Aqueles que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não pode ser abalado, mas permanece para sempre. Como estão os montes ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está ao redor do seu povo, desde agora e para sempre. salmos 125:1-2. Os salmos 120 a 134 formam por si só um pequeno volume, chamados os salmos ou Cânticos dos Degraus. Eles falam de o escalar das profundezas, do vale escuro, para as alturas ensolaradas, que é onde o Senhor sempre deseja que o seu povo esteja.
O salmo 84 fala do passar através do vale de Baça, mas nesta conexão devemos sublinhar as duas palavras “passar através”, porque este vale nunca significou ser o lugar da habitação do povo de Deus, mas somente uma passagem através do qual eles passam. Sião, o lar montanha, é onde Deus quer que seu povo habite. É certamente instrutivo observar que o Senhor estabeleceu períodos de ascensão como uma ordenança em Israel; todos os homens tinham que subir a Jerusalém três vezes por ano.
Deus quis que essas ordenanças de subidas fossem de natureza governamental; isto é, o povo de Israel não era para ser governado pelas planícies ou vales, mas para ser um povo das montanhas.
Eles deveriam ter que passar um tempo, talvez muito tempo, aqui em baixo, mas a vida normal deles foi continuamente interrompida pelo comando de subir. A vida deles, sua vida real, estava em cima, nos lugares altos. Se pudéssemos ter nos ajuntado às suas caravanas, assim como três vezes ao ano eles ficavam prontos e seguiam a marcha, deixando os vales e planícies e seguindo acima em direção a Jerusalém, teríamos achado que essas jornadas tinham uma tremenda influência na vida do povo.
Essas canções, por exemplo, se tornaram canções para todos os tempos; elas foram providenciadas para os degrais daquelas ocasiões particulares, mas elas não foram reservadas para “as três vezes por ano”, tornando-se as canções perpétuas de Israel em que nós próprios encontramos muito de valor permanente. Isto é porque o cuidado do Senhor para com o seu povo é que eles não devem habitar nos vales profundos e escuros, embora de vez em quando eles podem ter que passar através dos vales, mas que eles devem ser um povo das alturas, com suas vidas governadas por aquilo que está em cima e não pelo que está em baixo.
Tenho ficado muito impressionado com o lugar de destaque que as montanhas tinham na vida e no ministério do Senhor Jesus, com pode ser verificado no Evangelho de Mateus, que começa no capítulo 5 com o Monte da Instrução e termina no capítulo 28 com o Monte da Comissão. Pode ser observado que através de todo o Evangelho os eventos de pico estavam associados com montes, como se eles encontrassem uma resposta no próprio coração e natureza de nosso Senhor. Não é verdade que Jesus desceu e passou através deste vale de Baça, a fim de nos encontrar e nos levantar dele?
Toda a sua vida, em cada aspecto e atividade de oração, ensino e obra, foi uma vida num plano ascendente, um levantar, um retorno em direção ao céu, que tomaria de volta com Ele tantos outros quanto possível. Não havia nada no nível baixo dos caminhos deste mundo para lhe dara prazer, assim, não é surpreza que Ele amasse as montanhas altas.
A própria natureza e espírito do Senhor Jesus era uma completa contradição do curso natural do movimento humano, que é constantemente escorregadio e cada vez mais baixo. O Senhor Jesus está em direto contraste com isto; o completo efeito e influência de sua presença em todo lugar sendo para levantar. Ele somente veio a este vale para nos levantar dele.
ASCENDÊNCIA
Montanhas sugerem e representam elevação, ascendência –”Levanto os meus olhos para os montes”. Para tirar os nossos olhos daqui – egoísmo, circunstâncias e tudo mais – e fixá-los naquele que é o Senhor de todos, acima e exaltado no seu trono, é em si mesma uma elevada experiência. “Olhar para Jesus” é a única coisa que nos trará para fora do vale de desespero, para onde os descansos de nossa visão afetam o curso de nossas vidas. É em cada sentido uma experiência que nos ergue, para nos unir ao Senhor no céu; é moralmente elevado e espiritualmente emancipador.
Talvez o que muitos de nós precisamos é de um nível mais elevado de vida. Somos tão pequenos. Nosso vale é um lugar que nos circunda e nos limita, é estreito. Devemos alcançar às montanhas, para acharmos amplidão, com o senso de sermos libertados da escassez de vida, livres da pequenez e mesquinharia. Se isto é verdade, naturalmente nos ajuda a interpretar uma verdade espiritual, fazendo-nos lembar de que Deus nos “ressuscitou juntamente com Cristo”.
Individualmente e coletivamente na Igreja, a maioria dos problemas, da fraquezas e até das paralisias que sofremos é devido à nossa falha em manter nossa verdadeira posição celestial em Cristo. Se pudéssemos ir mais alto, nos mover para a terra mais alta e deixar para trás as coisas que pertencem às sombras e aos gases venenosos, poderíamos nos encontrar vivendo a vontade poderosa de Deus em nós.
SEGURANÇA
Então, como indica o salmista, não é somente ascendência que vem das montanhas, mas também segurança. “Assim como os montes estão ao redor de Jerusalém, assim o Senhor está em volta do seu Povo…”. As alturas são os lugares das fortalezas, para os refugiados. E nossa força, nossa segurança é para escaparmos das coisas baixas, para deixarmos pra trás o que é insignificante e desprezível, e irmos para junto do Senhor, nas alturas. Nos lugares baixos tornamos-nos brinquedos das más influências e correntes nervosas – há sempre poderes malignos que estão operando na escuridão. Encontraremos libertação e segurança nos lugares altos.
O maligno e as forças malignas estão tremendamente preocupadas em nos manter aqui em baixo, assim eles podem nos molestar e destruir nosssas vidas espirituais. Aqui em baixo… em baixo… este é o impulso e a direção do maligno, o qual planeja nos pegar e nos manter a em baixo, no lugar em que ele tem força. Nosso refúgio não é lutar na terra baixa, mas fugir para as alturas, escapar para o Senhor no esconderijo do Altíssimo.
Eu penso que o Senhor Jesus fez exatamente isso. No tempo em que Ele estava cosciente de toda pressão, das condições terrenas que o arrastavam para baixo, e dos desapontamentos, até mesmo com os seus discípulos, Ele dizia: Deixa-me retirar-me por um tempo e ir para os montes, para Meu Pai. Foi assim que Jesus era capaz de retornar maravilhosamente fortificado, e nós podemos fazer o mesmo, encontrar o nosso caminho de escape na companhia de Deus, nas alturas.
VISÃO
Há um ponto a mais acerca das montanhas, um muito óbvio, isto é, que elas são lugares de visão. Lugares de onde se pode ver as grandes distâncias. No final da Bíblia, somos levados para um monte muito grande e alto, de onde nos é mostrada a Cidade Santa, a Nova Jerusalém, assim, a última cena na Bíblia é uma cena da montanha, e a montanha é uma verdadeira visão , que mostra a Igreja em sua plena expressão de glória celestial.
Seguramente é de suprema importância que o povo de Deus deva ter sua visão ampliada. Nossa visão é tão pequena, nossos propósitos na vida são tão pequenos; nossa concepção de salvação geralmente é tão pequena. Nós temos a tendência em estreitar tanto os nossos pensamentos que nos é importante ascendermos para o Monte da Visão, porque a perda de visão sempre causa “um cair em pedaços”. Aqueles cristãos que não possuem um grande senso dos propósitos de Deus e de Sua habilidade para alcançar seu objetivo e completar seus intentos, irão se achar à mercê das dúvidas e medos que derrotam os homens aqui em baixo, nesta terra.
A GRAVITAÇÃO SUPERIOR
O leitor pode concordar com tudo o que tem sido dito e ainda ficar confuso em com tal elevação para as alturas pode ser percebida. A resposta é que já há uma força trabalhando na nova natureza do cristão. O início da vida cristã é a descoberta de que Cristo veio do céus para nos levar para lá, e por isso nos tem dado a vida de cima.
A partir do dia em que o homem realmente chegar à uma união vital com o nosso ressurreto e elevado Senhor, então começa dentro dele um processo de gravitação superior. Ele agora descobre que ele realmente não pertence à terra, mas que tem uma natureza celestial que responde ao chamado de Deus para a vida no alto. Enquanto ele progride, ele descobre que sua nova vida o leva cada vez mais para longe do mundo em que ele vive, e embora isto o envolva em algumas dificuldades e até mesmo embaraços, ele não consegue se achar em casa aqui, como antes ele conseguia. Esta puxão interior é uma evidência que ele é uma criança da terra celestial.
A consumação da vida do crente é certamente para cima – pois ele será arrebatado para estar para sempre com o Senhor. Assim, a vida é um constante movimento para cima, desde seu início até o seu final glorioso. Isto significa que, como o seu Senhor, ele precisa aprender a responder à gravitação superior, não se agarrar aos interesses e possessões terrenas, nem se curvar às considerações terrenas, mas dar sempre uma resposta interior ao chamado celestial.
No que diz respeito a Cristo, até mesmo a sua ida física para um monte ilustrava quão desejoso Ele estava em responder a este chamado. E eu acredito que quando finalmente Ele ascendeu para o Pai, seu coração estava cheio de profunda satisfação em ir para casa. Será o mesmo conosco. Nós não iremos com relutância e arrependimentos; não, iremos ascender para onde pertencemos e para o que fomos feitos; ascenderemos para a última ascendência, e fazendo isso, estaremos respondendo a tudo em nossa nova constituição. Espiritualmente nós somos um povo da montanha.
Vamos agora procurar graça dia após dia, para que nós possamos repudiar todas as propostas do mundo e recusar habitar no vale. Frequentemente temos que passar por ele, mas nunca devemos nos estabelecer lá, porque pertencemos às alturas, em Cristo. “Não temos aqui uma cidade permanente, mas buscamos aquela que está por vir”. (Hebreus 13:14).
Theodore Austin-Sparks – Palavras do Evangelho