Moisés na Escola de Deus

Muitas lições podem ser aprendidas com as biografias das Escrituras. A de Moisés é uma das mais completas. De acordo com qualquer padrão, ele foi um dos maiores homens da história humana em sua influência sobre seus contemporâneos e as gerações seguintes.

Na Bíblia, ele é chamado de “Homem de Deus” (Sl 90, título), “Servo de Deus” (1Cr 6:49), “Profeta” (Dt 34:10), “Sacerdote” (Sl 99:6). Seria interessante perguntar: onde está sua grandeza e como ele foi preparado para sua posição e trabalho?

Estêvão resume três aspectos de seu caráter em Atos 7:22: primeiro, ele era instruído em toda a sabedoria dos egípcios, tinha a educação formal das escolas do Egito. Segundo, ele era poderoso em palavras, ou seja, sabia se expressar bem. Terceiro, ele também era poderoso em ações, não era apenas um estudioso e um orador, era um homem prático. Essa é uma combinação rara em qualquer época. Ao mesmo tempo, ele era impetuoso, de temperamento rápido, precipitado, como pode ser visto em sua morte do egípcio e em sua interferência com o israelita. Aos quarenta anos de idade, ele provavelmente sabia muito sobre matemática, astronomia, filosofia e política. Como outros homens que Deus escolheu para realizar uma tarefa específica, ele teve de frequentar outra escola na parte de trás do deserto. Essa também foi a experiência de Elias, João Batista e do apóstolo Paulo. Ao final de quarenta anos de trabalho como pastor no deserto, Deus tratou de cinco partes de sua anatomia, ensinando-lhe assim cinco lições simples que revolucionaram completamente sua vida e deixaram uma marca em seu serviço posterior. Foram elas: primeiro, seus pés (Ex 3:1-5); segundo, suas mãos (Ex 4:1-2); terceiro, seu peito (Ex 4:6-7); quarto, sua boca (Ex 4:10-12); e quinto, seu rosto (Ex 34:28-35).

Seus Pés

No Monte Horebe, o monte de Deus, ele vê a sarça ardendo em fogo, mas não se consumindo. Da sarça ardente, Deus fala, dizendo que ele deve tirar os sapatos de seus pés, pois o lugar em que está é terra santa. Deus se revela, e Moisés esconde o rosto. Ele é levado à presença de Deus e aprende ali a lição da reverência. Há sete casos de chamados para serviços especiais detalhados na Bíblia. Todos são diferentes, mas há uma característica comum a todos: cada um é levado à presença de Deus, e o efeito são os pés descalços. Abraão, Elias, Isaías, Jeremias, Ezequiel e Paulo, bem como Moisés, passaram por essa experiência, e isso produziu um senso da santidade de Deus. Observe a reação de Jó, Isaías, Pedro e João a essa experiência. Ela deve ser uma repreensão à familiaridade moderna de se dirigir à Deidade e também uma lição de como nos comportarmos na Casa de Deus.

Suas Mãos

Deus falou novamente a Moisés, dizendo: “Que é isso na tua mão? E ele respondeu: Uma vara. E ele disse: Lança-a na terra, e ela se tornou em serpente; e Moisés fugiu de diante dela. E disse o Senhor a Moisés: Estende a tua mão, e pega-lhe pela cauda. E ele estendeu a sua mão, e apanhou-a, e ela se tornou em vara na sua mão.” A lição sobre a vara do pastor que se tornou uma serpente é muito importante. É o cetro de autoridade delegada que caiu da mão do primeiro Adão e se tornou uma serpente. Mas a Semente da Mulher tratou da cabeça da serpente. O Senhor ressuscitado disse que toda a autoridade no céu e na terra havia sido confiada a Ele e, com essa autoridade, Ele os comissionou e os enviou com Seu Evangelho. Ao comando de Cristo, o cristão sai com a vara da autoridade delegada em sua mão para fazer a obra do Senhor. É interessante notar as várias ocasiões em que Moisés usou a vara posteriormente: primeiro, na corte de Faraó (Ex 7:10-12), no Mar Vermelho (Ex 14:16), na Rocha de Horebe (Ex 17:6), e também na luta contra Amaleque (Ex 17:9); é claro que também há outras ocasiões.

Seu Seio

“Disse-lhe ainda o Senhor: Põe agora a tua mão no teu seio. E ele meteu a mão no seio; e, tirando-a, eis que a sua mão estava leprosa como a neve. E disse-lhe: Torna a meter a mão no teu seio. E tornou a meter a mão no seu seio, e a tirou do seu seio, e eis que se tornou como a sua outra carne.” A lição aqui está bem na superfície, é a do pecado que habita no coração do servo. O Senhor ensinou essa lição aos apóstolos no Cenáculo (Jo 13). Lá, ela é tipificada pelos pés contaminados. A bacia e a água correspondem à lavagem pela Palavra de Deus, a santificação. Paulo trata desse assunto doutrinariamente em Romanos 6 e 7. Nenhum homem ou mulher deve ir para o campo missionário sem ter aprendido essa lição. O isolamento e o ambiente pagão testarão os mais espirituais.

Sua Boca

No Egito, no final de sua educação secular, Moisés era rápido demais, agia com pressa; agora ele é lento demais e dá uma série de desculpas. Primeiro, ele diz: “Senhor meu, não sou eloquente, nem dantes nem depois que falaste a Teu servo; antes, sou tardio de palavras e de língua”. No entanto, o Senhor lhe diz para ir, dizendo: “Eu serei com a tua boca”. A isso Moisés responde: “Ó Senhor meu, envia, peço-Te, pela mão de quem Tu quiseres enviar”. Na verdade, ele diz: “Senhor, envia quem Tu quiseres, desde que não seja eu”. Pouquíssimos homens começam como oradores públicos; aprender a falar com eficiência é um processo longo, lento e doloroso. Há uma grande diferença entre a língua superficial com sua verbosidade fácil e o lábio e a fala ungidos. O ouvinte perspicaz pode detectá-la imediatamente. Os cinco grandes discursos do Livro de Deuteronômio mostram que Moisés superou sua dificuldade, e Deus cumpriu Sua promessa de ser com sua boca. No entanto, até o fim de sua carreira, a impetuosidade foi seu pecado mais grave. Ele morreu por ter falado imprudentemente com seus lábios (Sl 106:33).

Seu Rosto

A última parte da anatomia de Moisés com a qual Deus lidou foi seu rosto. Por duas vezes, ele passou quarenta dias no topo da montanha com Deus e, quando desceu, a glória da presença de Deus se refletiu em seu semblante. A prática da presença de Deus tem um efeito transformador até mesmo na aparência física de quem a desfruta. Paulo aplica a passagem em 2 Coríntios 3 ao contraste entre a glória transitória e desvanecida da antiga aliança e a glória permanente e crescente da nova: “Mas todos nós, com o rosto descoberto, contemplando (refletindo) como por espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor” (2Cor 3:18).

Thomas Ernest Wilson, julho de 1963.

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