Uma característica notável que identificará uma assembleia biblicamente reunida é que os papéis estabelecidos na Palavra de Deus para os irmãos e as irmãs serão colocados em prática. Apesar de isso ser uma prática comum na Igreja, as Escrituras não indicam que exista uma única posição na casa de Deus para homens e mulheres. Em 1 Timóteo 2:8-16 vemos que na cristandade os irmãos e as irmãs têm papéis distintos e complementares.
Ali é dito: “Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda. Que do mesmo modo as mulheres se ataviem em traje honesto, com pudor e modéstia, não com tranças, ou com ouro, ou pérolas, ou vestidos preciosos, mas (como convém a mulheres que fazem profissão de servir a Deus) com boas obras. A mulher aprenda em silêncio com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação”.
A epístola de Paulo a Timóteo enxerga a Igreja como a “casa de Deus” (1 Tm 3:15). Esse aspecto da Igreja considera os santos em sua responsabilidade pública perante o mundo como testemunhas de Deus como um Deus Salvador (1 Tm 1:1; 2:3). Como vasos de testemunho de Deus, os cristãos devem exibir o verdadeiro caráter de Deus perante o mundo, portanto santidade e ordem devem ser visíveis em suas vidas. O mundo deveria poder observar a casa de Deus e conhecer a Deus. O grande propósito da epístola, portanto, é instruir a ordem adequada à casa de Deus.
Essa ordem é para ser vista não unicamente quando os santos estão juntos nas reuniões, mas em todo o tempo, seja em casa, no trabalho, etc. Isso porque nós somos constituídos a casa de Deus o tempo todo (Hb 3:6; 1 Pe 2:5). Isso nos ajuda a entender o porquê a passagem citada em 1 Timóteo 2, concernente às irmãs, não deveria ter sido traduzida “silêncio” como está na versão King James, mas “quietude” (versículos 11-12). Se fosse silêncio, então Paulo estaria nos dizendo que as irmãs não deveriam falar em lugar nenhum!
Um estudo cuidadoso das Escrituras indicará que o homem tem a responsabilidade pública do testemunho verbal na casa de Deus, e a mulher de dar o suporte a esse testemunho por sua conduta e comportamento. Por isso, toda ação pública na casa de Deus deve ser exercida pelos irmãos.
Quanto à esfera do sacerdócio, as irmãs não são orientadas a exercerem o seu sacerdócio (de forma audível) publicamente, como são os irmãos. Paulo diz: ” Quero, pois, que os homens orem em todo o lugar” (1 Tm 2:8) – Isso incluiria a esfera pública. É significativo que isso não seja dito com relação às mulheres.
A passagem em 1 Coríntios 11 indica que as irmãs devem orar e profetizar (verso 5), mas ali está falando fora das reuniões de assembleia. Isto é indicado pelo fato de as instruções para conduta quando os santos “se reúnem em assembleia” começar nessa epístola no versículo 17 do capítulo 11 e continuar até o fim do capítulo 14. O versículo17 marca o início de uma nova seção da epístola que trata sobre questões relacionadas aos santos quando estão em assembleia. Irmãs são mencionadas “orando e profetizando” antes de o apóstolo falar da esfera da assembleia.
Com relação à esfera de ministério da Palavra na assembleia, 1 Coríntios 14:29 diz: “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”. Perceba: o texto não diz “E falem duas ou três profetizas…”. (ex: 2 Cr 34:22; Ap 2:20). E então, nos versículos 34-35, Paulo diz definitivamente “As vossas mulheres estejam caladas nas igrejas; porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei”. A palavra “silêncio” aqui é diferente da palavra usada em 1 Timóteo 2:11-12, e está adequadamente traduzida como silêncio. A esfera da qual Paulo está falando em 1 Coríntios 14 é da reunião pública da assembleia e não sobre a conduta geral na casa de Deus como em 1 Timóteo.
Parece que o apóstolo previa que pessoas iriam querer desafiar isto, então ele acrescenta: “Se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (verso 37). Além disso, no início da carta, Paulo disse que as instruções na epístola eram para “… com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo…”. (1 Cor 1:2). Assim, essas coisas foram escritas para todas as assembleias cristãs, não apenas para a assembleia em Corinto.
Quanto à esfera da administração de assembleia, a Escritura diz: “Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto” (At 15: 6). Não há menção de irmãs e jovens nestas reuniões. 1 Timóteo 3:2 confirma isso, afirmando que um bispo era para ser “marido de uma só mulher”, da mesma forma, um diácono (1 Tm 3: 11-12). Uma vez que apenas um homem poderia ser um “marido”, é claro que este trabalho não é para ser exercida por irmãs.
O Ministério das Irmãs
Embora as irmãs não devam estar envolvidas em ação pública e assuntos administrativos na casa de Deus, há muito que podem fazer. O serviço das mulheres é importante e de grande valor. As coisas que são destinadas a elas para serem feitas na casa de Deus, são principalmente as coisas que os irmãos não poderiam fazer. Elas podem ajudar em situações que seriam inapropriadas para um irmão.
Em primeiro lugar, a Escritura diz: “Quero, pois, que as que são moças se casem, gerem filhos, governem a casa, e não deem ocasião ao adversário de maldizer” (1 Tm 5:14). Criar uma família para a glória de Deus é um trabalho nobre. Ana é um exemplo do exercício de uma irmã envolvida na criação de um filho piedoso (1 Sm 1-2). Nota: Paulo diz que quer que elas “governem a casa”, não o marido.
Tito 2: 3-5, diz: “As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, a serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada”. Este é outro importante trabalho que as irmãs podem fazer e que os irmãos não seriam capazes de fazer com qualquer eficácia e propriedade.
Se uma irmã não é casada, ou com idade suficiente para ensinar as irmãs mais novas, ela ainda pode ser “serva da igreja” (Rm 16: 1). Há muitas coisas relacionadas com a vida na assembleia que a irmã pode fazer e que podem ser de grande ajuda para os santos, por exemplo ajudando as mães que estão sobrecarregadas com as crianças, ajudando as irmãs mais velhas que não podem mais se locomover com facilidade, etc. Estas são boas obras. Febe foi conhecida por ser “o amparo de muitos”. Talvez ela tivesse o dom de “ajuda” (1 Cor 12:28).
Filipe tinha quatro filhas que profetizavam (At 21: 8-9). Isso mostra que há uma necessidade de irmãs, até mesmo irmãs mais jovens, ministrarem ajuda e conforto da Palavra para os outros. Mas perceba, elas não ensinam os irmãos. Isto é visto no fato de que quando Paulo precisava de uma palavra, Deus não usou uma das filhas de Filipe para falar a ele, embora Paulo estivesse bem ali na casa de Filipe. Ele trouxe um irmão que era um profeta para falar com ele (At 21: 10-14). Isto está de acordo com 1 Timóteo 2: 11-12.
Priscila e Áquila são um casal modelo em relação aos papéis dos irmãos e irmãs na casa de Deus. Eles são mencionados seis vezes nas Escrituras. Três vezes Aquila é mencionado primeiro, e três vezes Priscila é colocada em primeiro lugar. É significativo e instrutivo que ele é mencionado primeiro quando tinha a ver com a responsabilidade pública de ensino (At 18: 2, 24-28; 1 Cor 16:19.). Quando tinha a ver com as responsabilidades domésticas, ela é mencionada primeiro (At 18:18; Rm 16:3-4; 2 Tm 4:19.). Há muito que aprender com isso. Por exemplo, ao ensinar Apolo eles “declararam mais precisamente o caminho de Deus”. Priscila deixou seu marido assumir a liderança neste trabalho (At 18:24-28). Assim, ela caminhou de acordo com a devida ordem da casa de Deus. Outro ponto que vale a pena considerar é que cada vez que eles são mencionados na Bíblia são sempre vistos juntos; eles trabalhavam em equipe no serviço para o Senhor. Isso é louvável (1 Coríntios 9:5).
Cobertura Para a Cabeça
A passagem em 1 Coríntios 11, já citada, indica que as irmãs numa assembleia reunida conforme as Escrituras, também cobrirão a cabeça quando questões divinas e tópicos das Escrituras estiverem em discussão. E isso não deverá ser assim apenas nas reuniões de assembleia, mas a qualquer momento quando as Escrituras são abertas, pois, como já mencionado, instruções quanto ao seu uso são encontradas no mesmo capítulo antes de ser mencionado o que é específico para reuniões de assembleia.
O ato de manter as cabeças dos irmãos descobertas e de cobrir as cabeças das irmãs é uma demonstração prática dos princípios envolvidos na confissão cristã. O Apóstolo diz: “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo” (1 Cor 11:3). Sendo assim, os homens devem descobrir as suas cabeças quando estão envolvidos em atividades espirituais, ou seja, “oração ou profecia”. Ao fazerem isso, eles estão reconhecendo que toda a glória pertence a Cristo, “porque é a imagem e glória de Deus” (verso 7) Este ato glorifica a Cristo e deve ser feito com isso em vista.
Da mesma forma, a mulher no cristianismo representa a glória do homem. Ele diz: “mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos” (1 Cor 11:7-10). O cabelo da mulher representa o esplendor natural do primeiro homem. Sendo este o caso, o cabelo da mulher deve ser coberto quando ela está envolvida na atividade espiritual.
Quando as irmãs usam uma cobertura para a cabeça, elas estão anunciando o fato de que elas não reconhecem o primeiro homem como tendo qualquer lugar no cristianismo (Fp 3:3; Cl 2:11-12). Isso não tem nada a ver com os maridos e esposas. O artigo antes de “homem” e “mulher” na passagem (na versão KJV) não está no texto original grego, porque ele está se referindo aos homens e mulheres de forma genérica. A confissão envolvida no ato de cobrir a cabeça de uma mulher deve ser vista como um privilégio, não um dever. Quando a irmã entende o princípio envolvido, ela deve estar feliz em ter um sinal sobre sua cabeça.
Para esclarecer um ponto de mal-entendidos, é de salientar que há duas palavras diferentes usadas para a “cobertura” em 1 Coríntios 11. O Espírito de Deus propositadamente usa duas palavras diferentes no idioma original para distingui-las. A palavra em grego para “cobrir”, nos versículos 4-6, é “katakalupo”. Ela indica uma cobertura artificial, como um chapéu, um lenço ou uma mantilha. Mas uma palavra completamente diferente para “cobertura” é usado no versículo 15 – “peribolaiou”. Isso se refere ao cabelo de uma mulher que Deus lhe deu para cobrir a cabeça. O cabelo de uma mulher é um véu (ou cobertura) que aumenta a sua beleza natural. Contudo, o ponto do apóstolo nesta passagem é que, desde que a cabeça da mulher representa a glória do homem, sua cobertura natural de cabelo é para ser coberta com uma cobertura artificial. Como mencionado, este ato significa uma confissão prática que nós, como cristãos, não reconhecemos ou damos lugar ao primeiro homem nas coisas divinas.
Resumindo, a assembleia reunida conforme as escrituras irá reconhecer e seguir os diferentes papéis dos irmãos e irmãs, mesmo que eles não sejam populares na cristandade.
Bruce Anstey – Traduzido de “The SEARCH for a Scripturally Gathered Assembly – A profile of a Scriptural Assembly”.