Certamente não houve nenhuma mulher antes do “Reino de Deus” que fosse tão abençoada quanto Maria, a mãe de Jesus. Ela era uma camponesa humilde de uma cidade desprezada na parte rural do norte da Palestina. Não foi por acidente que Deus a escolheu para ser a mãe de seu Filho Unigênito. Seu caráter era tal que foi considerada especialmente adequada para cuidar e guiar a Criança gerada em seu ventre. O anjo Gabriel cumprimentou Maria, dizendo: “Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo” (Lc 1:28, 46-47).
Mas a doutrina em curso aumentou a honra dada a Maria muito além deste nível. A doutrina refere-se a Maria como a “Mãe de Deus” (Gibbons, 137). Certamente ela foi a mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus, mas em nenhum lugar as Escrituras a chamam de “Mãe de Deus” (Sl 89:6; Is 40:25; Jo 10:30; 14:9). Além disso, ela não teve nada a ver com a natureza divina dele, que ele tem possuído desde a eternidade (Jo 1:1-3; 8:58). Por uma questão de lógica, este título a eleva acima do próprio Deus, assim como fazem as práticas da doutrina em referência a Maria (II Sm 7:22; Sl 71:19; Jr 10:6).
A doutrina alega que, de todos os simples mortais que nasceram na terra, apenas Maria nasceu sem o pecado original. Segundo a doutrina: “Definimos que a Abençoada Virgem Maria, no primeiro momento da concepção (…) foi preservada livre de toda mancha do pecado original (…) diferente do resto dos filho de Adão, a alma de Maria nunca foi sujeita ao pecado” (Ibid. 140). Esta doutrina é chamada de “A Concepção Imaculada”, algo que é contrário ao teor destas Escrituras (Lv 12; Jó 14:4; Lc 2:22; Rm 3:23). Até os estudiosos reconhecem não ter uma base firme: “Apesar de a Concepção Imaculada não ser formulada como um dogma da fé até 1854, pelo menos é ‘sugerida’ na Escritura Santa” (Ibid. 141).
A doutrina também coloca Maria como uma virgem perpétua, até mesmo depois de seu casamento: “A doutrina ensina que ela sempre foi uma Virgem: uma Virgem antes do seu casamento; durante sua vida de casada; e após a morte de seu cônjuge” (Ibid. 138). Se isso fosse verdade, Maria teria falhado em cumprir suas obrigações com seu marido (I Cor 7:3-5). A Bíblia revela que ela teve relações sexuais com José (Mt 1:25); nomeia quatro irmãos de Jesus e indica que ele também tinha irmãs (Mt 13:55-56; Mc 6:3). A doutrina da virgindade perpétua de Maria sugere que há algo impuro nas relações sexuais no casamento, enquanto a Bíblia indica que são puras (Hb 13:4).
A doutrina ensina que Maria foi elevada em pessoa para o céu sem passar pela morte, uma doutrina chamada de “Assunção” (Ibid. 134-162). Não há nenhuma prova nas Escrituras de que Maria é uma exceção à regra geral da humanidade: “aos homens é ordenado morrerem uma só vez” (Hb 9:27).
A doutrina ensina que Maria é a nossa “mediadora”, que intercede com seu Filho a nosso favor; são ensinados a orarem a ela: “A Igreja exorta seus filhos a não apenas honrarem a Santa Virgem, mas também a invocarem sua intercessão (…). Maria nunca entregou no céu seu título de “Mãe de Jesus”. Ela ainda é sua Mãe, e enquanto o adora como seu Deus ela ainda mantêm seus relacionamentos maternais, e ele exerce com ela a disposição amorosa de lhe conceder seu pedido, como o melhor dos filhos para com a melhor das mães” (Ibid. 154-155).
A “Ave Maria” é um exemplo de uma oração à Maria. A Escritura ensina que há “um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (I Tm 2:5-8). A única vez que é registrada que Maria intercedeu com Jesus a favor de outro, ele a repreendeu por interferir com seu ministério (Jo 2:4). A oração é um ato de adoração, e oração para Maria, apesar das negações, é adoração a ela. Devemos adorar a Deus somente (At 10:25-26; Ap 19:10; 22:8-9).
O efeito de todas as tradições doutrinarias sobre Maria é dar a ela uma honra que não pertence a nenhum simples humano: “Agora de todos que participaram no ministério da Redenção não há ninguém que preencheu uma posição tão exaltada, tão sagrada, quanto o ofício incomunicável da Mãe de Jesus…”. (Ibid. 136). O próprio Jesus ensinou que aqueles que o obedecem têm um relacionamento mais íntimo com ele do que seus parentes físicos (Mt 12:48-50; Mc 3:33-35; Lc 8:21). O Senhor declarou que “os que ouvem a palavra de Deus e a guardam” são mais bem-aventurados do que sua mãe (Lc 11:27-28).
Maria era uma boa mulher e foi muito honrada por Deus, mas ela era apenas uma mulher, nada mais, e não deve receber mais honra do que qualquer outro bom ser humano (I Sm 2:30).
Keith Sharp – “The Faith of Our Fathers” – John Cardinal Gibbons.