Errar é humano, perdoar é divino (I Sm 13:8-14; Lc 22:31-34). Gordon contesta este dizer, dizendo que depende do homem, pois o chefe federal da nova raça humana nunca peca, nunca erra. E é prerrogativa d’Ele perdoar. E, de fato, os homens feitos na imagem de Deus, foram feitos não para errar, mas, sim, para glorificar o Seu nome, e que o verdadeiro Homem, mostrando as glórias do Senhor numa vida renascida, também tem o espírito de perdão. Ao olharmos pelas Escrituras encontramos homens que erraram. Há no Museu de Londres (MadameTussaud’s Museum) uma galeria que tem réplicas dos criminosos de todos os tempos da Inglaterra. Ao olharmos nas Escrituras nós encontramos muitos errantes.
Talvez ao olharmos, olhamos como se fosse num espelho e vemos o nosso próprio rosto. Há uns que erram sob forte tentação do diabo. E assim temos o caso de Pedro. “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou…”. Fortes tentações… Estamos rodeados de fortes tentações nestes dias. Talvez, como nunca o povo de Deus está sujeito a pressões de todo o lado. Há em nossa natureza, inclinada para o mal ao redor de nós, atrações de todo o tipo. E o inimigo desejando levar-nos à queda. Pedro foi sujeito sob fortes tentações. Nós também somos bem avisados quanto ao perigo de cair. E olhando nas ocasiões em que os homens da Bíblia erraram, admiramos pelo fato de terem errado tanto. Olhando para nossa vida também ficamos admirados de como poderíamos ter caído naquela situação. Pedro foi avisado desta maneira, ainda objeto de uma oração especial. “Roguei por ti para que a tua fé não desfaleça”. Avisado e ainda caindo. Fomos nós todos avisados da capacidade que temos de errar. As Escrituras diariamente lidas por nós nos avisam como nós deveríamos orar . E Pedro foi levado para o jardim e incitado a orar. E falhou mesmo na oração. E Jesus disse: “Simão, Simão dormes tão depressa assim?”. E ao lermos as Sagradas Escrituras, reconhecemos que é na hora da oração que podemos ser libertos da tentação, e assim evitarmos a queda. Porém, falhamos na oração, como Pedro também falhou. A boa vontade era grande. Vemos a sua boa vontade na ação para com o servo do sumo sacerdote. Quanto ânimo ele tinha em defender seu Senhor, mas ele mesmo estava precisando que alguém o defendesse. Ele estava muito confiado em si mesmo, muito cheio de si, muito confiante demais. Quando somos rodeados de fortes tentações é um grande perigo termos confiança demais em nós mesmos. “Aquele que está em pé tome cuidado para que não caia”.
Irmãos, nós que andamos como membros de igrejas, quantas vezes achamos que não é possível cair neste ou naquele erro. Vamos nos lembrar que as Escrituras estão cheias de exemplos de homens que nunca deveriam ter caído, mas caíram. E se nós olharmos para trás em nossa vida temos que admitir que a nossa vida tem sido faltosa. E muitas vezes é devido a fortes tentações. As tentações que nos rodeiam hoje em dia são tentações para erros de doutrina. Tentações para cairmos nos caminhos do mundo. Tentações que vêm para dentro da nossa própria má natureza. Vamos atentar para os exemplos das Escrituras, a fim de que não venhamos a cair em tentação. “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo”. Ele porém respondeu: “Senhor, eu estou pronto” Será que este foi o erro dele? “Eu estou pronto e não preciso de mais nada”. Justamente nós que somos membros de igrejas, batizados, assentando-nos na ceia do Senhor, temos a inclinação a dizer: “Estou pronto, já fiz tudo, não sou capaz de cair mais”.
As Escrituras falam-nos de um homem chamado Saulo. Nós conhecemos muito bem a vida deste homem. Nascido em Tarso, cidade desenvolvida, rodeado desde o berço de privilégios, instruído, provavelmente tendo um pai bem severo, este homem, Saulo, era um homem que poderia ter andado no caminho do Senhor. Ele mesmo, falando de si, dizia que era perfeito quanto à lei, nada devia. Saulo, um bom homem, convencido de si mesmo, absolutamente certo de que o caminho em que ele andava era o caminho do Senhor. Bem educado nas coisas divinas, conhecendo as Escrituras de cor, lendo-as diariamente, procurando praticá-las, ele era tão seguro de si mesmo que achava que era impossível manter erro na sua vida. Saulo era diferente de Pedro, que caiu rodeado por fortes tentações. Saulo caiu em ignorância. Saulo caiu porque não sabia que estava em erro. E este homem, Saulo, pensando que estava servindo ao Senhor, estava destruindo o trabalho de Deus. Quão possível para nós, sendo membros de igrejas, sermos tão convencidos de nós mesmos, do nosso conhecimento das Escrituras, da nossa formação cristã, da nossa capacidade como pregadores, da nossa comunhão dentro da igreja, e termos um pensamento que é impossível estar em erro, porém, realmente como Saulo, destruindo o trabalho do Senhor. Quão bom foi para Saulo quando ele viu o Senhor face a face e encontrou-se, não consigo, mas com o seu Salvador.
O motivo de lermos as Escrituras, de meditar nas Escrituras, de decorar as Escrituras é de nos encontrarmos face a face com o Senhor das Escrituras, e chegarmos ao ponto de sujeitar-nos a Ele. Saulo teve que admitir o seu erro. Irmãos e irmãs, quando erramos é bom reconhecermos o erro e voltar atrás. Pedro arrependeu-se. Saulo mudou de vida. Pedro viu o olhar do seu Salvador. Saulo viu a luz e a glória do seu Senhor. E em ambos os casos houve uma modificação radical. Se formos errantes como todos nós somos, temos que novamente olhar para Cristo. Conhecer as Escrituras, conhecê-las de cor, se não formos obedientes ao Espírito das Escrituras, nós estaremos destruindo o trabalho do Senhor, como estava Saulo.
Olhemos agora para 1 Samuel capítulo 13:12. Pedro rodeado de tentações, Saulo pecando em ignorância. Saul forçado pelas circunstâncias. Quantas vezes as circunstâncias nos levam a erro, a situação financeira, familiar? Quantas vezes a nossa posição na igreja nos leva a errar. Forçado pelas circunstâncias ele fez o que para ele no momento era uma ação certa. Estava sacrificando, oferecendo ao Senhor, e se teria conversado com ele na hora ele teria argumentado muito bem quanto à sua ação. As circunstâncias me forçam a fazer o que estou fazendo. Mas com isso ele perdeu seu reino. E quantas vezes nós cedemos à força de circunstâncias e caímos em erro. Pedro, coitado de Pedro, rodeado de tentações.
Olhando para Mateus capítulo 4 nós encontramos um outro Homem. Este, levado pelo Espírito ao deserto com um propósito de ser tentado pelo Diabo. Também perfeitamente Homem, rodeado de tentações quais talvez nenhum de nós temos sentido. E resistiu. Pedro não precisava cair. Não era o destino dele cair. Pedro tinha o mesmo auxílio que nós temos: o auxílio daquele que já também foi rodeado de tentação, e oferece a nós socorro adequado em tempo oportuno. Saulo pecou em ignorância, porque não conhecia o Salvador. Quão diferente o nosso Salvador que vivia no âmbito do amor e comunhão do Pai. Ele conhecia perfeitamente a vontade de Deus. “Eis-me aqui no rolo do Livro está escrito de mim. Deleito-me em cumprir a tua vontade, ó Deus”. Ele não podia errar por ignorância, pois estava em comunhão perfeita com o Pai. Irmãos, estando em comunhão com o Pai e com seu Filho, não iremos cair por ignorância. Quantas vezes caímos perfeitamente convencidos de que estamos certos, mas é uma falta de comunhão com Deus e com o seu Filho Jesus Cristo.
E aqui temos um que foi rodeado de circunstâncias adversas. O que nós diríamos de Daniel e seus amigos, por exemplo. Também não eram rodeados de circunstâncias adversas? Era fácil para aqueles três moços no meio de um mundo completamente hostil, orar ou deixar de adorar a um deus falso? As circunstâncias os levariam ao erro, porém resistiram. E ao resistir um viu a boca dos leões fechada; os outros sentiram-se acompanhados do Filho do Homem. Irmãos e irmãs, as circunstâncias de fato hoje em dia são adversas. E quantas vezes o que sentimos ao redor de nós é para nos levar ao erro, mas graças a Deus, o Deus de Daniel, de Sadraque, Mesaque e Abede-nego, é nosso Deus.
E ainda mais temos a companhia permanente do Santo Espírito de Deus em nosso coração. 2 Samuel 12:1-7: Davi, o errante. Davi errando por causa da sua preguiça. Davi, que deveria ter estado à frente da batalha, lutando, estava em casa descansando. Quantos trabalham do nascer até o pôr-do-sol e chegando em casa tem tantos deveres. Hoje trabalhamos com horas marcadas, temos tempo, e o tempo que Davi tinha, quantas vezes ele usava para compor Salmos, para cantar na sua harpa, para dar bons conselhos aos outros, para visitar, passear, mas um dia Davi resolveu descansar e o seu descanso o levou a errar. Vamos tomar cuidado com as nossas horas de folga. Não eram somente as horas de folga que o levaram a errar. Foi o seu olhar. De ter ele olhado não era culpado. A culpa era da mulher. Ela devia ter tomado mais cuidado. Mas uma vez olhando, ele devia ter tomado uma ação definida para evitar a tentação. Não tomou! Folgado e ainda olhando erradamente. Nós devíamos ter cuidado com o nosso olhar. O nosso olhar hoje em dia nos leva a grandes perigos. E se não tomarmos cuidado havemos de cair no mesmo erro de Davi. O erro do homem que descansa.
Em 2 Samuel 14:33, o rei beijou a Absalão. Mais um erro de Davi. O erro de um amor mal aplicado. E quantas vezes hoje em dia erramos nas igrejas usando a palavra “amor” como desculpa do nosso erro. E olhando na vida de Davi reconhecemos que este era um homem muito amoroso, seus Salmos cheios de amor. Ao lermos seus Salmos que abrem o nosso coração para Deus reconhecemos que este era um homem que verdadeiramente amava. Mas nesta ocasião foi um amor falso. Um amor que realmente levou seu filho à perdição e trouxe para dentro de sua casa tristeza tremenda. Vamos tomar cuidado com os nossos amores, especialmente no sentido de desculpar as nossas ações com a palavra “amor”. Especialmente na disciplina da Igreja, reconhecemos que há um amor verdadeiro e um amor falso. E o amor verdadeiro é o amor de Deus que Ele mostrou em Cristo Jesus. E o amor errado é aquele amor que desobedece aos mandos das Escrituras quanto à disciplina em nome de “amor”. E assim, hoje, pensando no fato de que nós somos capazes de errar, vamos lembrar que há recursos.
Deus é amor, e o seu amor levou o seu Filho à cruz. Não houve falta de disciplina. A disciplina era nossa, era para nós, mas caiu sobre o seu Filho. Toda a ira de Deus foi despejada ali no Calvário. Deus amou ao mundo e deu seu Filho. Irmãos e irmãs, quando pensamos na hora da disciplina, no amor de Deus, reconhecemos que a disciplina foi sempre a prerrogativa de Deus, e Ele explica na sua Palavra como ela deve ser usada. Não intento hoje dar instrução a esse respeito. Quero apenas despertar-nos quanto ao perigo de errar usando a palavra “amor” como desculpa.
E então, ao terminar esta curta meditação sobre a Palavra de Deus, voltemos a pensar: um homem, rodeado de forte tentação, peca. Mas Jesus, rodeado de forte tentação resiste, e por nós vence uma vez para sempre e é capaz de nos socorrer em tempo de grande necessidade. Vamos nos lembrar da possibilidade de estarmos errados. Eu quero repetir este fato: é possível eu ser errado. É possível. É possível você ser errado. Paulo tinha absoluta certeza de que não estava errado, e baseava sua certeza nas Sagradas Escrituras. Mas estava errado. Ele não estava vivendo em contato com o Salvador. É possível errar em ignorância. Vamos lembrar que é possível errar por causa das circunstâncias. E eu creio que a maioria de nós tem circunstâncias adversas nesses dias. Mas vamos nos lembrar de que as Escrituras estão cheias de homens que venceram as circunstâncias. É possível errar nas horas de folga, e é possível usar as horas de folga para ricas bênçãos. Jesus chamou os seus discípulos “Vinde à parte, descansai um pouco”. Embora logo vemos que em vez de descansarem, eles foram levados para distribuir pão à multidão. As suas horas de folga eram para distribuir pão para cinco mil pessoas. Horas de folga bem abençoadas. É possível errar usando a palavra “amor”. Mas o amor de Deus não erra e o amor de Deus levou seu Filho ao Calvário por amor de nós. E se dentro das igrejas houver disciplina por causa do erro a que todos nós somos sujeitos, este mesmo amor de Deus é poder sobre nosso coração, sendo corretos, obedientes, mas tomados de absoluto amor. Amém.
Leonardo Nye – Conferências Anuais de Jardim Germânia (SP) – Outubro de 1974.