Exemplo!

Há muitos anos ouvi de um homem que abandonou as bebidas alcoólicas depois de uma experiência com seu filho pequeno. Numa tarde quente, ambos entraram numa lanchonete. O pai pediu uma cerveja, e depois deu ao garoto a oportunidade de fazer o seu pedido, como de costume. Mas ao invés de pedir o refrigerante costumeiro, a criança disse: “Eu quero o mesmo que papai!” O pai, assustado, pediu refrigerantes para os dois, e mudou sua prática.

Não há como negar que nossas atitudes servem de exemplo para muitos ao nosso redor. Crianças imitam, inconscientemente, seus pais e mães. Uma pessoa mais destacada em uma comunidade acabará atraindo alguns “discípulos”. E assim por diante.

Será que nos preocupamos devidamente com o exemplo que estamos dando? Ao escolher entre “A” e “B”, pensamos apenas em qual opção é melhor para nós? Ou pensamos sobre o exemplo que estaremos dando àqueles que nos observam? Teríamos coragem de nos colocarmos como exemplo a ser seguido?

O Senhor Jesus tinha autoridade divina para dizer, após lavar os pés aos discípulos: “Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:15). Por inspiração divina, o apóstolo Paulo teve o direito de dizer: “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós” (Fp 3:17). 

Mas sentimos demais nossas fraquezas para termos a ousadia de achar que servimos de exemplo para os outros! É bom ter esta sinceridade; mas devemos acatar a exortação que Paulo fez a Timóteo e Tito (e, por extensão, a todos nós): “Sê exemplo dos fiéis, na palavra,  no trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (I Tm 4:12); “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção,  gravidade, sinceridade” (Tt 2:7).

Em suma, creio que podemos dizer: “Eu não me considero um bom exemplo — mas quero me esforçar para ser!”

Pensando mais detalhadamente sobre os trechos citados, considere I Timóteo 4:12. Ali temos o que Paulo desejava para seu filho na fé, Timóteo. Como será que a lista de Paulo se compara com aquilo que nós desejamos para nossos filhos?

Baseado nos comentários de J. Allen (comentário Ritchie), Paulo queria que Timóteo fosse exemplo:

Na palavra — isto é, na fala. Timóteo deveria escolher suas palavras cuidadosamente. Preocupamo-nos com o linguajar utilizado pelos nossos filhos e filhas?

No trato. Isto abrange todas as áreas da vida (veja como Paulo usa esta expressão em Gl 1:13 e Ef 4:22). Ensinamos nossos filhos e filhas a serem corteses e respeitosos?

No amor. Não é meramente um impulso emotivo, mas um interesse voluntário que procura o bem estar dos outros, quer sejam cristãos ou não — exige uma vida de sacrifícios em benefício dos outros. Estamos mostrando-lhes, pelo nosso exemplo, que “mais bem-aventurada coisa é dar do que receber”? (At 20:35) 

No espírito — Enfatiza especialmente o relacionamento com Deus. Oramos principalmente pela sua salvação e seu crescimento espiritual, ou primeiro pelas coisas materiais?

Na fé. É o que os homens devem a Deus por Ele ser Deus. Isto é confiança e esperança depositados na Sua Pessoa, e consequentemente, na Sua Palavra. Nos alegra ver em nossos filhos uma confiança humilde em Deus, ou queremos que sejam autoconfiantes?

Na pureza. Descreve a castidade que não se limita a evitar os pecados da carne — a pureza de motivos que foge de tudo que é impróprio ou impuro. 

A maioria dos desejos acima é o contrário do que o incrédulo deseja para seus filhos — mas se vivermos a realidade da nossa fé, estaremos apresentando a estas pequenas vidas que Deus nos confiou um exemplo muito mais elevado do que o exemplo do mundo.

Que possamos realmente desejar que eles vivam para os outros, não para si mesmos, e que confiem em Deus, não em si mesmos!

Continuando a pensar no exemplo que Paulo queria transmitir aos seus filhos na fé, vemos seu desejo em relação a Tito: “Em tudo te dá por exemplo de boas obras; na doutrina mostra incorrupção, gravidade, sinceridade, linguagem sã e irrepreensível” (Tt 2:7).

Novamente, podemos comparar isto com aquilo que desejamos para nossos filhos. Resumindo do Comentário Ritchie (D. West — ênfase minha), lemos:

Inicialmente, a ênfase está nos atos de Tito. “Boas obras” se refere não simplesmente a atos de bondade, mas a obras que são boas e louváveis aos olhos de Deus. Mas conduta … não é tudo, portanto a ênfase agora passa ao ensino de Tito. A ordem é significativa, pois exemplo vem antes de exortação; Lucas nos fala de “tudo que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar” (At 1:1).

Paulo trata, primeiramente, da maneira como Tito deveria ensinar … “Incorrupção” e “gravidade” [e “sinceridade] se referem não ao conteúdo de seu ensino, mas à atitude e comportamento de Tito como ensinador. Em seguida, Paulo enfoca a substância do ensino de Tito … deveria ser “irrepreensível”.

Ou seja, fazer antes de falar; e quando falar, escolher bem as palavras! Quanta bobagem já dissemos — como precisamos melhorar neste ponto. Que possamos desejar que nossos filhos e filhas sigam este exemplo, e se tornem, no devido tempo, “em tudo” exemplos para outros mais jovens. Se crescerem espiritualmente no conhecimento de Deus e das Escrituras, serão bem-aventurados, independentemente da sua saúde ou situação financeira.

Finalizando esta pequena série, meditemos no único exemplo perfeito: nosso amado Senhor Jesus Cristo!

Poderíamos pensar em mil e uma coisas que o Mestre fez, e que servem de exemplo para nós. Mas quero destacar um exemplo que não nos atrai muito, que encontramos em João cap. 13 — servir uns aos outros!

“Levantou-Se da ceia, tirou as vestes, e, tomando uma toalha, cingiu-Se. Depois deitou água numa bacia, e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido … Então, depois que lhes lavou os pés, e tomou as Suas vestes, e Se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: Entendeis o que vos tenho feito? Porque Eu vos dei o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13:4-15).

Este ato fala mais do que mil palavras que eu poderia escrever. Se eu não estiver disposto a fazer, alegremente, o serviço mais humilde e baixo, não estou seguindo o exemplo do Senhor. Se Ele disse: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10:45), quem sou eu para achar que meus irmãos devem me servir?

Sigamos as Suas pisadas hoje, enquanto contemplamos o exemplo perfeito que Ele nos deixou. E contemplando-O, adoremos!

W. J. Watterson

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