De que modo Deus, depois de calar “toda boca” na família humana inteira, e pronunciar “todo homem” culpado diante dele, Ele poderá salvar qualquer um com justiça? Ouça a resposta abençoada do Espírito de Deus: “Pois é Cristo quem morreu” (Rm 8.34). “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).
A culpa do pecado recaiu sobre o Cordeiro, segundo os desígnios do próprio Deus. Toda indagação da consciência perturbada quanto à penalidade aplicada ao pecado é respondida por outra pergunta – a qual perdurará por toda a eternidade – “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mc 15:34).
Quem poderia responder esse “Por que?” misterioso do Calvário? Vamos fazer uma pausa e investigar. Os demônios confessaram ser Ele o Santo de Deus. Poderiam os poderes das trevas nos dar uma razão? Impossível. O próprio Satanás viu-se frustrado toda vez que se aproximou daquele que podia dizer, “Porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim”.
Os anjos ministraram a Ele depois de sua tentação no deserto. Não sabiam que Deus se agradava dele e que fizera sempre aquilo que dava prazer ao Pai? Seria possível, no entanto, responderem a esta pergunta momentosa? Repetimos, impossível: “para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (1 Pe 1.12).
Seus discípulos viram como a boca dos opositores fora silenciada pelo seu desafio sem resposta: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46) Eles deviam conhecer as palavras de Davi nas escrituras do Velho Testamento: “Fui moço, e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (SI 37.25). Vemos agora o único Homem absolutamente justo que já pisou nesta terra – “Jesus Cristo, o justo” – e Ele foi desamparado! Maravilha das maravilhas! – Por que? O homem não tem resposta paia essa pergunta; nem mesmo aqueles mais dedicados a Ele.
Deus o Pai, atraíra mais de uma vez a atenção do céu e da terra para o fato de que no Abençoado e Humilde, Ele encontrara perfeita satisfação e prazer. Irá Ele abrir novamente os céus para dar uma resposta a esse “Por que?” misterioso? Não. O bendito portador de pecados é deixado para sentir, como só Ele poderia sentir, em meio às trevas daquelas três horas, o terror dessa palavra: “DESAMPARADO”.
Outros haviam clamado em tempos idos; suas vozes foram ouvidas, eles foram salvos; mas atente às palavras d’Ele, enquanto alcançam e ferem nosso coração, em meio àquelas trevas terríveis: “Eu clamo… e tu não me ouves” (Sl 22.2). Não existe, portanto, resposta à pergunta? Bendito seja Deus, ela existe, caso contrário, adeus a qualquer esperança de paz para você e para mim. A fé encontrou uma resposta. De onde a tirou? Se os demônios, anjos, homens, não puderam fornecê-la; se Deus não o fez, qual a sua procedência? Ela saiu dos lábios d’Aquele que fora Esquecido! Ele justificou a Deus por Se esquecer d’Ele.
Quão precioso! Precioso e inconcebível! Repita isso sempre e jamais deixe que essa lembrança se apague. Ele justificou Deus por desampará-lo. Ouça as suas palavras benditas no Salmo 22.3, “PORÉM TU ÉS SANTO, o que habitas entre os louvores de Israel”. Foi como se dissesse: “Sois tão santo que não poderias fazer menos que isso, em toda justiça, além de voltar as costas ao pecado, mesmo quando teu amado Filho o levava sobre Si”. É verdade! Quando se trata de julgar o pecado, não pode haver alívio, nenhuma resposta, até que a taça da condenação se esgote.
Quanta solenidade, todavia quanta beleza nisso tudo! Como o pecador perturbado se sente atraído para esse precioso Salvador, enchendo seu coração de paz e fazendo-o transbordar de louvor. Que maior prova podemos ter então de que os pecados dos crentes em Jesus já foram julgados com justiça – julgados na pessoa de seu adorável Substituto? Deus pode ser agora então “justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3: 26) Eles não são justificados pelo fato de nada poder ser dito contra a sua pessoa, mas sim pelo sangue precioso que, de uma vez por todas, satisfez todas as acusações que o próprio Deus poderia fazer contra eles.
Adorai-Lhe, Adorai-Lhe,
Sua gloriosa obra consumou
Louvai-Lhe e Exaltai-Lhe,
Do pecador o juízo tirou
E sobre o Filho de Deus o lançou
“Está consumado” clamou em dor
na cruz ao morrer por mim
Fui culpado e pecador
Mas Cristo me salva assim.
Vemos assim que os pecados do crente não escaparam do castigo. O Evangelho não fala de um Deus cujo amor foi expresso passando por alto o pecado, mas de um Deus cujo amor pelo pecador só poderia manifestar-se quando seus direitos santos contra o pecado tivessem sido rigorosamente satisfeitos e sua penalidade suportada até o fim.
“Que seja o pecado julgado”
Sobre a cruz está escrito.
“E o pecador libertado”
Oh gozo bendito!
George Cutting