Há um Deus, e podemos conhecê-lo; mas ele só pode ser conhecido porque se relevou. Ele fez isso nas coisas criadas. Quando contemplamos o mundo ao nosso redor e ao céus acima de nós, devemos concluir que seria impossível qualquer parte do universo ser trazida à existência sem a ação de um poder sobrenatural – de fato, pelo poder de Deus. Contudo, o homem contemporâneo se recusa a crer nesse fato, preferindo aceitar o mito da evolução. Sendo vítima de uma natureza caída, o homem não tem desejo de aprender sobre Deus. E devemos ver a obra de Satanás por trás de tudo isso, quando cega o entendimento humano.
No entanto, o máximo que aprendemos sobre Deus por meio da criação é extremamente limitado. Ela não nos pode dar conhecimento sobre o livramento de nossa condição pecaminosa. Em misericórdia, Deus nos deu uma revelação mais profunda de si mesmo nas Escrituras – uma revelação que nos dá conhecimento suficiente sobre a salvação do pecado e da perdição eterna. Essas Escrituras, do começo ao fim, foram escritas sob a inspiração do Espírito Santo e, por isso, são totalmente dignas de confiança. Não têm qualquer tipo de erro, mesmo nos detalhes mais triviais. Também nesse assunto podemos reconhecer a cegueira do homem – para com a luz pura da Palavra de Deus – e os esforços de Satanás para cegar os olhos de pecadores em relação às verdades das Escrituras. Satanás anseia por cegar “o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo” (2 Cor 4.4).
Deus estabeleceu sua Palavra como meio para dar verdadeiro conhecimento de si mesmo à humanidade, mas somente por meio da obra do Espírito Santo esse conhecimento pode ser proveitoso às almas daqueles que a ouvem e a leem. E Deus designou a pregação da sua Palavra como meio de produzir bem espiritual na alma de pecadores. Muitos já entraram na vida eterna como resultado de chegarem, por meio da pregação, a conhecer “o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo”, a quem ele enviou (Jo 17.3).Deus é infinito; e, de acordo com isso, o conhecimento que podemos ter sobre ele é limitado. Por isso, Zofar pergunto a Jó: “Porventura, desvendarás os arcanos de Deus ou penetrarás até à perfeição do Todo-Poderoso?” (Jó 11.7). Tudo a respeito de Deus é infinitamente maior do que podemos conhecer ou entender. Mas o conhecimento de Deus que as Escrituras proporcionam é exato. Deus se revelou de um modo que se adéqua ao nosso entendimento humano; porém, se o Espírito Santo não der nova vida à nossa alma, jamais responderemos com fé a este conhecimento.
Paulo desejou que os crentes efésios conhecessem “o amor de Cristo, que excede todo entendimento” (Ef 3.19). Ele desejou não somente que pecadores soubessem sobre o amor de Cristo para com um mundo perdido, mas também que pessoas experimentassem por si mesmas esse amor. Embora esse conhecimento seja limitado para o ser humano, o amor de Cristo é – como Paulo admitiu – muito maior e mais maravilhoso do que alguém possa compreender. Pensar na amplitude da glória da qual o Salvador veio e os sofrimentos que ele suportou neste mundo, incluindo a maldita morte na cruz, ajuda-nos a entender algo do amor que excede todo entendimento. Por essa razão, Paulo pôde dizer: “Conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2 Cor 8.9). Os crentes que residiam em Corinto tinham um conhecimento genuíno do amor e da bondade de Cristo, embora não pudessem sondar as profundezas nem medir a amplitude desse amor.
E podiam entender o amor de Cristo quando consideravam os seus frutos: particularmente o perdão dos seus pecados, o dom do Espírito Santo e sua obra de santificação, o suprimento de todas as necessidades deles nesta vida e, por fim, um lugar no céu. Cada instância da graciosa provisão de Cristo deveria aumentar no crente o senso de quão grande foi o amor eterno do qual a provisão fluiu, embora esse senso fique muito aquém da infinita plenitude do amor de Deus para com pecadores indignos. E, ainda que os santos na glória conheçam agora mais do que podiam assimilar quando estavam neste tempo, tudo a respeito de Deus permanece infinitamente maior do que eles podem agora conhecer ou entender. A justiça de Deus é, igualmente, infinita. Podemos conhecê-la porque ele a revelou para nós, mas sua perfeição está além de nosso entendimento. Deus sempre lida com justiça quando se relaciona com suas criaturas, mas sua justiça se tornará especialmente óbvia no dia do juízo. E, na eternidade, essa justiça será evidente quando ele derramar sua ira sobre os ímpios e, por amor a Cristo, abençoar seus filhos. Deus fez uma demonstração singular de sua justiça quando tomou a culpa desses filhos e a colocou sobre seu Filho como substituto deles. A misericórdia infinita se encontrou com a justiça infinita de um modo que alcança nossa esfera de conhecimento, por meio da revelação, mas está além de nossa compreensão.
A sabedoria infinita de Deus é demonstrada na criação. A ciência tem feito muitas descobertas nos séculos recentes, em todas as áreas. E cada uma dessas descobertas mostra a capacidade do Altíssimo de idealizar o que é extremamente prático e belo – embora o homem, em sua cegueira, recuse frequentemente reconhecer o Idealizador. No entanto, o plano de salvação revela muito mais quanto à infinita natureza da sabedoria de Deus! Ele nos ensina que o pecado merece sua ira e maldição para sempre, mas nenhuma criatura podia ter planejado como, em harmonia com a justiça de Deus, alguém poderia escapar da sua ira e da sua maldição eterna. Foi a sabedoria divina que planejou o meio pelo qual Deus podia ser justo quando fez provisão para a salvação de pecadores.
Sabedoria infinita também é mostrada na providência de Deus. Ele sabe tudo que está acontecendo, tudo que vai acontecer e tudo que poderia ter acontecido. E, dentre essas miríades de possibilidades, Deus escolheu, em sua sabedoria, o que mais contribuiria à sua glória. Não é surpresa que o Salmo 147 afirme: “O seu entendimento não se pode medir”. Deus ordenou sabiamente que sua providência satisfaça seu propósito especial de reunir todos os seus eleitos, tirando-os de caminhos ímpios e conduzindo-os em segurança a um mundo melhor. Ali, todos eles verão – embora nunca perscrutarão totalmente a sabedoria que está por trás do agir de Deus com eles – que Deus os “conduziu… pelo caminho direito” (Sl 107.7).
O último atributo que consideraremos é o poder de Deus. O seu poder também é infinito; está além da capacidade de compreensão da mente humana. Podemos ver o poder de Deus na criação, mas, como podemos entender somente de maneira limitada a vastidão e as complexidades do universo, podemos entender apenas imperfeitamente o poder que foi necessário para trazer todas as coisas à existência e para mantê-las em existência. Todavia, devemos reconhecer que o infinito poder de Deus é manifestado de maneira mais maravilhosa na obra do Espírito Santo em regenerar pecadores espiritualmente mortos e dar continuidade à sua obra santificadora, até que eles sejam perfeitos e estejam, assim, preparados para o céu.
O poder de Satanás é grande, como o é o poder daqueles que fazem sua obra maligna. Precisamos apenas observar os meios de comunicação para obteremos um senso da prevalência da impiedade, da falsa religião e da incredulidade em nossos dias. Contudo, o poder de Satanás e dos ímpios, que se rendem à tentações de Satanás, é finito, é limitado. Embora seja um grande poder, não é nada se comparado com o ilimitado poder de Deus. Portanto, não precisamos ficar desesperados em qualquer situação, se estivermos em dependência de Deus. Jamais devemos desesperar-nos quanto à igreja, porque Deus cumprirá todos os seus propósitos e – por meio de sua sabedoria, graça e poder ilimitados – levará ao céu, com segurança, toda a vasta multidão de seus eleitos.
Como vimos, Deus se revelou na criação, porém mais plenamente na Bíblia. Visto que ele é infinitamente grande e glorioso, em todos os seus atributos, é nosso dever, como suas criaturas, receber sua revelação e sujeitar-nos a ele com todo o nosso coração – e crer em Cristo, que é o centro de toda a revelação das Escrituras. É igualmente nosso dever louvá-lo e adorá-lo, nesta vida, que é uma preparação para o louvor e a adoração infindos no céu. “Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado” (Sl 48.1).
Kenneth D. Macleod – Traduzido do original em inglês: “Great is the Lord”. Publicado originalmente no site da “Editora The Banner of Truth”.