Dilema Evangélico

Há um problema curioso no meio evangélico que exige séria reflexão por parte das igrejas e dos cristãos, individualmente. Se simplificarmos o Evangelho na intenção de “ganhar almas para Cristo”, a única coisa que veremos será um aumento no número de “abortos” (falsas conversões).

A Fonte do Problema

Em suma, um grande exército de “ganhadores de almas” foi mobilizado para trazer os incrédulos para Cristo. São sinceros, zelosos, entusiasmados e “persuasivos”. Precisamos reconhecer que eles estão fazendo o “seu trabalho”, e é inegável que estão acumulando um número impressionante de conversões. Tudo, por enquanto, parece ser positivo.

Os Efeitos Colaterais

Lamentavelmente percebemos que “as conversões não duram”. A semente não germina para que dê frutos. Seis meses depois (até menos) não sobra nada de todo o empenho evangelístico. A “técnica moderna” de ganhar almas produz inúmeros “abortos”.

Revelando o Problema

O que está por trás deste fracasso em produzir o novo nascimento de almas? Parece estranho, mas tudo começa com a decisão (válida) de pregar o genuíno Evangelho da Graça de Deus. Queremos manter a mensagem simples, totalmente livre de qualquer sugestão de que o homem pode merecer conquistar a Vida Eterna. Justificação é somente pela fé, sem as obras da Lei, portanto, a mensagem é “crê somente”.

Partindo desta premissa reduzimos a mensagem a um formato demasiadamente simples. O processo evangelístico é reduzido a uma série de perguntas e respostas básicas, como segue:

– Você crê que é um pecador?!

– Sim!

– Você crê que o Senhor Jesus Cristo morreu pelos pecadores?!

– Sim!

– Então, VOCÊ ESTÁ SALVO!

– Estou?!

– Sim, a Bíblia o diz!

À primeira vista o método e a mensagem parecem corretos. Mas, após análise cuidadosa, somos forçados a concluir que temos simplificado exageradamente o Evangelho.

Ausência de Arrependimento

A primeira “falha fatal” é a ausência de ênfase no arrependimento. Não pode haver uma conversão verdadeira sem convicção do pecado. É uma coisa concordar que sou pecador, mas outra bem diferente experimentar o ministério do convencimento do Espírito Santo na minha vida. Enquanto eu não for convicto pelo Espírito Santo, Jamais poderei crer.

É perda de tempo dizer a pecadores não convictos para “crer em Jesus”. Esta mensagem é somente para aqueles que sabem que estão perdidos. Nós diluímos o Evangelho quando deixamos de enfatizar a condição caída do homem. Com esse tipo de mensagem diluída as pessoas recebem a Palavra sem a genuína contrição, que é o “sentimento de culpa ou arrependimento por pecados cometidos ou por ofensa a Deus”.

Eles não têm raiz, e mesmo que permaneçam por algum tempo, logo desistem quando vem a perseguição e os problemas (Mt 13:21). Esquecemos que a mensagem é não somente a fé no Senhor Jesus, mas também o arrependimento para com Deus.

Ausência de Submissão

Uma segunda “falha seriíssima” é a atitude omissa de enfatizar o Senhorio de Cristo. Concordar superficialmente com a afirmação de que “Jesus é Salvador” não é suficiente. Jesus é, primeiramente, Senhor; depois Salvador! Será que sempre apresentamos a plena implicação do Senhorio de Cristo para o povo?! Ele sempre fazia isto!

Ausência de Discipulado

Uma terceira falha na nossa mensagem é a tendência de manter os termos do discipulado escondidos até que façam uma decisão por Cristo. O Senhor nunca fez isto. A mensagem que ele pregava não falava só da Coroa, mas incluía também os “espinhos”. Ele nunca escondia as cicatrizes para se ganhar discípulos. “Ele revelava o pior junto com o melhor”, e depois mandava os seus discípulos analisarem o custo antes de decidirem. Nós, porém, estamos “popularizando a mensagem e prometendo diversão”.

As Consequências

O resultado disso tudo é que temos pessoas crendo sem saber no que creem! Muitas delas não têm base doutrinária para a decisão. Elas não conhecem as implicações de entregarem-se a Cristo; elas nunca experimentaram a obra misteriosa e miraculosa do Espírito Santo regenerando suas almas.

Na nossa “mania por conversões instantâneas”, esquecemos que concepção, gestação e nascimento não ocorrem no mesmo dia. Deveríamos enfatizar a necessidade de arrependimento, que se fundamenta numa mudança completa em relação ao pecado; deveríamos enfatizar todas as implicações do Senhorio de Cristo e as exigências do discipulado; deveríamos explicar o que a fé realmente que dizer; deveríamos estar prontos a Esperar que o Espírito Santo produza uma real convicção do pecado – depois disso deveríamos estar prontos para conduzir tal pessoa à fé salvadora no Senhor Jesus Cristo!

Willian Macdonald – CMML Magazine.

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