasião bendita para Seu amor, graça e poder serem ministrados ao Seu povo indefeso.
4. Porque na morte o santo vai direto para o Senhor.
O Senhor se deleita em ter Seu povo consigo. Isso foi benditamente evidenciado por todo o Seu ministério terreno. Para onde quer que fosse, o Senhor tomava Seus discípulos para ir juntamente com Ele. Quer estive no casamento em Caná, nas festas santas em Jerusalém, na casa de Jairo quando sua filha estava morta, ou no Monte da Transfiguração, eles sempre O acompanhavam. Quão bendita é a palavra em Mc 3:14: “E nomeou doze para que estivessem com ele”. E ele é “o mesmo ontem, e hoje, e eternamente” (Hb 13:8). Portanto, Ele nos assegurou: “E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14:3). Preciosa então é a morte dos santos aos Seus olhos, pois ausentes do corpo, estamos “presentes com o Senhor” (2 Cor 5:8).Enquanto estamos sofrendo com a remoção de um santo, Cristo está se regozijando. Sua oração foi: “Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste” (Jo 17:24), e na entrada para o Céu de cada um do Seu povo, Ele vê uma resposta a essa oração com alegria. Ele contempla em cada um que é livre do “corpo desta morte” (Rm 7:24) outra porção da recompensa do trabalho da Sua alma (Is 53:11), e fica satisfeito. Portanto, a morte dos Seus santos é preciosa ao Senhor, pois Lhe dá ocasiões para regozijo.
É muito interessante e instrutivo analisar a plenitude da palavra hebraica aqui traduzida como “preciosa”; ela pode ser traduzida também como “excelente”. “Quão excelente é a tua benignidade, ó Deus!” (Sl 36:7, versão do autor). “Um homem de entendimento é de excelente espírito” (Pv 17:27, versão do autor). Não importa quão digna ou indignamente ele possa viver, a morte de um santo é excelente aos olhos do Senhor.
A mesma palavra hebraica é traduzida também como “honroso”. “Filhas de reis se encontram entre as tuas damas de honra” (Sl 45:9, RA). Assim, Assuero perguntou de Hamã: “Que se fará ao homem de cuja honra o rei se agrada?”(Et 6:6). Sim, a troca da Terra pelo céu é verdadeiramente honrosa, e: “esta honra, tê-la-ão todos os santos. Louvai ao SENHOR!” (Sl 149:9).
Essa palavra hebraica é traduzida também como “esplendor”. “Se olhei para o sol, quando resplandecia, ou para a lua, que caminhava esplendente” (Jó 31:26, RA). Apesar de ser escuridão e trevas para aqueles a quem o cristão deixa para trás, ela é esplendente “aos olhos do Senhor”: “mesmo depois de anoitecer, haverá claridade” (Zc 14:7, NVI). Preciosa, excelente, honrosa, esplendente aos olhos do Senhor é a morte dos Seus santos. Possa o Senhor fazer esta pequena meditação preciosa para os Seus santos.
Arthur Walkington Pink – “Comfort for Christians”, capítulo 17.