Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos (Lc 16.25).
Outro dia, um homem veio ao meu encontro e disse: “Gosto das suas pregações. Você não prega sobre o inferno, e acho que você também não acredita no inferno“. Agora, eu não quero que alguém se levante no Julgamento e diga que eu não era um fiel pregador da Palavra de Deus. É minha missão pregar a palavra de Deus assim como Ele me entregou; eu não tenho o direito de escolher um texto aqui ou ali, e dizer, “Eu não acredito nisso”. Se eu jogar fora um trecho da Bíblia, devo jogar fora a Bíblia inteira, pois na mesma Bíblia eu leio de recompensas e punições, céu e inferno.
Ninguém jamais descreveu o inferno como o Filho de Deus. Ninguém poderia fazer isso, pois somente Ele sabia como tudo aconteceria. Ele não guardou para si essa doutrina da semeadura e da colheita, mas falou sobre ela claramente; a pregou, também, com puro amor, assim como uma mãe alertaria seu filho do final de uma vida de pecados.
O Espírito de Deus nos conta que levamos nossa memória conosco para o outro mundo. Existem muitas coisas que gostaríamos de esquecer. Eu ouvi dizer que o Sr. Cough disse que gostaria de dar a sua mão direita se ele pudesse esquecer como maltratou a sua mãe. Eu acredito que o verme que não morre é a nossa memória. Nós dizemos agora que esquecemos, e pensamos que esquecemos, mas está chegando a hora quando lembraremos e não conseguiremos esquecer. Nós falamos sobre as anotações que os anjos fazem da nossa vida. Deus nos faz recordar de todas as nossas lembranças.
Nós não precisaremos de ninguém para nos condenar no tribunal de Deus: nossa própria consciência surgirá como testemunha contra nós. Deus não nos condenará no seu tribunal; nós mesmos nos condenaremos. A memória é um oficial de Deus, e quando ele tocar nessas fontes secretas e disser, “Filho, filha, relembre” – então passo a passo virão a nossa frente, numa longa procissão, todos os pecados que cometemos em nossas vidas.
Já estive duas vezes nas garras da morte. Na primeira vez eu estava me afogando, prestes a afundar, quando fui resgatado. Em um piscar de olhos, todas as coisas que eu disse, fiz ou pensei passaram pela minha mente. Eu não entendo como todas as coisas na vida de um homem podem ser acumuladas em sua lembrança em um instante de tempo, mas tudo isso passou na minha mente de uma vez só. Outra vez me pegaram na ponte da rua Clark, e pensei que estava morrendo. Então a memória parecia trazer tudo de volta novamente. É assim para que todas as coisas que pensamos que esquecemos voltem aos poucos. É só uma questão de tempo. Ouviremos as palavras, “Filho, relembre”, e é muito melhor lembrarmos de nossos pecados agora, e ser salvo deles, do que adiar o arrependimento até que seja tarde demais para fazer algo de bom.
Os cientistas dizem que todos os nossos pensamentos voltam à mente mais cedo ou mais tarde. Ouvi de uma empregada cujo senhor costumava ler em hebraico no seu ouvido, e após algum tempo, quando estava com febre, ela conseguia falar hebraico nessa hora.
Você pensa que Caim esqueceu o rosto do seu irmão assassinado, que ele matou seiscentos anos atrás? Você pensa que Judas esqueceu o beijo com o qual traiu seu Mestre, ou do olhar que o Mestre lhe deu quando Ele disse, “Traís o Filho do homem com um beijo?”. Você pensa que os antediluvianos esqueceram a Arca e a inundação que veio e acabou com todos eles?
Meus amigos, é uma boa coisa ser avisado a tempo. Satanás disse a Eva que ela certamente não iria morrer, e existem homens e mulheres agora que pensam que todas as almas serão salvas, apesar de todos os seus pecados.
Você acha que aqueles antediluvianos que pereceram no dia de Noé – homens tão maus e pecadores para o mundo – você acha que Deus levou aqueles homens direto para o céu, deixando Noé, o único homem justo, para passar pelo dilúvio? Você acha que quando o julgamento veio sobre Sodoma os ímpios foram levados até a presença de Deus e o único justo ficou para sofrer?
Não haverá um amoroso e terno Jesus para levar e oferecer salvação a vocês lá – nem amor de esposa ou de mãe orando por vocês lá. Muitos nesse mundo perdido dariam milhões, se tivessem dinheiro, se tivessem suas mães para orarem por eles para tirarem daquele lugar, mas será muito tarde. Eles rejeitaram a salvação até o tempo que Deus disse, “Corte-os fora; o dia da misericórdia acabou”. Você ri da Bíblia; mas quantos que estão nesse mundo perdido dariam incontáveis tesouros se eles tivessem a abençoada Bíblia lá! Você pode zombar dos pastores, mas saiba que não haverá pregação do Evangelho lá. Aqui eles são mensageiros de Deus para você – amigos queridos que cuidam da sua alma. Você pode ter amigos orando pela sua salvação hoje; mas lembre-se, você não terá nenhum nesse mundo perdido. Não haverá ninguém para vir botar a mão no seu ombro, chorar por você e convidar a vir a Cristo.
Existem pessoas que zombam desses encontros de avivamentos, mas lembre-se, não haverá avivamentos no inferno.
Havia um homem em um manicômio que dizia repetidamente para si mesmo com uma voz pavorosa, “Se eu somente tivesse”. Ele foi encarregado de controlar uma ponte levadiça de trem, e recebeu ordens para mantê-la fechada até a passagem de um trem expresso extra; mas um amigo surgiu com um navio, e persuadiu-o a abrir a ponte só para ele, e enquanto ela estava aberta, o trem surgiu fazendo o maior barulho, e saltou para a destruição. Muitos foram mortos, e o pobre controlador de pontes se enlouqueceu por causa do resultado de sua negligência no dever – “Se eu somente tivesse”. Um bom homem estava passando um dia em um salão e um jovem estava saindo, e pensando em zombar do homem, gritou, “Diácono, qual é a distância daqui para o inferno?” O diácono não deu resposta, mas após andar alguns metros, virou-se para olhar o escarnecedor, e viu que seu cavalo o tinha jogado ao chão e ele tinha quebrado seu pescoço. Eu digo a vocês, meus amigos, eu preferiria dar a mão direita a brincar com as coisas eternas.
Hoje à noite você pode ser salvo. Estamos tentando ganhar você para Cristo, e se sair deste prédio e for para o inferno, você se lembrará dos encontros que tivemos aqui. Você se lembrará da expressão desses pastores, da expressão dessas pessoas, e como parecia algumas vezes que estávamos na própria presença de Deus. Nesse mundo perdido você não ouvirá aquele belo hino, “Por onde Jesus de Nazaré passava”. Ele já terá passado. Não haverá Jesus passando por esse caminho. Não haverá músicas doces sobre Sião lá. Também não haverá crianças pequenas orando pelos seus pais impenitentes. Hoje é um dia de graça e de misericórdia! Deus está chamando o mundo para voltar-se para Ele! Ele diz, “Não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva. Convertei-vos, convertei-vos dos vossos maus caminhos; pois, por que razão morrereis?”.
Oh, se você rejeitar essa salvação, como irá escapar? Que esperança há? Que suas memórias estejam totalmente despertas hoje, e você se lembre que Cristo está aqui! Ele está nesta assembleia, oferecendo salvação a todas as almas! Ele não quer que você pereça, mas que se volte para Ele e viva!
Quando eu estava na Exposição de Paris em 1867, notei uma pequena pintura a óleo, cerca de 50 centímetros quadrados, e vi uma cara que foi a mais horrorosa que já tinha visto. Dizia que esta pintura tinha setecentos anos de idade. No papel abaixo da pintura diziam essas palavras, “Semeando o joio”. A cara parecia mais de um demônio do que de um homem, e conforme ele semeava esses joios, surgiam cobras e outros répteis. Eles estavam subindo no seu corpo, e ao seu redor havia uma floresta com lobos e animais à espreita deles. Tenho visto essa tela muitas vezes desde então. Ah! O tempo da colheita está chegando. Se você semear na carne, vai colher corrupção. Se você semear ao vento, vai colher tempestades. Deus quer que você venha até Ele e receba a salvação como presente: você pode decidir o seu destino hoje se quiser. Céu e inferno estão diante deste auditório, e você é chamado a escolher. Qual será a sua escolha? Se for a Cristo, ele receberá você em seus braços; se negá-lo, ele também negará você.
Agora, meus amigos, será que Cristo desejará a sua salvação mais do que agora? Ele terá mais poder do que agora? Por que não decidir ser salvo enquanto a misericórdia é oferecida?
Lembro uns anos atrás, enquanto o Espírito de Deus estava trabalhando na minha igreja, terminei o culto uma noite pedindo a quem gostaria de ser cristão que ficasse de pé, e para a minha alegria, um homem que estava ansioso por um tempo se levantou. Fui até ele, peguei-o pela mão e a balancei, e disse:
— “Estou feliz por ver você de pé, você está determinado a vir ao Senhor agora, não está?”.
— “Sim”, ele disse, “Eu acho. Quer dizer, só existe uma coisa no meu caminho”.
— “E o que é?”, disse eu.
— “Bem”, o homem disse, “Falta-me coragem moral. Confesso a você que se esse homem [um amigo dele] estivesse aqui hoje à noite, eu não teria me levantado. Ele riria de mim se soubesse disso, e não acredito que eu tenha coragem de contar a ele”.
— “Mas”, eu disse, “Se for para vir, você tem que vir para o Senhor com coragem”.
Enquanto conversava com ele, ele tremia da cabeça aos pés, e creio que o Espírito Santo estava tocando no seu coração. Ele voltou na próxima noite, e na próxima, e na próxima; o Espírito de Deus lutou com ele por semanas; parecia como se ele fosse até o limiar dos céus e estivesse quase pisando no mundo abençoado. Eu nunca consegui encontrar razões para a sua hesitação, exceto o temor das zombarias que os seus amigos poderiam fazer.
Na última vez o Espírito Santo parecia deixá-lo; a convicção tinha ido embora. Seis meses depois, recebi uma mensagem dele falando que estava doente e queria me ver. Fui até ele com grande pressa. Ele estava muito doente, e pensava que estava morrendo. Ele me perguntou se ainda havia esperança. Sim, disse a ele, Deus mandou Cristo para salvá-lo; e orei com ele.
Contra todas as expectativas, ele se recuperou. Um dia eu desci para vê-lo. Era um dia brilhante, bonito, e ele estava sentado na frente de sua casa.
— “Você está vindo para Deus agora, não está? Logo você estará bem para voltar aos cultos novamente”.
— “Senhor Moody”, ele disse, “Já tomei a decisão de ser cristão. Estou completamente decidido, mas eu não quero ser cristão agora. Eu vou a Michigan comprar uma fazenda e me estabelecer, e então eu me torno um cristão”.
— “Mas você não sabe se irá se recuperar”.
— “Oh”, disse ele”, Eu estarei bom daqui a poucos dias. Eu tenho um novo sopro de vida”.
Conversei com ele e tentei de todas as maneiras convencê-lo a tomar uma posição. Por fim, ele disse:
— “Sr. Moody, eu não posso ser cristão em Chicago. Quando sair de Chicago, e for para Michigan, e ficar longe de meus amigos e conhecidos que riem de mim, estarei pronto para ir a Cristo”.
— “Se Deus não tem graça suficiente para salvá-lo em Chicago, ele não terá em Michigan”, eu respondi.
Ele ficou um pouco irritado com a resposta e disse, “Sr. Moody, eu correrei esse risco”, e então o deixei.
Eu bem me lembro do dia da semana, uma quinta-feira, ao meio dia, e só uma semana depois desse dia, quando fui chamado pela sua esposa para ir imediatamente para lá. Corri o mais rápido que pude. Sua pobre esposa me encontrou na porta, e eu perguntei qual era o problema.
— “Meu marido”, disse ela, “teve uma recaída; eu acabei de receber um grupo de médicos aqui, e eles disseram que ele vai morrer”.
— “Ele quer me ver?”, perguntei.
— “Não”.
— Então por que me chamou?”.
— “Não suporto ver meu marido morrer nesse terrível estado mental”.
— “O que ele disse?”, quis saber.
— “Ele disse que sua condenação está selada, e ele estará no inferno em pouco tempo”.
Entrei no quarto, e ele imediatamente fixou seus olhos em mim. Chamei-o pelo nome, mas ele não me respondeu. Fui até ao pé da cama, e olhei a sua cara e disse, “Você não quer falar comigo?”, e ele finalmente fixou aquele terrível olhar mortal sobre mim e disse:
— “Sr. Moody, você não precisa falar comigo novamente. Já é tarde. Você pode falar com minha esposa e meus filhos, orar por eles, mas meu coração está tão duro como aquele fogão ali. Minha condenação está selada, e eu estarei no inferno em pouco tempo”.
Tentei falar do amor de Jesus e o perdão de Deus, mas ele disse, “Sr. Moody, não há mais esperança para mim”. E quando me ajoelhei, ele disse, “Você não precisa orar por mim. Minha esposa em breve será viúva e minhas crianças não terão um pai; eles precisam de suas orações, não eu”.
Tentei orar, mas parecia que minhas orações não subiam, como se o céu sobre mim fosse de bronze. No dia seguinte, sua esposa me disse que ele aguentou até o pôr do sol, e do meio-dia até a hora de sua morte, tudo o que se ouvia era, “A ceifa é passada, o verão é findado, e eu não estou salvo”. Após aguentar uma hora, ele diria novamente aquelas terríveis palavras, e enquanto ele estava morrendo, sua esposa notou que havia um tremor em seus lábios, e que ele estava tentando dizer algo, e quando ela se curvou para ouvir melhor, ela o ouviu murmurar, “A ceifa é passada, o verão é findado, e eu não estou salvo”. Ele viveu uma vida sem Cristo e teve uma morte sem Cristo; nós o envolvemos em uma mortalha sem Cristo e o conduzimos a uma sepultura sem Cristo.
Há alguns aqui que estão quase sendo persuadidos a serem cristãos? Siga o meu conselho e não deixe que nada afaste você. Voe aos braços de Jesus nesta hora. Você pode ser salvo se quiser.
Dwight Lyman Moody – Fonte: “Dwight L. Moody: His Life, His Work, His Words”, pp. 498-506.