Vivemos hoje no tempo do silêncio na vida cristã. Não do silêncio de intrigas e mexericos; pois esse se recusa a calar. Refiro-me no silêncio medroso que trava a língua de muitos filhos de Deus que não sabem responder a razão da sua fé (I Pe 3:15). Esses tais não se tratam de pessoas acanhadas, tímidas, não! Eles estão nas melhores empresas, ocupam cargos de destaque e influência, frequentam shoppings e restaurantes e são bem informados. Dominam a tecnologia moderna, falam vários idiomas e estão “plugados” no mundo via internet com todos os recursos que ela pode oferecer.
“Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão” (Lc 19:40).
Esses crentes silenciosos, conscientes ou não, pouco ou nada contribuem para o avanço do Evangelho. Eles talvez não se deem conta de que a salvação que Deus fez em suas vidas constitui-se numa poderosa pregação, de alcance profundo às pessoas no convívio diário. Muitos são tão anônimos que mais parecem “agentes secretos” infiltrados entre as massas. Eles não se identificam, não mostram as credenciais da santidade, não se arriscam a dizer o que são. E se por algum motivo são descobertos, fazem como Pedro, horas antes da crucificação do seu mestre: “Homem, não compreendo o que dizes” (Lc 22:60).
Reflita nisso! É como se tais pessoas vivessem disfarçadas o tempo todo, tirando a camuflagem só no domingo, na igreja. Ou será o contrário? Disfarçam-se no domingo e nos outros dias vivem o que realmente são?!
A Bíblia mostra-nos claras orientações para não deixarmos de falar do grande amor de Deus. Não importa se sejamos taxados de fanáticos ou coisa do tipo; é preciso falar. É claro que é preciso fazê-lo com ética e sabedoria. Não temos que ser intransigentes movidos por um radicalismo doentio que assusta e inibe as pessoas, afastando-as ainda mais da verdade. É preciso olhar para o maior de todos os exemplos Jesus! Ele ia às festas, não era um anônimo. Lá ele fazia a diferença, contagiava com sua presença (Jo 2:1-12). Ninguém que cruzasse o caminho do Mestre poderia ser o mesmo depois do encontro. O impacto era tão grande e tão visível que consciências eram despertadas, corações eram transformados e vidas rompiam definitivamente com o pecado (Jo 4:5-30). Não podemos ser chamados cristãos, até que haja em nós a mesma determinação.
A história da Igreja primitiva, registrada no livro de Atos, poderia ser outra se não fosse a ousadia daqueles primeiros cristãos. Eles eram caracterizados pela coragem em anunciar uma mensagem sob os braços fortes da perseguição tanto de judeus fanáticos quanto do império romano (At 4:13). Nos momentos extremos, quando era ordenado que não fizessem menção do nome de Jesus (At 4:16-18), a despeito de serem presos, torturados e até mortos, a determinação sempre foi a mesma: “Pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (At 4:20). Agora, atente para um detalhe importante: esses pioneiros heróis da fé, não se intimidavam com o ódio esmagador da perseguição, antes oravam para que possuíssem coragem e intrepidez para anunciarem o Evangelho (At 29-31).
Há quem pense que esse vigor espiritual ficou detido no passado, servindo-nos apenas como uma moldura antiga, amarelada, digna de admiração. Afinal, hoje os tempos são outros, argumentam. Seria melhor dizer que hoje os crentes é que são outros. O Evangelho é o mesmo, mas a “fibra” espiritual, a garra para o testemunho pessoal é que anda em baixa.
Durante a era pós canônica, muitos outros servos de Deus, preferiram ser martirizados, jogados às feras, a negarem o Nome de Cristo. Entre eles estava Policarpo de Esmirna, que pouco antes de ser martirizado expressou sua fé, dizendo: “Faz oitenta e seis anos que o sirvo, e nenhum mal me fez. Como hei de maldizer a meu rei, que me salvou?”. Logo após, quando finalmente o imperador romano entendeu que esse grande homem de Deus jamais negaria sua fé, Policarpo foi queimado vivo. E assim foi com tantos outros, que deram suas vidas por uma causa maravilhosamente nobre a causa de Cristo.
Hoje, não corremos esse risco. Pelo menos não dessa forma. E talvez seja exatamente por isso, pela ausência de uma perseguição aberta, frontal é que somos tão pálidos no nosso evangelismo pessoal. Falamos de futebol, de política, do clima, da economia e às vezes (ou quase sempre?) falamos mal uns dos outros. O que nos falta afinal? Por que nos calamos? Precisamos possuir a mesma resolução que invadiu o coração do apóstolo Paulo (I Cor 9:16). É hora para aproveitarmos a liberdade que temos, e com determinação levar outros a Cristo.
Todo crente de hoje, deveria estar informado sobre a situação dos nossos irmãos em países onde ainda há perseguição contra o Evangelho. Na Coréia do Norte, não há somente bombas atômicas e um ditador baixinho, excêntrico e com fisionomia cômica. Lá há uma dura perseguição contra a fé cristã e os que ali estão, quando presos, são torturados e até condenados à morte. Da mesma forma está ocorrendo no Vietnã, no Iraque, na Turquia e tantos outros países. Lá estão nossos irmãos, que ainda que paguem com a própria vida, não se intimidam ao anunciar o único nome digno de ser adorado o Nome de Jesus.
Que tenhamos coragem, disposição para não engrossarmos a fileira dos crentes em silêncio.
Adonias Gonçalves