Um estudo de cinco passagens do NT que nos exortam à diligência prática, e as doutrinas nas quais estas exortações estão baseadas. Um crente relaxado, um cristão folgado, será que é possível tal coisa? Não quando andamos à luz da Palavra de Deus e no poder do Espírito Santo. Junto com santidade, humildade e amor, a diligência é algo que nunca deve estar ausente em nossa vida cristã.
Neste artigo vamos concentrar nossa atenção em cinco lugares no NT onde se encontram exortações usando o verbo “procurar” (na versão Corrigida). Em cada uma destas referências a palavra grega no original é a mesma. É uma palavra que significa fazer alguma coisa com zelo, esforço e diligência. Em outras versões é traduzida por expressões como “esforçando-vos diligentemente”; “procurando diligentemente”; “esforcemo-nos”; empenhai-vos.
Veremos também neste estudo o relacionamento íntimo que existe entre a doutrina e a prática, pois cada exortação está ligada a alguma verdade importante.
EXORTAÇÃO EM VISTA DA VERDADE DO CORPO DE CRISTO
“Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Ef 4:3).
Na força do amor (2), pondo toda a diligência, esforço e empenho nisso. Há alguns que falam muito em ter boas relações com outras igrejas, e até com denominações, mas que não conseguem manter boas relações com os irmãos da sua própria igreja, onde reúne.
Porém, é justamente aqui que devemos praticar esta exortação de “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz”.
É realmente com aqueles irmãos que já conhecemos muito bem que temos que guardar esta unidade, superando os conflitos entre personalidades diferentes, crucificando as ambições pessoais e procurando o bem espiritual de todos.
“Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outro em amor” (Ef 4.2).
É somente assim que andaremos “como é digno da vocação com que fostes chamados” (1).
Os versos 4 a 6 mostram que a unidade que devemos guardar está baseada na unidade das três Pessoas da Trindade: O Espírito, O Senhor e o Pai. Em união com o Espírito Santo, temos uma comunhão de vida espiritual, tanto no presente como no futuro (4). Em união com o Senhor Jesus, continuamos juntos no testemunho pela fé e pelo batismo (5). Em união com o Pai, temos a Sua presença e Seu poder no Seu amor paternal (6).
Sem dúvida, devemos nos esforçar diligentemente para manter e desenvolver cada vez mais esta unidade maravilhosa em nossas igrejas.
EXORTAÇÃO EM VISTA DA VERDADE DA PALAVRA DE DEUS
“Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade” (II Tm 2.15).
Este versículo destaca primeiro a motivação, e depois o método que se emprega na obra do Senhor. Quanto à motivação, o obreiro de Deus deve procurar diligentemente apresentar-se a Deus aprovado. Ele não se importa com o aplauso dos homens, mas só quer agradar o Deus conhecedor dos corações, e glorificar o nome d’Ele. Trabalhando assim, não será envergonhado, mas receberá do Senhor o galardão. Quanto ao método, Paulo diz aqui: “que maneja bem a palavra da verdade”. A palavra traduzida “maneja bem” quer dizer literalmente “cortar uma linha reta”. Se a sua obra é alvenaria, ele precisa saber cortar uma linha reta numa pedra. O carpinteiro precisa cortar uma linha reta na madeira. Sendo o seu ofício o de fazer tendas, Paulo precisava saber cortar uma linha reta de couro grosso de cabra ou carneiro dos quais se faziam as barracas. Então esta expressão indica a necessidade de precisão e cuidado na exposição da Palavra de Deus. Não tirando palavras fora do contexto, nem torcendo ou pervertendo a Palavra da verdade, mas realmente manifestando a verdade para as consciências dos ouvintes (II Cor 4.2). Para manejar assim a palavra, duas coisas são necessárias: diligência no estudo e diligência na prática da Palavra de Deus.
EXORTAÇÃO EM VISTA DA OBRA CONSUMADA
“Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência” (Hb 4.11).
Geralmente se consideram diligência e repouso como opostos, mas a exortação que se encontra aqui em Hebreus 4 exige diligência para entrar no repouso. O repouso vem somente pela obediência da fé. Assim, temos que abandonar diligentemente toda a dependência em boas obras e rituais, para simplesmente descansar pela fé na obra consumada de Cristo.
Porém, isso não quer dizer que a vida cristã é “moleza”. Muitas vezes citamos parcialmente o convite do Senhor em Mateus 11.28-30, mas veja bem tudo o que o Senhor disse:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
O jugo é para trabalhar junto com o Senhor, e assim como Ele levou sobre Si o peso de nosso pecado lá na cruz, assim também Ele nos fortalece agora para servir com Ele no Seu jugo.
Procuremos, pois, entrar nesse repouso ativo que é, na verdade, o fruto de Sua obra realizada sobre a cruz.
EXORTAÇÃO EM VISTA DA NECESSIDADE DE CRESCIMENTO
“Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis”.
Para Deus, a nossa vocação e eleição já são decisões imutáveis tomadas antes da fundação do mundo.
“Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (Rm 11.29).
Todavia, é necessário que nossa “vocação e eleição” (observe a ordem invertida) sejam feitas mais firmes, ou confirmadas, para nós mesmos.
A segunda epístola de Pedro enfatiza a importância de crescimento. Leia, nos versos 5 a 7 a lista de virtudes que devem ser acrescentadas à nossa fé. Não são para serem adicionadas uma a uma. Mas sim todas juntas – todas são imprescindíveis! E como é bendito o resultado de tal crescimento no verso 8. Porém, no verso 9, vemos o triste efeito da ausência de tal crescimento:
“Pois aquele em quem não já estas coisas é cego, nada vendo ao longe, havendo se esquecido da purificação dos seus antigos pecados”.
É impossível ficar “parado” na vida cristã. Se não estamos melhorando, estamos piorando, sim; se não estamos avançando, já estamos escorregando para trás.
Portanto, vemos agora a importância da exortação do verso 10. Na verdade, somente podemos ter certeza que possuímos a vida quando a vida se manifesta em fruto. Somente podemos ter certeza que Jesus é a nossa Luz quando realmente andamos na luz da Sua presença. Assim, em vez de sermos cegos, sempre tropeçando, “nunca jamais tropeçareis”. E não somente seremos mais seguros no presente, mas nosso futuro se tornará ainda mais maravilhoso:
“Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (verso 11).
EXORTAÇÃO EM VISTA DA VINDA DO SENHOR
“Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz”.
Este capítulo contempla o fim de tudo debaixo do sol – tudo está reservado para destruição no fogo da manifestação do “dia de Deus”. O versículo anterior, contudo, mostra que a expectativa do povo de Deus quanto a este mundo é de novos Céus e nova Terra debaixo do Sol da Justiça.
Contudo, a palavra “achados” neste versículo não se refere à expectativa do Universo renovado no futuro – a plena realização desse propósito será somente depois do milênio – mas há algo que pode acontecer a qualquer momento. Diz respeito à nossa condição no momento de sermos arrebatados para encontrar com o Senhor nos ares, de acordo com I Tessalonicenses 4.16-17.
Vemos aqui que, em vista da vinda do Senhor, devemos exercer diligência em três áreas:
- Em nossa comunhão com Deus – Que sejamos imaculados; livres da corrupção do mundo (Tg 2.27);
- Em nosso testemunho perante os homens – Que sejamos irrepreensíveis; ninguém podendo apontar com razão algo que não é digno de nossa santa vocação;
- Em nosso relacionamento uns com os outros – Para que sejamos achados em paz.
Observe como Paulo destaca as mesmas coisas em relação à vinda do Senhor em Tito: “Que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tt 2.12-13); “Já a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.8); “O que há de vir, virá, e não tardará” (Hb 10.37); “Qualquer que n’Ele tem esta esperança purifica-se a sim mesmo, como também Ele é puro” (I Jo 3.3), e isto com toda a diligência, para que “não sejamos confundidos (envergonhados) por Ele na Sua vinda” (I Jo 2.28).
Terry Julian Blackman – Periódico “O Caminho”, Nº 40.