É interessante como este hino fez com que o seu próprio autor voltasse à comunhão com Deus, após longos anos de afastamento d’Ele. Foi assim: Lá pelos fins do século XVIII, um cavalheiro e uma senhora se encontraram assentados, lado a lado, numa carruagem, enquanto esta seguia o seu caminho através da Inglaterra. A senhora parecia muito ocupada com o conteúdo de um livro, em suas mãos; ora lendo o que estava em sua página, ora meditando no que estava lendo. Ela estava justamente tentando cantarolar a música das palavras deste precioso hino!
Virou-se, então, para o cavalheiro ao lado, um estranho para ela, tentando fazê-lo interessar-se pelo que estava alegrando o seu coração. Mostrando-lhe aquela página ela lhe perguntou se conhecia aquele hino. A princípio ele pareceu muito embaraçado, até agitado; então tentou desviar-se da pergunta, mas ela insistiu, dizendo-lhe das bênçãos que aquelas palavras trouxeram ao seu próprio coração. Após um período de silêncio, o cavalheiro prorrompeu em lágrimas e disse: “Senhora, eu sou o pobre infeliz que compôs esse hino, há muitos anos, e daria, se tivesse, milhões e milhões para gozar mais uma vez aquele sentimento que senti então”. O cavalheiro que estava viajando naquela carruagem era o Sr. Robert Robinson. O hino tinha sido o produto da sua pena anos antes!
Robert Robinson nasceu numa família pobre, em Swaffham, Norfolk, em 27 de setembro de 1735. Na sua terra natal foi aluno de uma escola de Latim e, mais tarde, numa escola de gramática, onde o seu professor disse dele: “Um jovem de grande capacidade, gênio incomum e refinada percepção”. Robert perdeu seu pai quando tinha apenas oito anos de idade e daí para frente recebeu o carinho de sua pobre mãe, cuja ambição era que o seu filho fosse um clérigo na Igreja da Inglaterra. Porém, as circunstâncias de pobreza, não permitiram que isso acontecesse. Com 14 anos Robert foi aprendiz de cabeleireiro em Londres, mas esse trabalho não lhe interessou muito. Ele gastava mais do seu tempo na leitura de livros; ele foi por natureza um rapaz estudioso e muito cuidadoso.
Além disso, era um rapaz desolado e logo, nos seus dias em Londres, juntou-se a um grupo de rapazes incrédulos que, vez após vez, o deixavam em dificuldade. Na verdade, chegou o tempo em que as suas ações envergonharam tanto a sua própria família, que eles se recusaram a assumir a responsabilidade das suas falhas. Então, com a idade de 17 anos, aconteceu um incidente que mudou completamente a sua vida. Isso foi em 24 de maio de 1752, quando seus companheiros e ele se juntaram para fazer uma brincadeira com uma velha cartomante que gostava de ler o futuro das pessoas; eles queriam rir das suas previsões. A velha leu o futuro de Robert, dizendo que ele viveria longos anos. Então, ele pensou consigo mesmo:
“Então, eu verei filhos, netos e bisnetos. E, durante a minha juventude, farei todo o possível para encher a minha mente com toda a sorte de conhecimento. Verei e ouvirei tudo o que for raro e espetacular, para que, quando for incapacitado para outros empreendimentos, possa sentar e entreter os meus descendentes. Assim a minha presença será agradável a todos e não serei desprezado na minha velhice”.
Imediatamente procurou pôr em prática o seu intento. Estava ali, naquela ocasião, um famoso pregador, o Sr. Whitefield, e Robert soube que ele ia pregar aquela noite e foi ouví-Lo. O pregador falou sobre o texto de Mateus 3:7. Quando o pregador falou sobre a ostentação dos fariseus, aparentando parecer justos, mas dentro dos seus corações havia o veneno de víboras, isso tocou muito profundo em Robert, como se fosse uma flecha de Deus ao seu coração; ele estremeceu. E, quando o pregador gritou bem alto: “Oh, ouvintes, a ira vindoura! a ira vindoura!”, Robert contou mais tarde a um amigo: “Aquelas palavras afundaram em meu coração como a chumbada dentro d’água. Eu chorei e quando o sermão terminou eu me retirei e fiquei sozinho. Dias após dias não pude pensar em outra coisa. Aquelas terríveis palavras me perguntaram por onde quer que fosse”. Então, três anos mais tarde, em 10 de dezembro de 1755, ele encontrou pleno e livre perdão através do precioso sangue de Jesus Cristo!
Após sua conversão, Robert adquiriu um profundo interesse pelas coisas espirituais. Seu coração faminto e sedento da Palavra de Deus fez com que, durante três anos, procurasse estar presente em todas as reuniões que fosse possível em Londres. Apreciava muito as pregações de Gill e Wesley, onde encontrava sempre grande satisfação. Então tomou-se ministro do Evangelho, primeiramente em sua terra natal, Norfolk, depois em Norwick e, em 1759, mudou-se para uma Igreja Batista, em Cambridge, onde foi um notável ministro.
Como pregador, tinha extraordinário talento; seus auditórios ficavam encantados com o seu ministério. Como escritor, exibiu considerável habilidade e foi um bom teólogo, tendo escrito cerca de 30 publicações. Seus trabalhos sobre a Pessoa de Cristo, sobre a Sua divindade e Sua morte, mereceram e receberam altas aclamações. Como hinólogo, Robert escreveu alguns bons hinos, alguns para as crianças, os quais foram bem recebidos pela crítica como “melodiosos, evangélicos e não sentimentais”. “Fonte, és Tu de toda a bênção” é um dos melhores dos seus hinos. Foi escrito bem no princípio da sua experiência cristã, por volta de 1758. Tinha apenas 23 anos de idade. Naquele tempo ele era um jovem ministro em sua terra natal, NorfoIk. A letra, como vimos, de Robert Robinson (1735-1790), foi traduzida para o português por William Anglin (1882 – 1965) e tem como música, Sharon, de William Boyes (1710-1779).
Fonte És Tu
Fonte és Tu de toda benção;
Cantarei o Teu louvor
Com o coração tão grato
Por teu compassivo amor
Como ovelha extraviada;
Longe do redil vaguei;
Tú minha alma procuraste
Me levaste a Tua grei.
Quanto á Tua graça devo
Dia a dia, ó meu Pastor!
Prende-me por essa graça
A Teu lado, meu Senhor
Letra: Robert Robinson – Nasceu no 27 de setembro de 1735 em Swaffham, Norfolk, Inglaterra. Faleceu no dia 8 de junho de 1790, em Showell Green, Warwickshire, Inglaterra. Descansa no cemitério Key Hill em Birmingham, Inglaterra.
Música: William Boyes (1710-1779)