O Senhor Jesus Cristo foi o único homem perfeito que jamais pisou esta terra. Era todo perfeito – perfeito em pensamento, palavras e ação. N’Ele todas as qualidades morais se encontravam em divina e, portanto, perfeita proporção. Nenhuma qualidade preponderava. N’Ele entrelaçavam-se singularmente a majestade que amedrontava e a delicadeza que dava um perfeito à vontade na Sua presença.
Os escribas e fariseus eram severamente censurados por Ele, enquanto que a samaritana e a mulher que era “pecadora” eram inexplicável e irresistivelmente atraídas para Ele. Nenhuma qualidade deslocava outra, porque tudo estava em bela e airosa proporção. Isto pode verificar-se em todas as cenas da Sua perfeita vida. Podia dizer a respeito de cinco mil pessoas famintas: “Dai-lhes vós de comer”; e, depois de estarem satisfeitas podia acrescentar, “Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca”.
A benevolência e a economia são ambas perfeitas. Uma não interfere com a outra. Cada uma brilha na sua própria esfera. Não podia despedir a multidão faminta; tampouco podia permitir que um simples fragmento do que Deus criara fosse desperdiçado. Supria com mão-cheia e liberal as necessidades da família humana, e, quando isso fora feito, guardava cuidadosamente cada átomo deixado. A mesma mão que estava sempre aberta a toda a forma de necessidade humana estava firmemente fechada contra toda a prodigalidade. Nada havia de mesquinho nem tampouco de extravagante no caráter do Homem perfeito, o Homem do céu.
Que lição para nós! Quantas vezes acontece conosco que a benevolência degenera em injustificável prodigalidade! E, por outro lado, quantas vezes a nossa economia é manchada pela exibição de um espírito avaro!
Por vezes os nossos corações mesquinhos recusam abrir-se às necessidades que se nos apresentam; enquanto que noutras ocasiões dissipamos por frívola extravagância o que poderia satisfazer muitos dos nossos semelhantes necessitados. Oh! prezado leitor, estudemos atentamente o quadro divino que nos é apresentado na vida de “Jesus Cristo, homem”. Quão confortante e edificante é para “o homem interior” estar ocupado com Aquele que foi perfeito em todos os Seus caminhos e que em tudo deve ter a “preeminência”!
Vede-O no jardim do Getsêmani. Ali, Ele ajoelha-Se no recôndito profundo de uma humildade que ninguém senão Ele podia mostrar; mas, todavia, adiante do bando do traidor mostra uma presença de espírito e majestade que nos faz retroceder e cair por terra. O seu comportamento diante de Deus é de prostração; mas perante os Seus juízes e acusadores de dignidade inflexível. Tudo é perfeito. O desapego, a humildade, a prostração e a dignidade são divinos.
Assim também quando contemplamos a combinação formosa das Suas relações divinas e humanas observa-se a mesma perfeição. Ele podia dizer, “Porque é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai?”. E, ao mesmo tempo, podia descer a Nazaré e dar ali um exemplo de perfeita sujeição à autoridade paternal (Lc 2:49-51). Podia dizer a Sua mãe: “Mulher, que tenho eu contigo?” E contudo ao passar pela agonia indizível da cruz podia confiar ternamente aquela mãe ao cuidado do discípulo amado. No primeiro caso, Ele separou-se no espírito de perfeito Nazireu, deu expressão aos ternos sentimentos do perfeito coração humano. A devoção do Nazireu e a afeição do homem eram igualmente perfeitas. Não houve interferência nem num caso nem no outro. Cada uma brilhava com brilho límpido na sua própria esfera.
Agora, a sombra deste Homem perfeito passa perante nós na “flor de farinha” que formava a base da oferta de manjares. Não havia nela um grão mal moído. Nada desigual, nada desproporcional, nada revelava aspereza. Não importava qual fosse a pressão vinda do exterior, a superfície era sempre uniforme. O Senhor nunca foi perturbado por quaisquer circunstâncias. Nunca teve de retroceder um passo ou retirar uma palavra. Viesse o que viesse enfrentava sempre as circunstâncias com aquela uniformidade admiravelmente simbolizada na “flor de farinha”.
Em todas estas coisas desnecessário é dizer que Ele está em flagrante contraste com os Seus mais honrados e consagrados servos. Por exemplo, Moisés, embora fosse “muito mais manso do que todos os homens que havia sobre a terra” (Nm 12:3), “falou imprudentemente com seus lábios” (Sl 106:33). Em Pedro vemos um zelo e uma energia que, por vezes, eram excessivos; e, também noutras ocasiões, uma covardia que o levava a fugir do lugar de testemunho e vitupério. Fazia afirmações de uma devoção que, quando chegava a altura de agir, não se via. João, que respirava tanto da atmosfera da presença imediata de Cristo, manifestou, por vezes, um espírito sectário e intolerante.
Em Paulo, o mais consagrado dos servos, descobrimos considerável desigualdade: dirigiu palavras ao sumo sacerdote que teve de retirar (At 23). Escreveu uma carta aos Coríntios, de que logo se arrependeu, para mais tarde não se arrepender (II Cor 7:8). Encontramos em todos qualquer falha, menos n’Aquele que “é cândido e totalmente desejável entre dez mil”.
Charles Harry Mackintosh