Desvios Doutrinários

Paulo admoestou os anciãos da igreja em Éfeso pessoalmente “Cuidai, pois, de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue. Eu sei que depois da minha partida entrarão no meio de vós lobos cruéis que não pouparão rebanho, e que dentre vós mesmos (os anciãos) se levantarão homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si” (Atos 20:28-30).

Esta advertência solene, feita pelo apóstolo aos anciãos (também chamados bispos ou presbíteros) daquela igreja quando já ciente do fato de que jamais voltaria a vê-los novamente, é válida até hoje e merece a maior atenção, especialmente dos que fazem parte do presbitério de uma igreja.

Em primeiro lugar, é essencial que cuidem da sua própria condição espiritual. Não é possível conduzir o rebanho de Cristo em sua função de guias espirituais se eles próprios não estão em comunhão com Ele, submissos, obedientes e atentos aos Seus mandamentos.

Tendo sido constituídos bispos, ou supervisores, pelo próprio Espírito Santo, e não por mandato vindo de uma autoridade humana superior, ou resultante de uma eleição dos membros da igreja, sua autoridade vem de Deus e é somente a Ele que irão prestar contas pela sua atuação. Os membros da igreja devem reconhecer este fato e honrá-los, “especialmente os que labutam na pregação e no ensino” (1 Timóteo 5:17).

A pregação do Evangelho é vital para alcançar os perdidos. Este é o Evangelho da Graça de Deus, destinado a ser pregado a “toda criatura”, ou seja, todo ser humano (Marcos 16:15), e é o nome que melhor expressa a salvação gratuita para todo o mundo pela fé em Cristo como Senhor e Salvador divino. É a mensagem vibrante anunciando o favor estendido por Deus aos homens pecadores e sem o temor de Deus, que nada merecem e estão a caminho da perdição eterna.

O ensino da doutrina bíblica é vital para o amadurecimento da vida espiritual dos crentes e da igreja, e Paulo foi instrumento de Deus para transmiti-la com maestria às igrejas de Deus que se formaram a partir do seu tempo até hoje. Todos os crentes devem esforçar-se para conhecê-la, e os anciãos devem ser aptos para ensiná-la (1 Timóteo 3:2).

Paulo escreveu às igrejas da Galácia, que estavam declinando para a infidelidade, declarando-se espantado pela rapidez com que os gálatas estavam sendo persuadidos a seguir uma doutrina que era uma perversão do Evangelho de Cristo – a maldição divina (“anátema”) é o destino de anjo, apóstolo ou pregador que o modifique (Gálatas 1:8-9). Esse aviso solene está em vigor até agora, quando infelizmente vemos uma crescente multiplicidade de seitas e várias denominações que se desviam, vão além e aquém do Evangelho que Cristo e os apóstolos pregaram.

Suas publicações, seus programas de rádio, televisão e internet são bem feitos e até muito convincentes aos incautos. Mas até que ponto deve a pregação do Evangelho “agradar” aos ouvintes? (Gálatas 1:10). A eloquência, a retórica, a personalidade do pregador – estas coisas podem atrair aos ouvintes; porém, o que devia agradar ainda mais é a verdade, a certeza bíblica daquilo que se prega. Doutro modo, a pregação não agrada a Deus, nem aos que conhecem a verdade.

O sucesso dos propagadores de outros Evangelhos é uma tentação para muitos que buscam um crescimento numérico da sua igreja, a expensas da “simplicidade que há em Cristo” (2 Coríntios 11:3). A “simplicidade” aqui é uma tradução de uma palavra grega “haplotes” que também significa “singeleza”, “sinceridade” e “generosidade”. É preocupante quando vemos sinais claros de associações e desvios doutrinários, em algumas igrejas que se dizem ser fiéis aos ensinos bíblicos, em direção a “outros Evangelhos” chegando a não só receber em comunhão os seus propagadores, mas até permitir que dirijam ou participem dos “louvores” e tomem o púlpito. Não estarão essas igrejas cometendo erros tão graves como as antigas igrejas da Galácia e em Corinto?

Os anciãos têm a importante responsabilidade de “apascentar a igreja de Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue”. Este foi o preço pago para cada uma das Suas ovelhas, sendo a medida da preciosidade de cada crente salvo mediante a sua fé em Cristo. As palavras “seu próprio sangue” se referem ao sangue de Jesus Cristo, e ao dizer que Deus adquiriu a igreja com Seu próprio sangue Paulo confirma mais uma vez que Jesus Cristo é Deus, o Filho. É notável porque em nenhum outro lugar a Bíblia fala de Deus sangrar ou morrer. Deus é espírito, mas a segunda pessoa da Trindade, Deus, o Filho, fez-se carne entre nós. Assim, Deus foi Quem comprou a igreja, pagando com o sangue do Seu Próprio Filho, o abençoado Senhor Jesus.

Paulo em seguida profetizou que, depois da sua partida, a igreja de Éfeso sofreria ataques de fora e por dentro, até mesmo de alguns entre os próprios anciãos. Na igreja de Corinto havia “falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras” (2 Coríntios 11:13-15).

Os mestres de engano, lobos cruéis disfarçados de ministros da justiça, não poupam o rebanho. Dentro da própria igreja estes homens procuram lugares de destaque, falam perversões da verdade, e procuram afastar discípulos para si. A preocupação de Paulo era tanta que por três anos não cessou noite e dia de admoestar com lágrimas cada um dos anciãos da igreja de Éfeso. Estejamos também atentos a esse grande perigo vindo de fora e de dentro da igreja.

Vejamos algumas características desses indivíduos inimigos da verdadeira fé:

  1. Sujeição à escravidão da lei (Gálatas 2:4).
  2. Hipocrisia, falando mentiras (1 Timóteo 4:2).
  3. Cauterização (como com um ferro quente) da sua própria consciência (1 Timóteo 4:2).
  4. Proibição do casamento (1 Timóteo 4:3).
  5. Ordenança sobre a abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ações de graças (1 Timóteo 4:4).
  6. Ensino de fábulas profanas e de velhas (1 Timóteo 4:7).
  7. Rebelião contra a verdade, encontrada nas sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo, e na doutrina que é segundo a piedade (1 Timóteo 6:3).
  8. Orgulho, soberba (1 Timóteo 6:4).
  9. Ignorância da verdade (1 Timóteo 6:4).
  10. Delírio (Grego: noseo: tem náusea, metaforicamente está obcecado) com disputas (1 Timóteo 6:4).
  11. Argumentos sobre palavras (1 Timóteo 6:4).
  12. Inveja (1 Timóteo 6:4).
  13. Porfias (sobre doutrinas) (1 Timóteo 6:4).
  14. Injúrias (1 Timóteo 6:4).
  15. Suspeitas maliciosas (1 Timóteo 6:4).
  16. Disputas usando argumentos falsos, rejeitando a verdade por causa de entendimento corrupto (1 Timóteo 6:5).
  17. Engano com doutrinas de demônios porque estão privados da verdade (1 Timóteo 4:1, 6:5).
  18. Ganância, procurando obter lucro através da falsa piedade (1 Timóteo 6:5).
  19. Perturbação quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião com Ele (o arrebatamento da igreja) (1 Tessalonicenses 4:16).

Anciãos amados, estejam vigilantes contra os “homens, falando coisas perversas para atrair os discípulos após si”. É preciso afastar o fermento que pode levedar a massa toda (Gálatas 5:9), e não lhes dar oportunidade para atuar em trabalhos da igreja, nem de falar em suas reuniões.

Richard D. Jones