É justo que Teu prazer
Se concentre em Teu Filho;
Que Tu nos coloques à Tua vista,
Nele, o Teu Santo.
Os argumentos a favor da primeira afirmação desse versículo são bastante evidentes para o cristão mais simples; a graça divina que torna a segunda possível deixa todos perdidos em um espanto impressionante.
Diante do erro do ensino judaico que tornava a salvação dependente da observância externa da lei e da heresia do agnosticismo que procurava relegar o Senhor Jesus a uma posição de importância secundária, o apóstolo Paulo, em sua carta aos colossenses, tinha uma resposta devastadora: “Cristo é tudo e está em todos” (3:11). A primeira frase, de forma enfática e inequívoca, declara a preeminência do Cristo de Deus, enquanto a segunda é uma refutação firme e vigorosa de toda doutrina esotérica.
O Preeminente
Em vista do assunto que tinha diante de si, não é de surpreender que a oração de Paulo pelos santos em Colossos se transforme, sem interrupção, em uma confissão extasiada da posição gloriosa de nosso Senhor. Aqui, em uma linguagem concisa, mas majestosa, ele coloca diante dos cristãos colossenses a verdadeira posição de Cristo, no universo e na Igreja (1:15-18).
Em três versículos curtos, o Filho de Deus é revelado como a causa finita de toda a existência, visível e invisível, e é por Sua lei e ordem que o universo funciona como um “cosmos e não um caos”. Esse vislumbre transcendente Dele como “verdadeira imagem do Infinito” deve fazer com que nosso coração pare, pondere e louve.
Em todo o universo da bem-aventurança,
O centro Tu e o Sol,
O eterno tema do louvor é este,
Ao amado do Céu.
Foi a consideração reverente de todos os mundos que Suas mãos fizeram que inspirou o poeta a escrever esse belo hino, “How Great Thou Art” (Quão Grande És Tu). O mesmo aconteceu com Paulo, pois ao revelar a maravilhosa verdade sobre Aquele em quem “habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (2:9), sua própria alma foi envolvida em um turbilhão de veneração.
Em um versículo curto, ele reitera o que havia exposto de forma tão completa aos cristãos de Éfeso, a liderança de Cristo na Igreja. Ele encerra o texto com esta nota triunfante: “para que em todas as coisas Ele tenha a primazia” (v. 18). Que maravilha! Quão imponderável!
Além da preeminência dogmática da ocasião” (v. 18). Que maravilha, a própria leitura dessas palavras desperta o coração com uma “alegria em crer”. Este, “em quem estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (2:3), preenche todo o nosso horizonte e nos faz exclamar:
Digno, ó Cordeiro de Deus, és Tu,
Que todo joelho se dobre diante de Ti!
É exatamente dessa forma que o Livro divino, repleto de declarações articuladas e fundamentadas das verdades eternas, apresenta a nossas mentes e almas o ensinamento de Deus. Sempre e sempre, as afirmações inquestionáveis, escritas pelos servos de Deus, conforme a orientação do Espírito Santo, nos levam à adoração. A verdade, conforme revelada em Sua Palavra, nunca deve se tornar um mero acúmulo de fatos ou um código de ética, de forma abstrata. Ela deve ser sempre “Cristo, que é a nossa vida”, ativando as almas para que possamos magnificá-Lo e glorificá-Lo.
O Privilegiado
Se a contemplação do que aconteceu antes nos deixou cheios de louvor extático, qual será nossa resposta quando considerarmos o que significa ser colocado à vista de Deus, nEle, que é o brilho da luz incriada e a plena revelação do coração do Pai? Como um dos antigos, teremos de dizer: “Como pode ser isso?” (Jo 3:8).
Se a Bíblia fosse a obra do próprio homem, ela teria apresentado um relato distorcido do pensamento e da ação humana. No entanto, o Espírito Santo retrata o homem como ele é: “alienados e inimigos em sua mente por causa das obras iníquas”, mas graciosamente continua: “mas agora Ele reconciliou no corpo de Sua carne por meio da morte, para apresentá-los santos, inculpáveis e irrepreensíveis aos Seus olhos” (21-22). Como é surpreendente! Como é inacreditável!
Ó Cordeiro de Deus! Suas feridas sangrentas,
Com cordas de amor divino,
Atraíram nossos corações dispostos a Ti,
E uniram nossa vida à Tua!
Como criaturas do pó, “nascidos em pecado e formados em iniquidade”, jamais poderíamos esperar “estar diante de um Deus justo”. Nenhum ato de reforma, nenhuma remodelação do velho homem poderia nos preparar para Sua presença. É preciso haver uma nova criação. O primeiro requisito é uma vida divina, e isso o próprio Cristo providenciou. Ele disse: “Eu lhes dou a vida eterna” (Jo 10:28) e, como nossa citação de Colossenses indica, isso foi realizado por meio de Sua morte. Que condescendência infinita! Que amor imerecido!
Cristo não apenas nos presenteou com uma vida divina, mas também tomou providências para que tivéssemos uma natureza divina. Entre as grandíssimas e preciosas promessas reservadas para nós em Cristo está esta: “para que (…) sejais participantes da natureza divina” (2Pe 1:4). Como é triste que desconsideremos o que é nosso por direito! Quantas vezes deixamos de nos apossar daquilo que nos é oferecido Nele!
O salmista olhou para os céus e disse. “Quando contemplo os céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ordenaste, que é o homem, para que te lembres dele?” (Sl 8:3-4). Ao olhar para o espaço incomensurável, ele estava consciente da magnitude e do poder de Deus, o Criador. Ele podia entender, em certa medida, Sua grandeza e poder. Mas ficou surpreso com o fato de Deus se interessar por um pequeno grão em um corpo celeste infinitesimal. Ele estava surpreso com o fato de que Ele escolheria, entre as miríades de sons que preenchiam o vasto universo, a batida do coração do homem.
Esse mesmo Deus olhou para baixo, do pináculo da distância, e dos “éons” do tempo selecionou você e eu para estarmos diante Dele em toda a perfeição do Filho eterno, para compartilhar com Ele as glórias do Pai e desfrutar da munificência do Céu para sempre. “Por esta razão, dobro os joelhos ao Pai de nosso Senhor Jesus Cristo… para que possais compreender… a largura, e o comprimento… e a profundidade, e a altura, e conhecer o amor de Cristo… para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef 3:14-19).
John Robertson, “Alimento Para o Rebanho”, 1960.
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