Leitura das Escrituras: 1 Tessalonicenses 5:12-28 — O assunto que temos diante de nós nessa seção é muito importante e tem duas vertentes: primeiro, a atitude da igreja em relação aos seus líderes; segundo, as atividades dos líderes na igreja. “E rogamo-vos, irmãos, que conheçais os que trabalham entre vós e vos presidem no Senhor” (v. 12). Em uma linguagem simples, isso significa: conheça seus líderes. Em outras partes do Novo Testamento, esses líderes são chamados de “anciãos” e “bispos”. Esses dois títulos se referem ao mesmo trabalho e à mesma pessoa. O nome “ancião” vem da palavra grega “presbuteros”, e o nome “bispo” vem de outra palavra grega “episkopos”. Essas são as palavras em torno das quais duas grandes organizações religiosas foram construídas, o presbiterianismo e o episcopalismo. A palavra ancião sugere idade e experiência, enquanto a palavra bispo indica o trabalho realizado por essa pessoa, que supervisiona e inspeciona como um superintendente. Essas palavras se referem, é claro, apenas a homens, não a mulheres.
Suas qualificações
As qualificações são exigidas hoje em dia em qualquer campo de importância, e certamente não menos na assembleia de Deus. Os presbíteros devem ser marido de apenas uma mulher (1Tm 3:2). Conheça-os, diz Paulo, dando a entender que vale a pena conhecê-los. Eles se dedicam a três tarefas: trabalham (v. 12), advertem (v. 14) e vigiam (v. 15). Seu trabalho é árduo e difícil; eles “trabalham”. A palavra usada aqui é traduzida em João 4:6 pela palavra “cansado” e sugere uma labuta até o ponto de fadiga. O trabalho de amor no qual os líderes da igreja se envolvem muitas vezes resulta em noites tardias e sem dormir.
As exortações da Palavra de Deus são: que os conheçamos (1 Ts. 5:12); que nos lembremos deles (Hb. 13:7); que oremos por eles em particular (Hb. 13:18); e que os saudemos em público (Hb. 13:24). Eles trabalham entre vós, e vos presidem no Senhor, e vos admoestam; portanto, tende-os em grande estima, e ficai em paz entre vós. Essa afirmação do apóstolo indica que o fato de os líderes dados por Deus serem estimados e respeitados produz paz dentro da assembleia, e não conflito. O cristão deve estar sempre preparado para lutar contra o inimigo, nunca contra um companheiro de fé, muito menos contra um ancião.
Suas atividades
No versículo 14, lemos as instruções de Paulo para os líderes da igreja de Deus em Tessalônica. Essas instruções impõem aos irmãos mais velhos uma atitude tanto positiva quanto negativa. A compreensão dessas implicações tornaria todos os líderes da igreja:
Solícitos: “Agora vos exortamos, irmãos, a que admoesteis os desordeiros” (desordenados, R. V.). A palavra “indisciplinados” implica estar fora de sintonia. Uma outra referência a esses indisciplinados é feita em 2 Tessalonicenses 3:11. “Ouvimos dizer que há entre vós alguns que andam desordenadamente, não trabalhando em coisa alguma, mas sendo atarefados.” O Dr. Moffat traduz o versículo 14: “Vigiai os vadios”.
“Confortai os fracos de espírito”, exorta o apóstolo. A Versão Revisada diz: “Confortai os fracos de coração”. O termo parece ser militar, indicando aqueles que ficam para trás na marcha. É necessário dar a eles uma palavra de encorajamento.
“Amparai os fracos.” Ou seja, dar força àqueles que estão prontos para desistir. O Apóstolo podia dizer o seguinte sobre seu próprio ministério em Éfeso: “Tenho-vos mostrado todas as coisas, que, trabalhando assim, deveis sustentar os fracos” (Atos 20:35). Que exemplo maravilhoso ele foi!
“Sede pacientes (longânimos) para com todos.” Ser moderado, ou seja, ter um temperamento controlado, como uma peça de aço de boa qualidade que mantém a sua têmpera e, portanto, é de maior valor.
“Cuide para que ninguém retribua mal por mal a ninguém.” O Dr. Jowett declarou certa vez: “O bem retribuído pelo bem é semelhante ao homem; o bem retribuído pelo mal é semelhante a Deus; o mal retribuído pelo mal é semelhante ao demônio; e o mal retribuído pelo bem é semelhante à besta.” Os irmãos mais velhos precisam aprender a vencer o mal com o bem (Romanos 12:21) e ter em mente as palavras de Paulo aos gálatas: “Se vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais consumidos uns pelos outros” (Gálatas 5:15).
“Segui sempre o que é bom, tanto entre vós como para com todos os homens.” Que não haja retaliação. O cristão deve ser a mão aberta, não o punho fechado.
Espiritual: Depois dessas palavras de conselho positivo, Paulo aborda a vida pessoal dos anciãos e os admoesta dizendo: “Alegrai-vos cada vez mais”. Eles haviam recebido a palavra do Evangelho com alegria (1 Ts. 1:6), e ele queria que essa alegria aumentasse e fosse contínua.
“Orai sem cessar.” Ninguém pode ser um líder entre os santos se não mantiver um contato próximo com o quartel-general. O próprio Paulo foi um bom exemplo disso; ele se referiu à sua oração noturna e diurna (1Ts 3:10). A oração torna a vontade de Deus clara, a presença de Deus real e a obra de Deus fácil. Nada prospera sem oração.
“Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco.” Em Efésios 5:20, lemos: “Dando sempre graças por tudo a Deus e ao Pai, em nome do Senhor Jesus”.
O apóstolo agora se volta para a atitude negativa que os líderes cristãos devem desenvolver. Ele definitivamente implica em pelo menos três evitações.
Não seja crítico: “Não apague o Espírito”. Isso, é claro, pode significar não extinguir o Espírito em outra pessoa. Um irmão ou irmã pode estar fazendo o melhor que pode para servir e agradar ao Senhor, mas, por meio de críticas rudes, um cobertor úmido pode apagar o fogo do zelo e deixá-lo frio e silencioso por algum tempo.
Não seja insensível: “Não desprezeis as profecias”. Havia profetas na Igreja primitiva, homens que haviam recebido uma revelação divina; consequentemente, eram professores reconhecidos. Hoje, um irmão com uma mensagem da revelação completa de Deus, as Escrituras Sagradas, pode ser desprezado provavelmente por não ser uma personalidade agradável ou um orador fluente, mas o fato de não ouvir a mensagem pode resultar em desobediência à vontade do Senhor.
Não seja crédulo: “Provai todas as coisas; retende o que é bom”. Não importa quão popular seja um pregador, é preciso aprender a testar o que é falado pelo que está escrito, e não o que é escrito pelo que é falado.
O restante do capítulo é concluído com uma oração do apóstolo por seus amados filhos na fé, os tessalonicenses. Ele ora pela santificação e preservação deles e, ao fazer isso, expressa quatro pensamentos muito bons que envolvem uma pessoa, uma petição, uma perspectiva e uma promessa.
A pessoa: “O próprio Deus da Paz”. A Versão Revisada traduz esse título da seguinte forma: “O próprio Deus da Paz”. Como é bom conhecer o próprio Deus da Paz neste mundo de turbulência!
A petição: “O próprio Deus da Paz vos santifique inteiramente; e rogo a Deus que todo o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados irrepreensíveis.” A santificação e a preservação sugerem que o cristão deve ser separado e mantido à parte.
A perspectiva: “Até a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” Aquele que tem essa esperança nEle purifica-se a si mesmo, assim como Ele é puro (1 João 3:3).
A promessa: “Fiel é aquele que vos chama, o qual também o fará”. O poder e a fidelidade de Deus realizarão aquilo que para nós pode parecer impossível.
Para encerrar, o apóstolo pede que, assim como ele orou por eles, eles orem por ele. Ele envia calorosas saudações a todos e, em seguida, ordena que a epístola seja lida a todos os santos irmãos, todos em Cristo.
Paulo havia lhes instruído que o Senhor Jesus voltaria pessoalmente para buscá-los, mas, enquanto isso, ele estava ansioso para que eles desfrutassem muito da presença do Senhor com eles. Ele encerra a epístola com a bênção: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com vocês. Amém”.
Thomas Richardson — “Escritos dos Irmãos de Plymouth”
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