Romanos 4:24 – “JESUS, nosso Senhor” é uma forma um tanto incomum de expressão para ser usada nas Escrituras. Temos muitas referências a “Jesus Cristo” e a “nosso Senhor Jesus Cristo“, mas há apenas uma ou outra passagem em que aquilo ocorre. Ainda assim, para mim, parece ser indizivelmente doce. Serei grato a Deus com devoção se em meu sermão eu for capaz de transmitir a vocês pelo menos um dízimo da doçura que tenho extraído desta expressão para minha própria apreciação.
Faz parte da fé aceitar contrastes muito grandes, e se olharmos por um momento as palavras de nosso texto: “Jesus, nosso Senhor “, e especialmente se olharmos para a conexão em que são encontradas, veremos um grande contraste. Jesus, o homem “de dores”, e ainda assim, “nosso Senhor Jesus! Pensamentos de rejeição, tristeza e vergonha agrupam-se em torno desse nome bendito e sempre melodioso, mas Ele é “nosso Senhor” no mais alto e divino – Senhor nosso e nosso Deus! A fé tem sido ensinada a pensar Nele, mesmo antes de Seu nascimento, como o Cristo de Deus, e dar atenção à mensagem do anjo a José: “E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados (Mateus 1:21). A fé também se curva ante a manjedoura com os pastores adorando e com os sábios do Oriente apresentando presentes, percebendo que a criança é o Infinito, e que o Menino de Belém é o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
A fé vê Jesus em trajes humildes de um camponês da Galiléia, andando na companhia de um bando de pescadores. Ela vê que Ele é um amigo de publicanos e pecadores, mas ainda assim ela acredita ser Ele o Filho do Altíssimo, embora carne e sangue não tenham revelado a ela essa grande Verdade de Deus. Mesmo em Sua humilhação, ela O conhece como Senhor do mar que fez as ondas da tempestade acalmarem ao Seu comando, e como o Médico das doenças, diante do qual todos os tipos de doenças, e até mesmo demônios, eles próprios, fogem rapidamente. Ela sabe que Ele foi um homem que sofreu, mas ainda assim ela O chama de “Senhor”. Sim, apesar de na cruz ela contemplar, com olhos cheios de lágrimas, Sua agonia e morte, mesmo lá O saúda como Senhor! Ela o fez na oração de morte do ladrão: “Senhor, lembra de mim quando vieres no Teu reino”. E ela tem feito isso milhares de vezes desde então. E agora, hoje, embora o nome de Jesus de Nazaré seja cogitado e para muitos seja apenas um motivo de riso e o desprezado Galileu tem por enquanto, apenas um balanço parcial sobre os filhos dos homens, mas a fé O vê exaltado no mais alto céu e ela O reconhece como ambos, Senhor e Deus!
E essas coisas que eu disse foram contrastes que eram da parte da fé aceitar. Deixaram de ser contrastes para ela agora, pois agora a fé vê pouco contraste entre a morte de Cristo e Seu reinado em glória! Na verdade, ela entende que uma é consequência da outra, especialmente quando lê uma passagem como esta: “Quem, sendo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus, mas a si mesmo se esvaziou, assumindo para si a forma de um Servo, e foi feito à semelhança de homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se, e tornou-se obediente até à morte, até mesmo a morte de Cruz. Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e Lhe deu um Nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai”.
A fé se deleita em pensar que Cristo sendo o Senhor é o real fruto de Ele ter morrido e de ter ressurgido dos mortos, pois ela compreende o significado do Apóstolo Pedro, no Pentecostes, quando ele disse aos judeus: “Este Jesus que Deus ressuscitou, do que todos nós somos testemunhas … Portanto, que toda a casa de Israel saiba com certeza que Deus fez o mesmo Jesus, a quem vós crucificastes, Senhor e Cristo”. A fé tem ouvidos atentos e ela tem ouvido Jeová falando na mesma linguagem que saudou os ouvidos de Davi ― Jeová disse a meu Senhor: Assenta-te à minha direita, até que Eu faça escabelo de seus inimigos. Mesmo quando a fé vê Jesus Cristo sob as circunstâncias mais humilhantes, ela percebe como, fora dessa grande humilhação, Seu Reino tem crescido e se deleita em reconhecer esse fato glorioso e com reverente adoração ela O chama, “Jesus, nosso Senhor”.
Antes de terminar esta introdução ao meu discurso, eu quero lembrá-los, amados, que, apesar de toda a doçura com que o nome de Jesus é associado, e da abençoada condescendência pela qual Ele trouxe a si mesmo tão perto de nós, mesmo assim nossa fé nunca toma liberdades com ele, ou se esquece de que Ele é “Jesus, nosso Senhor”. Ele é “Jesus”. Oh, a doçura inefável desse nome querido, precioso e consolador! Mas Ele também é “Jesus, nosso Senhor”. E você vai sempre achar que na proporção em que a fé cresce, cresce a reverência. Incredulidade é presunção, mas fé é sempre humildade. Quanto mais você conhece Jesus como seu Salvador, te poupando do pecado, mais você também vai reconhecê-Lo como seu Senhor. Ninguém se rebela contra Cristo porque acredita Nele, mas porque acreditamos em Deus, Ele se torna o nosso Senhor e aprendemos a obedecer-Lhe. Este é o espírito que eu anseio ter reinando em nossos corações – o espírito de reverência, adoração devota a “Jesus, nosso Senhor”.
Primeiro, vou tentar mostrar-lhes que a sensível condescendência de Cristo encarece esse título para nós. Em segundo lugar, que os nossos corações amorosos leem esse título com ênfase peculiar. E, em terceiro lugar, que nós encontramos uma doçura especial nessa palavra “nosso” – “Jesus, nosso Senhor”.
I. Primeiro, então, quero mostrar-lhes A SENSÍVEL CONDESCENDÊNCIA DE CRISTO ENCARECE ESSE TÍTULO PARA NÓS, “Jesus, nosso Senhor”.
Primeiro, queridos amigos, nós reivindicamos dar-Lhe este título, especialmente porque Ele é Homem. “Jesus, nosso Senhor”, diz o Apóstolo, “Que foi entregue por nossas ofensas, e ressuscitou para nossa justificação. Nós O adoramos da forma mais reverente e carinhosa, porque Ele é Homem, assim como é Deus. Nós o chamamos, “Jesus, nosso Senhor”, como se, assim, significasse que nos apropriamos Dele, especialmente para nós mesmos. Podemos até dizer para os anjos, “Ele é o seu Senhor, porque Ele os criou e os sustenta. E agrada-lhes fazer-Lhe homenagens, mas Ele não é um anjo. Ele não tomou sobre Si a natureza dos anjos. Ele nunca os redimiu com Seu sangue precioso; Ele nem é tão parecido com vocês, como Ele é parecido conosco. Ele nunca os chamou de Seus irmãos, mas Ele é Jesus, nosso Senhor, porque Ele nasceu de uma mulher e fez de acordo com a Lei, e tornou-se um participante de nossa natureza humana e, portanto, Ele não se envergonha de nos chamar irmãos – e Ele é osso dos nossos ossos, e carne da nossa carne”.
É agradável para nós pensar que o Reino de “Jesus, nosso Senhor” não tem limites. Na verdade, dificilmente podemos imaginar quão grande é o Seu domínio ou quão numerosos são Seus seguidores! Pode ser que existam seres além em inúmeras galáxias – incontáveis como as areias do mar – e que Jesus é Senhor de todas elas. No entanto, ele ainda tem um relacionamento tão especial com esse pequeno planeta e com essa raça de pobres homens e mulheres caídos, que essa terra O chama para si como nenhum outro mundo pode reivindicá-Lo! E nós, Seu povo, O chamamos de nosso como nenhuma outra criatura pode, pois, tão verdadeiramente como Ele é Deus, assim é também homem. Eis que no Trono do Deus altíssimo, há um homem como nós assentado! Os homens de Israel disseram que tinham 10 partes no rei e mais direito de Davi do que Judá tinha e nós temos 10 partes no Filho de Davi e mais direito para ele que todo o resto de Suas criaturas têm! Sua sensível condescendência, em tornar-se homem, encarece para nós o título “Jesus, nosso Senhor. Nós O chamamos Senhor com toda a disposição e prazer porque Ele nos amou e Se deu por nós. Você lembra o argumento do apóstolo Paulo, escrevendo aos Coríntios, “Vocês não são de vocês mesmos, pois vocês são comprados por bom preço: glorificai, pois, a Deus no vosso corpo, e no vosso espírito, que é de Deus”? Aquele que comprou-nos com tamanho preço, reivindica-nos como Seus próprios e nenhum de nós, eu acredito, vai disputar sua afirmação. Nós certamente cantamos:
“A Ele que amou as almas dos homens
E nos lavou no Seu sangue.
À real honra levantou nossa cabeça
E nos fez sacerdotes para Deus.
À Ele toda língua louve
E todo coração ame!
Todas as gratas honras pagas na terra,
E músicas mais nobres no céu!”
Nós o chamamos Senhor porque Ele nos fez para sermos novas criaturas Nele e porque, como nosso Pastor, Ele não tem só nos guiado e nos alimentado, mas porque deu a Sua vida por nós, que somos as ovelhas do Seu rebanho. Agora Ele tendo feito isto por nós, Ele deve ser nosso Senhor e Ele será o nosso Senhor! Cada gota de Seu sangue será uma joiada coroa que Ele deve usar como exercício de Sua soberania de direito sobre nós. Toda cicatriz em seu corpo bendito será para nós um sinal de Sua verdadeira realeza e tudo o que Ele suportou e sofreu – até mesmo o vinagre e o fel – tudo isso será outro símbolo da Soberania graciosa a que devemos alegremente nos submeter! Irmãos e irmãs em Cristo, vocês não sentem que porque Ele morreu por nós, nós fazemos tudo mais, e, certamente, não obstante, chamá-lo de “Jesus, nosso Senhor”? Assim novamente Sua sensível condescendência encarece o título para nós.
Além disso, em todos os privilégios que são concedidos a nós Nele, Ele é o nosso Senhor. Os privilégios, todos eles, lembram-nos de Seu senhorio e docemente, mas efetivamente, fazem valer esse senhorio sobre nós. Não somos Sua Igreja e não é Ele o Cabeça da Igreja? Nós não reconhecemos nenhuma outra Cabeça! A Igreja de Cristo encontra supremo prazer e satisfação em Sua liderança.
Somos nós os membros do Seu corpo? Então, vamos lembrar que ele nunca é chamado de um braço ou um olho – Ele é sempre a Cabeça, controlando todo o corpo. Somos o rebanho que Ele comprou com seu próprio sangue? Então, Ele é o Pastor desse rebanho. Ele cria alguns de nós para sermos os pastores do Seu rebanho? Então, Ele é o Sumo Pastor e quando Ele se manifestar, “deve receber uma coroa de glória que não se desfaz”. Ele nos faz para ser uma casa espiritual? Então Ele habitará nessa casa como seu Senhor e Mestre. Somos nós, através de seu amor infinito, unidos a Ele nos laços do sagrado matrimônio?Então, Ele é o nosso marido e torna-se nosso deleite se curvar à Sua vontade e nos rendermos absolutamente ao Seu controle. Estamos mortos e sepultados com Ele e esperamos ressuscitar dos mortos? Ele “é o começo, o primogênito dentre os mortos, que em todas as coisas Ele tenha a preeminência. Esperamos entrar na glória? Quando o fizermos, devemos ver o Cordeiro no meio do Trono de Deus e devemos nos dobrar diante Dele como Senhor de todos. Estamos procurando os esplendores da era milenar e esperando para compartilhar deles? Devemos então vê-Lo reinar aqui como Rei e quebrar os seus inimigos em pedaços como vasos de oleiro. Você não pode se aproximar de Jesus sem ficar impressionado com o pensamento de Seu senhorio sobre você, assim como Sua condescendência divina em sua direção. Na verdade, é em Sua condescendência que Seu Senhorio Divino se sobressai mais do que em qualquer outro lugar!
Mais uma vez, na nossa mais querida comunhão na Mesa de Comunhão, Ele é, “Jesus, nosso Senhor. Alguns de nós estamos chegando, atualmente, para a mesa onde Jesus se digna a sentar e comer conosco, e não há comunhão mais próxima do que aquela que essa ceia memorial tão docemente nos concede. No entanto, você deve ter notado, eu creio, como Paulo constantemente usa a expressão, “o Senhor” em seu relato sobre a instituição desta ordenança “Eu recebi do Senhor o que também vos entreguei, que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão. Por que Ele simplesmente não diz, “Jesus”? Mais do que isto, ele diz: “anunciais a morte do Senhor até que Ele venha”. E que aqueles que, “beberem o cálice do Senhor, indignamente, serão culpados do corpo e do sangue do Senhor, não discernindo o corpo do Senhor. Através disso tudo, o apóstolo fala de Cristo como o Senhor que se assenta à cabeceira da mesa como o rei que reina em seu palácio. Ele é nosso querido e amado Esposo, de quem podemos verdadeiramente dizer: “O meu amado é meu, e eu sou Dele”. No entanto, Ele ainda é o Rei e nós sentimos que, mesmo em toda a proximidade da comunhão que Ele nos permite desfrutar com Ele, ainda há uma distância de qualidade e classificação entre Ele e nós mesmos – e por isso nos O chamamos Mestre e Senhor – e fazemos bem em falar assim. Provavelmente nunca sentimos o quanto Ele é o nosso Senhor até que chegamos à mesa da Comunhão. Sua grande condescendência faz este abençoado título se tornar mais brilhante para nós e ser melhor compreendido por nós.
II. Eu acho que disse o suficiente sobre essa primeira colocação, para deixá-la clara, por isso vou voltar para a segunda, que é esta: NOSSOS AMOROSOS CORAÇÕES leem o título COM ÊNFASE peculiar. Oh, nós devemos sugar a doçura dessas palavras, “Jesus, nosso Senhor!
George Herbert (1) escreveu:
“Como ‘Meu Mestre’ soa docemente! ‘Meu Mestre!'”
Eu posso alterar as palavras um pouco e dizer:
“Como soa docemente “Jesus, nosso Senhor”!
“Jesus, nosso Senhor”!
Como âmbar cinzento deixa um aroma rico em quem o prova,
Assim, essas palavras um conteúdo doce,
Uma fragrância oriental, ‘Jesus, nosso Senhor'”
Então, os nossos corações amorosos leem este título com ênfase peculiar, pois, em primeiro lugar, nunca submetemos este título a ninguém, a não ser a Ele, “Jesus, nosso Senhor. Dizemos, com o Profeta: “Ó Senhor, nosso Deus, outros senhores além de Ti tiveram o domínio sobre nós: mas por Ti só faremos menção de Seu nome”. Moisés foi uma vez senhor sobre nós – colocamos o Senhor fora do Seu lugar de direito e procuramos servir a Lei – mas agora sabemos que, enquanto “Moisés, na verdade, foi fiel em toda a sua casa, como um servo”… Cristo é “um Filho sobre a Sua própria casa”. Amados, eu ordeno vocês a deixarem que o Senhor Jesus seja o único Senhor da sua consciência! Não obedeçam a ninguém além Dele porque Ele, sozinho, tem o direito de reinar sobre vocês. Temo que há alguns que pegam uma coisa como certa porque algum dos servos de meu Mestre disse que era assim. Ele era um servo eminente e altamente favorecido por seu Mestre e, portanto, eles levam o que ele diz em lei. Mas nós, que também somos servos do nosso Mestre, suplicamos a vocês nunca olharem para nós como se fôssemos mestres, pois, “um é o vosso Mestre, Cristo, e todos os outros são irmãos”. É um dia abençoado para qualquer homem quando ele é capaz de lançar fora todo o jugo, exceto o jugo de Jesus Cristo! Bem-aventurados somos pois, doravante, “Jesus, nosso Senhor” e Ele, sozinho, deverá receber nossa obediência completa e a leal homenagem de nossos corações. Assim, enfatizamos este título, reservando-o para o nosso Mestre.
Nós também retribuímos isso a Ele com a ênfase que se coloca a partir de uma grande disponibilidade. Nós não só estamos dispostos, mas ansiosos para que Jesus seja o nosso único Senhor e Mestre. E sentimos raiva de nós mesmos por não termos deixado que Ele fosse o nosso Mestre anos atrás. Estamos tão contentes que Ele é nosso Senhor que desejamos nunca entristecê-Lo novamente – nunca ter vontades por conta própria – para nunca mais fazer nada que não seja o que seria perfeitamente de acordo com Seu governo sobre nós. Eu sei que cada um dos salvos sente exatamente assim e diz: “Ó Senhor, tenha domínio sobre mim! Seja meu único Senhor! Eu quero isso com desejo intenso e alegremente reconheço que este é o Seu título de direito”.
E todo verdadeiro cristão pronuncia esta frase: “Jesus, nosso Senhor”, com a ênfase da integralidade. Desejamos que Jesus Cristo seja o nosso Senhor em tudo – e Senhor de todas as partes do nosso ser. Cada um de nós tem dito a Ele, “Meu Senhor, faça apenas a Tua vontade em mim.
Se eu puder melhor glorificar a Ti pela paciência ou por serviço ativo, apenas me dê a graça necessária e não vou deixar de reconhecer-Te como meu Senhor. Será que você, amado, já não entregou ao Senhor Jesus tudo o que você tem? Será que você já não sentiu que você O ama mais do que marido, ou mulher, ou criança? Você não sente que o seu espírito, alma e corpo pertencem a Ele e que você deseja consagrar a Ele todos os seus bens, todas as suas horas e todos os seus poderes? Você está mantendo longe Dele algum dos seus bens? Você acha que alguma coisa que você tem é sua mesmo? Se assim for, você não é fiel a Jesus o seu Senhor, pois quem ama verdadeiramente Jesus e quem sabe que é um dos que são redimidos por Ele, diz com todo o seu coração que Jesus é seu Senhor, seu Soberano absoluto, Seu Déspota – se essa palavra pode ser usada no sentido cristão – tem monarquia ilimitada e supremo poder sobre a alma! Sim, Ó, “Jesus, nosso Senhor, Tu serás o autocrata, Mestre imperial do nosso coração e de todo o domínio da nossa humanidade!
A Igreja de Deus, de uma forma muito especial, chama Jesus de “nosso Senhor”, pois não há e não pode haver qualquer Cabeça da Igreja exceto o Senhor Jesus Cristo. É blasfêmia terrível para qualquer homem na terra chamar a si mesmo “Vigário de Cristo e a cabeça da igreja. E é uma usurpação dos direitos da coroa do Rei Jesus para qualquer rei ou rainha ser chamado de cabeça da igreja, porque a verdadeira Igreja de Jesus Cristo não pode ter cabeça, que não o próprio Jesus Cristo! Sou grato porque não há Cabeça para a Igreja da qual sou membro senão Jesus Cristo, Ele mesmo; e nem ouso ser um membro de qualquer igreja que se contenta com qualquer Cabeça, que não Ele. Você pode colocar alguma outra interpretação sobre o título, mas se ele significa o que realmente significa, nas Escrituras, o termo ― Cabeça da Igreja” é uma violação dos direitos da coroa do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores! A verdadeira Igreja de Cristo mantém esse título apenas para seu Senhor e não reconhece outra Cabeça. Ninguém pode fazer novas leis para a verdadeira Igreja de Cristo. Você sabe que o Parlamento faz leis (2) que ditam o caminho que você deve trilhar quando você faz suas orações e qual roupa você deve vestir, e não sei mais o que, mas isso é uma paródia pobre da verdadeira Igreja que se submete à uma soberania como essa!
Se eu fosse um membro de uma igreja cujas leis foram feitas por um parlamento que consiste de judeus e gentios, ateus e céticos, eu estaria fora de lá o mais rápido que pudesse! Não há nenhum ―criador de leis para a Igreja de Deus, a não ser Cristo Jesus, Ele mesmo, e ninguém mais, pode tomar o Seu lugar! E ninguém terá permissão para conduzi-la quando o Senhor acordar seu povo para ser leal ao que está escrito na bendita Bíblia. Este é o nosso Livro-Estatuto e não reconhecemos nenhum outro senão o que o rei Jesus nos deu. “À lei e ao testemunho: se eles não falarem segundo esta Palavra, é porque não há Luz de Deus neles.
Vocês dizem que estas são questões de pouca importância! Ah, Senhores, os “Covenanters” (3) da Escócia sangraram e morreram por isso que você chama de um assunto sem importância – que só Cristo é o Senhor da Sua Igreja! Você pode chamar isto de uma coisa pequena, se você quiser, mas o ensino que é contrário a isto é a mãe de mil males a essa nossa terra amada, e está causando um prejuízo inconcebível. Oro para que todos os partidos da Igreja de Cristo – Metodista, Presbiteriana, Batista, Episcopal – cheguem a essa resolução, “Vamos voltar a Sagrada Escritura e à chefia única de Cristo, custe o que custar. Se todos nós chegássemos a esse ponto, iríamos ficar mais próximos uns dos outros do que estamos agora, porque nós deveríamos ser todos um em Cristo Jesus nosso Senhor.
Mais uma vez, queridos amigos, chamamos “Jesus, nosso Senhor” para sempre. Quando a verdadeira Igreja toma Jesus Cristo para ser seu Senhor, ela está em um vínculo matrimonial que nunca deve ser dissolvido. E quando alguma alma individual toma Jesus Cristo para ser seu Senhor, ela O toma para O ter e manter, na vida e na morte, no presente e por toda a eternidade! Não é assim? Em seguida, um pensamento muito precioso que surge a partir desta Verdade de Deus é que mesmo que façamos mal o nosso dever como Seus servos, Ele vai cumprir ao máximo Seu caráter como nosso Senhor. Um senhor, você sabe, cuida de seus servos. Ele observa para que eles não morram de fome e ele os protege e, tanto quanto ele pode, prove que eles não necessitem de nenhuma coisa boa. Eu sempre me sinto bastante seguro de que se nós servirmos fielmente a nosso Senhor, Ele vai nos suprir em nossas necessidades e, tendo comida e roupas, devemos estar contentes. Sua promessa para o justo é, “Pão lhe será dado, as Suas águas serão certas. Se você ganhar qualquer coisa além de pão e água, saiba que Ele lhe deu mais do que Ele prometeu – e Ele irá suprir suas necessidades até que você não precise mais delas – e então Ele lhe dará as vestes imaculadas de luz e alegria com as quais você deve servi-Lo para todo o sempre!
Jesus, nosso Senhor” não é como aquele Amalequita que, quando o seu servo egípcio estava doente, deixou-o morrer. Ele não é como alguns mestres a quem nós conhecemos, que, no momento em que um servo fica doente o senhor o despede, não importando se ele morre ou vive. Nosso Senhor e Mestre nunca sobrecarrega Seus servos – Ele nunca os deixa à deriva. Lembre-se do testemunho e petição do salmista – “Ó Deus, Tu me ensinaste desde a minha juventude, e até agora tenho anunciado as Suas obras maravilhosas. Agora também, quando estou velho e de cabelos brancos, ó Deus, não me desampares. Ele não vai desamparar. Ele é um bom Mestre a quem nós servimos – o melhor de todos os mestres – “Jesus, nosso Senhor!”.
III. Agora vou para o terceiro ponto, que é este: ENCONTRAMOS MUITA DOÇURA NAQUELA PEQUENA PALAVRA EM MEIO AO NOSSO TEXTO, “Jesus, nosso Senhor.
É muito doce, porque ela nos ajuda a lembrar do nosso interesse pessoal em Cristo. Meus Irmãos e irmãs, deixem-me lembrá-los de que vocês nunca podem realmente dizer, “Nosso Senhor”, até que vocês tenham primeiro dito: “Meu Senhor”. É uma benção ser capaz de dizer como Davi: “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-Te à minha destra, até que eu ponha os teus inimigos sob os teus pés”. Davi requereu a esse bendito Filho como seu, e como seu Senhor, e ele fez bem em fazê-lo. E é algo muito doce quando algum de nós também é capaz de dizer: “Jesus Cristo, o Filho de Davi, e o Filho de Deus, é o meu Senhor”. É verdadeiramente abençoado em ser capaz de dizer, como Tomé fez, “Meu Senhor e meu Deus”. Cada um de vocês precisa ter a convicção pessoal de que Jesus Cristo é Senhor, para vocês. Eu até gostaria de dizer isso se eu só o pronunciasse tremendo, como fez Maria Madalena quando ela pensava que estava conversando com o jardineiro: “Levaram o meu Senhor, e não sei onde O puseram”. É ainda melhor se pudermos dizer isso como Paulo disse uma vez, “Sim, sem dúvida, e eu conto tudo como perda pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor: pelo qual sofri a perda de todas as coisas e as considero como esterco, para que eu possa ganhar a Cristo, e ser encontrado Nele”. Este título, “Jesus, nosso Senhor”, me lembra, e eu espero que lembre a você também, do tempo em que você disse pela primeira vez:
“Está feito! A grande transação está feita!
Eu sou do meu Senhor e Ele é meu
Ele chamou-me e eu O segui,
Fascinado por confessar a voz Divina”
Há, no entanto, mais doçura ainda do que isto na expressão, “Jesus, nosso Senhor”, pois nos trás para a comunhão com todos os santos. “Nosso Senhor” – então, Davi, Tomé, Maria Madalena e Paulo – temos o mesmo Senhor que vocês tinham! Sim, e parece que estamos nos juntando com toda a boa comunhão dos profetas, toda a companhia dos Apóstolos e o nobre exército de mártires enquanto dizemos, “Jesus, nosso Senhor”. Sim, e toda a grande companhia que serviu seu Mestre aqui com paciência, trabalhou para ele com diligência e agora foi para sua recompensa – nós somos um com todos eles – nós temos “um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. Esse termo “Jesus, nosso Senhor”, parece desenhar um círculo em torno de todos os eleitos de Deus, toda a série dos remidos de toda nação, tribo, língua e povo em todas as terras e de todas as idades! Parece lembrar-me de uma espécie de ligação que existe entre todos os crentes. Assim como os velhos Highlands, quando viram o chefe do clã, sentiram o entusiasmo intenso com a visão dele – pois ele era o grande centro e ponto de encontro para todas as famílias do clã – e com ele liderando eles correram para vitória ou morte com grande entusiasmo, por isso, quando eu olhar você no rosto, Amado, podemos diferir bastante na estação, em capacidade e em mil coisas, mas o seu Senhor é o meu Senhor, então somos irmãos e irmãs Nele e batemos palmas em torno Dele e dizemos: “Jesus, nosso Senhor”. Esse incomparável nome desperta todos nós para o entusiasmo e ousadia santa:
“Jesus, o nome acima de tudo,
No inferno, ou na terra, ou no céu”
Agita nosso sangue como nada mais pode e sentimos uma ligação mais próxima do que nunca por todos os santos. Este único toque de graça fez de todos nós semelhantes. O bendito nome de “Jesus, nosso Senhor” nos ligou, todos juntos, numa única santa fraternidade e nos unimos a cantar:
“Uma família que habita Nele,
Uma Igreja elevada, aos Seus pés”
E, ainda, o exemplo de “Jesus, nosso Senhor” promoverá o amor prático uns aos outros. Ele irá fazer, se isto funcionar corretamente, porque nós devemos nos lembrar do que nosso Senhor fez e procurar seguir o Seu exemplo. Você se lembra o que Ele fez na noite em foi traído? “Ele se levantou da mesa, e pôs de lado Suas vestes e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois disso Ele deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Depois de ter feito isso, Ele lhes disse: “Vocês sabem o que eu fiz por vocês? Vocês me chamam Mestre e Senhor: e dizem bem, porque eu O Sou. Se eu, seu Senhor e Mestre, lavei seus pés, também vocês devem lavar os pés uns dos outros. Porque eu dei a vocês o exemplo, e vocês devem fazer como eu fiz por vocês. Depois de um exemplo como esse, nós devemos estar dispostos a fazer qualquer coisa um pelo outro! Devemos nos sentir como se “Jesus, nosso Senhor” tivesse nos constrangido a fazer qualquer sacrifício e a tomar o menor e mais humilde lugar, enquanto poderíamos estar a serviço de qualquer outra pessoa que também O chama de Senhor!
E, irmãos e irmãs, que golpe mortal esse título deve tratar com todo o orgulho! Diótrefes ainda gosta de ter a preeminência, mas será que ele iria adorar isso se ele realmente conhecesse “Jesus nosso Senhor”, como Ele se revelou em Sua Palavra? Este irmão quer que mais respeito seja mostrado a ele. Aquele irmão deve ter algum cargo dado a ele e essa irmã precisa ser realizada em sua autoestima ou ela não será feliz. Ah, sim, e você se lembra de que havia dois apóstolos cuja mãe pediu que eles pudessem assentar-se, um à direita e outro à esquerda de Cristo em Seu Reino! E quando os outros Apóstolos indignaram-se contra os dois irmãos, nosso Senhor lhes disse: “Vocês sabem que os príncipes dos gentios exercem domínio sobre eles, e eles que são grandes, exercem autoridade sobre eles. Mas não deve ser assim entre vocês; mas aquele que quiser ser grande entre vocês, seja ele o ministro (isto é, seu servo), e quem quiser ser o primeiro entre vocês, seja seu servo; assim como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e dar a Sua vida em resgate de muitos”. Enquanto nos recordamos deste ato e destas palavras, nós clamamos, “Diminua, orgulho! Você não é senhor! Para baixo, ambição! Você não deve desejar governar! Diminua, todo pensamento orgulhoso, que só “Jesus, nosso Senhor” possa governar absolutamente sobre nós!
Agora, queridos amigos, vocês estão apreciando a doçura deste título? Vocês sentem como se quisessem rolar essa palavra pela língua como um bocado de doce? Então eu não vou detê-los mais, exceto para dizer apenas duas coisas. Primeiro, este título: “Jesus, nosso Senhor”, nos dá grande confiança em nosso culto. Como uma Igreja Cristã, estamos todos trabalhando para Jesus. Espero poder dizer que os membros desta Igreja estão todos sedentos pela glória de Deus. Então, vamos lembrar o que nosso Senhor disse a Seus discípulos antes de voltar ao Pai, “Todo o poder é dado a Mim no céu e na terra. Vão, portanto, e ensinem todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo: ensinando-os a observar todas as coisas que Eu vos tenho mandado; e, eis que Estou com vocês todos os dias, até o fim do mundo”. Marchem, então, vocês, exército do Deus vivo, pois Cristo é o seu Senhor e Ele deu a vocês sua comissão – e é Seu poder que vai fazer a sua marcha ser vitoriosa! Será que algum homem pensa em virar as costas no dia da batalha quando ele tem um capitão como este para guiá-lo? Será que alguém sonha com a derrota, ou fala de uma maneira tímida sobre qual será certamente o problema do conflito? “Jesus, nosso Senhor” é o Criador do mundo – Aquele que pode abalar o Céu, e a terra, e o Inferno com Sua palavra! Então, em Seu nome, vamos levantar nossas bandeiras e marchar, confiantes na vitória!
O pensamento com o qual eu concluo é um que deve render conforto considerável para muitos de vocês. Nossa comum alegria em “Jesus, nosso Senhor” torna-se uma evidência da Graça. Você já sentiu uma doçura graciosa penetrando sua alma, porque Jesus Cristo é o Senhor? Então ouça estas palavras do Apóstolo Paulo – “Portanto, vos quero fazer compreender que nenhum homem falando pelo Espírito de Deus chama Jesus de maldito: e que ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, se não for pelo Espírito Santo”. Qualquer um pode repetir essas palavras, mas você não pode dizê-las corretamente – como eu espero que você tenha as dito – com uma doçura inefável invadindo sua alma enquanto você as pronuncia – “mas pelo Espírito Santo”. Vai, portanto, você cujo coração saltou ao som dessas três palavras, e diga: “Eu tenho o testemunho do Espírito Santo dentro do meu espírito de que eu sou uma alma salva, ou então eu nunca teria dito, no meu íntimo: “Jesus, nosso Senhor”. Irmão ou Irmã, aqui está um sinal que não o guiará incorretamente, pois você tem o Espírito Santo, através do Apóstolo Paulo, para lhe dizer que você não poderia dizer isso no mais profundo de sua alma se não fosse pelo Espírito Santo! Venha, então, Amado, e adore a “Jesus, nosso Senhor”. Continue a adorá-Lo! Continue a amá-Lo! Continue a confiar Nele! Continue a servi-Lo! Continue a exaltá-Lo entre os filhos dos homens!
Mas para vocês que não O amam e que não aceitaram Jesus como seu Senhor, eu só posso dizer, nas palavras do próprio Deus, “Beijai o Filho, para que não Se ire, e pereçais no caminho, pois sua ira se acende num instante. Bem-aventurados são todos os que colocam sua confiança Nele”. E este outro versículo que é, na minha opinião, o mais terrível em todo o Livro de Deus, ainda que foi proferido por alguém que amava as almas dos homens além de toda concepção, “Se alguém não ama ao Senhor Jesus Cristo, seja anátema”, isto é, “seja anátema na vinda de Cristo”. Deus o salve desta desgraça terrível, pelo amor de Jesus Cristo! Amém.
Charles Haddon Spurgeon – Sermão pregado na noite de Domingo, 01 de abril de 1877 no Tabernáculo Metropolitano, Newington.
[…]
Notas:
(1) George Herbert (1593–1633) foi um poeta, orador e sacerdote anglo-galês (Wikipédia).
(2) Em relação a Igreja da Inglaterra, que por ser a Igreja oficial do Estado, várias leis da mesma eram aprovadas pelo Parlamento (Nota do Revisor).
(3) Covenanters foram grupos religiosos protestantes presbiterianos e puritanos da Escócia que se juntaram em uma Solente Liga para resistir contra os católicos nos anos de 1550, e depois, contra a uniformização do culto na Igreja da Escócia pelo Rei Carlos I e o Arcebispo Laud antes da Guerra Civil de 1643; tiveram papel destacados na política e na formação da Confissão de Fé de Westminster (Nota do Revisor e Wikipédia).