Como o Cristão Deve Considerar a Morte?
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou” (Eclesiastes 3:1-2)”.Melhor é a boa fama do que o melhor unguento, e o dia da morte, do que o dia do nascimento de alguém” (Eclesiastes 7:1).
O dia da morte do cristão é melhor do que o dia do seu nascimento. Contudo, seu nascimento foi essencial para o dia da sua morte ser melhor. Quando alguém diz que uma segunda coisa é melhor do que a primeira, deve-se entender que a primeira coisa tem valor intrínseco. Todos os dias do cristão em Cristo sobre a terra são bons, mas estar com Cristo na glória eterna será melhor. Paulo foi abençoado em Cristo sobre a terra, mas o apogeu da bênção para Paulo seria estar com Cristo na glória:
“Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne” (Filipenses 1:21-24).
Quando as coisas estão certas, uma conclusão é melhor do que um princípio. Portanto, o fruto é melhor do que a flor, a colheita é melhor do que a semeadura, a vitória é melhor do que a guerra, a recompensa é melhor do que o dificultoso percurso do trabalho, e o bom vinho é guardado para a conclusão da jornada (João 2:1-11).
A transformação da água em vinho foi o primeiro milagre realizado por Cristo para mostrar ser Ele mesmo o cumprimento das cerimônias do Antigo Testamento. Quando o homem tiver feito tudo o que ele pode, uma grande deficiência ainda permanecerá:
“Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Romanos 8:3-4).
O milagre foi operado em silêncio profundo. Nada é declarado com respeito ao método de operação. Nenhum meio foi empregado. O mesmo é verdadeiro na regeneração. Nada é declarado sobre como Cristo mudou a água em vinho. Ninguém pode traçar os princípios, pois um véu está posto sobre os atos criativos de Deus.
O nascimento introduz a depravação no mundo. Davi disse:
“Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Salmo 51:5)”.Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras” (Salmo 58:3).
A morte remove essa depravação. A morte que no final Paulo morreu foi apenas o estágio final de uma morte que tinha sido contínua por toda a sua peregrinação cristã (2 Coríntios 4:10-5:10).Jó disse:
“O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de inquietação. Sai como a flor e se seca; foge também como a sombra e não permanece” (Jó 14:1-2 ).
Nunca passa um dia na vida de um cristão quando ele não é apresentado com objetos que deveriam lhe fazer refletir sobre a sua partida final. Nenhum estágio da vida, da infância à sepultura, é isento de inquietações. Até os melhores dos santos quase não têm tempo para vestir suas almas antes de deixaram os seus corpos. A vida humana é lisonjeira em seu princípio, pois ela vem como uma flor, mas ela breve vai embora e parte sem retorno. A morte leva o cristão ao descanso eterno:
“E ouvi uma voz do céu, que me dizia: Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, e as suas obras os sigam” (Apocalipse 14:13).
Essa é uma das sete bem-aventuranças registradas em Apocalipse (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7; 22:14). A bem-aventurança prometida em Apocalipse 14:13 será um conforto especial durante a tribulação aos santos que não tiverem sido assassinados.
O nascimento traz todos a um estágio de morte:
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo” (Hebreus 9:27).
Ninguém deveria zombar do julgamento até que ele pudesse zombar da morte. Ninguém, senão uma pessoa insensível, ridiculariza a morte física. O que aconteceu a Adão é verdade para todos os homens:
“E foram todos os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu” (Gênesis 5:5).
Ler a história dos descendentes de Adão pode não ser interessante, mas certamente estabelece um fato importante – todo ser vivente é apontado para morrer. O outro lado dessa moeda revela que a morte é a entrada tanto para a perfeição ou glória eterna como para a punição eterna.
Deus é onipresente. Assim como Deus não pode ser medito pelo tempo, Ele não pode ser limitado pelo espaço. Além do mais, assim como nenhum lugar pode estar sem Deus, nenhum lugar pode cercá-Lo ou contê-Lo.
Portanto, Deus está presente com todos pela presença de Sua Deidade, mas Ele está presente com Seus santos pela presença de Sua eficácia graciosa no tempo e de Sua eficácia graciosa na eternidade.Lucas 16:19-31 registra um contraste entre a vida e a morte na história de um certo homem rico e um certo homem pobre chamado Lázaro. O nome “Lázaro” significa “Deus socorre”. O homem rico não era importante o suficiente para ter o seu nome mencionado. Seu nome não estava registrado no Livro da Vida. Houve uma grande diferença em suas mortes. O homem pobre morreu (nenhum funeral mencionado), e ele foi carregado pelos anjos para o seio de Abraão. O homem rico morreu e foi enterrado (Jeremias 9:17-18.). Há um contraste na eternidade entre o homem rico sem nome e o homem pobre com nome, que tinha sido socorrido pelo Deus soberano.
O relato de Cristo do homem rico e de Lázaro não deve ser deixado de lado sem considerar os versículos 26-31. O homem rico era mais aguçadamente consciente da vida futura do que uma pessoa nessa vida. Ele sabia o que estava acontecendo nos três reinos:
- Seu próprio reino no Inferno (24);
- O reino que ele viu, no qual Abraão e Lázaro estavam (25-26);
- O reino no qual seus cinco irmãos viviam (27-31).
“Hades” é tabu no pensamento moderno. A punição é um mito? Remova a punição e um novo ímpeto ao crime aparecerá.
A visão que o cristão tem da morte é a seguinte:
1. A morte é a liberação final da salvação. Há mais na salvação do que meramente escapar do inferno ou ir para o céu quando alguém morre. A salvação completa não é experimentada toda de uma só vez. Cristo morreu pelas ovelhas – tempo passado. Ele vive pelas ovelhas – tempo presente. O Senhor Jesus está vindo para as ovelhas – tempo futuro. Quando o homem caiu, a queda foi completa. Seu espírito morreu imediatamente. Sua alma se degenerou progressivamente. Seu corpo morreu no final. A redenção segue a mesma ordem. Os eleitos são justificados imediatamente, santificados progressivamente e glorificados no final.
2. Morte não é cessação, mas separação da existência. O crente passa do tempo para a eternidade. Paulo usou o substantivo grego “kerdos” significando ganho, o adjetivo “kreitton” significando maior, melhor ou superior, e o advérbio “mallon” significando mais ou muito mais em Filipenses 1:21-23. A combinação das palavras prova que o cristão falecido não se torna inferior a uma pessoa quando ele morre: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada… E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Romanos 8:18, 23). O corpo redimido será a finalização ou perfeição do que Deus o Espírito Santo começou na regeneração. O Espírito aplicou o que o Filho de Deus providenciou em Sua morte. O que o Filho providenciou foi em favor do eleito que o Pai lhe deu antes da fundação do mundo.
3. A morte é o tratamento perfeito para todas as doenças espirituais e físicas. Não é a morte da pessoa, mas é a morte dos pecados da pessoa. O pecado é a parteira que trouxe morte ao mundo, e a morte será a sepultura para o pecado enterrado. A morte entrou pelo pecado, e o pecado sairá pela morte. Enquanto os cristãos estão na carne eles experimentam renovação interna e declínio externo (2 Coríntios 4:8-18). Quando os sofrimentos são comparados com a glória eterna, eles consideram os mesmos como nada (2 Timóteo 2:12; Romanos 8:17).
4. A morte deveria ser vista como descanso do pecado, tristeza, aflições, tentações, deserções, irritações, oposições e perseguições (Apocalipse 14:13; Romanos 5:3-5; 2 Coríntios 4:7-12). Os redimidos não são vasos de mérito, mas vasos de misericórdia. O barro não é colocado na roda da providência e deixado sem mudança. O vaso de Deus deve remir o tempo, pois os dias são maus (Efésios 5:16). Isso faz o descanso celestial do cristão ainda mais maravilhoso.
5. Morte é conquistar plena liberdade de todos os inimigos internos e externos. Os cristão serão livres do pecado interior (Romanos 7:14-25). Eles também serão livres de todas as forças das trevas e das artimanhas do Diabo (Efésios 6:10-17).
6. A morte deveria ser vista com a certeza de se ter uma escolta ilustre para escoltar o cristão (Lucas 16:22), seguindo seu caminho através do vale da SOMBRA da morte:
“Ainda que eu ande pela sombra da morte (trevas profundas), não temerei mal algum” (John Joseph Owens). A escuridão pode ser intensa, mas ela é apenas uma sombra. O cristão não teme mal algum, pois “Tu (seu Pastor) estás comigo” (Salmo 23).
7. O cristão olha para a morte como uma partida da imperfeição para a perfeição (2 Timóteo 4:6). Paulo viveu uma vida espiritual progressiva. Ela não foi ausente de dificuldade, perseguição e sofrimento. Contudo, essa vida estava em preparação para a morte, pois ele aguardava a experiência com confiança alegre e expectativa esperançosa.
W. E. Best – Sermão pregado na “Kingwood Assembly of Christ“, no Domingo de 29 de Setembro de 2002.