À primeira vista, parecem estranhas as palavras deste hino. Como pode uma pessoa ser, ao mesmo tempo, cativa e livre? Como pode ser vencedora, sendo submissa? Ou, ainda, ter a vitória estando desarmada e presa a grilhões? Não é isto um paradoxo? Foi em consideração a isso que o compositor americano Donald P. Hustad compôs para este hino uma nova música, à qual deu o nome de “Paradoxo”. Há muitos paradoxos nas Escrituras!
“Quando estou fraco, então é que sou forte” (II Cor 12.10); “Quem quiser amar a sua vida, perdê-Ia-á” (Mt 16.25); “Aquele que entre vós for o menor de todos, esse é que é grande” (Lc 9.48).
Cada um destes versículos apresenta um aspecto diferente da mesma verdade espiritual.
A ideia do paradoxo pode ser bem ilustrada pela comunhão no casamento. Ao unirem-se em matrimônio, dois cônjuges entregam-se um ao outro, prometendo esquecer todos os demais para amarem-se exclusivamente um ao outro, ficando fiéis “Até que a morte os separe”. Quando um casal une-se um ao outro e repartem entre si as suas vidas, dando e recebendo verdadeiro amor, cada um encontra maior satisfação em dedicar-se ao outro. Em subjugar a própria vontade em beneficio do outro, cada um se sente mais realizado e tem prazer em se entregar. submetendo-se, voluntariamente, a uma gostosa escravidão. E é assim que, “na escravidão do casamento”, ambos encontram a “libertação”!
O mesmo se dá conosco relativamente à nossa comunhão com Deus; esta verdade é bem acentuada nas palavras do Senhor Jesus: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto” (Jo 12.24). Eis aí um dos mais lindos fenômenos da natureza: um grão de trigo precisa desintegrar-se e decompor-se na terra para que possa se reproduzir. É somente morrendo que ele pode continuar vivo!
Sem dúvida, o Senhor referia-se à Sua própria morte e aos resultados que ela produziria: milhares de homens e mulheres salvos eternamente. De fato, Ele não ficaria só. Mas no versículo seguinte (25), o Senhor aplica esta mesma verdade a cada um de nós, ao dizer: “Quem ama a sua vida, perde-a; mas aquele que odeia a sua vida neste mundo, preservá-la-á para a vida eterna”. Nós também precisamos morrer para os nossos próprios desejos e ambições se quisermos produzir frutos espirituais em nossas vidas.
É esta a verdade enfatizada por Gorge Matheson no hino que estou apresentando. Somos fracos seres humanos, mas tomamo-nos fortes quando Cristo, como Mestre e Senhor, exerce o Seu pleno domínio sobre nós. É somente quando nos tomamos escravos voluntários de Cristo que podemos desfrutar a verdadeira liberdade!
Sem dúvida, o autor deste hino, o Sr. Gorge Matheson, aprendeu esta lição, conforme demonstra o hino que escreveu.
Como estudante, era ele um jovem talentoso e brilhante, mas com apenas dezoito anos de idade ficou quase totalmente cego e teve de desistir de suas pesquisas no campo da apologética cristã, matéria que muito amava e à qual se dedicava com grande entusiasmo. Matheson passou então a dedicar todo o seu tempo à prédica e à literatura. Propagou a Verdade de Deus através dos seus escritos, mediante os quais Deus transformou a vida de muitas pessoas. Em seu ministério oral, na Escócia, exerceu grande influência sobre todos os que ouviram a sua pregação, inclusive a Rainha Vitória.
Matheson ficou fisicamente cego, mas alcançou uma profunda visão de Deus e da Verdade, que tornou o seu ministério muito mais eficiente. Sem dúvida nenhuma, poderia ele dizer, testemunhando este paradoxo em sua própria experiência: “Quando tornei-me cego, foi que realmente comecei a ver!”.
“Cativa-me, Senhor” tem como tradução para o português o trabalho de Eduardo Henrique Moreira (1886 – 1980). A música, intitulada “Leominster”, é de autoria do compositor George William Martln.
Cativa-me, Senhor
Cativa-me, Senhor, pra livre eu ser, então;
Submisso, faz-me vencedor por essa submissão.
Nos braços Teus da amor grilhões encontrarei
E, desarmado, ó Salvador, vitória, gozarei!
Minha alma, sem achar um alvo, ó Salvador,
Qual folha, andava a esvoaçar das brisas ao sabor,
Porém, a sujeição ao jugo que Tu tens
Traz ao meu pobre coração da liberdade os bens.
Não me pertenço já, pois me entreguei a Ti;
Se toda honra gozas lá, desejo honrar-Te aqui.
No rude batalhar serei triunfador
Se, derrotado, me prostrar perante o meu Senhor!
Letra: George Matheson – Nasceu no dia 27 de março de 1842 em Glasgow, Escócia. Faleceu no dia 28 de agosto de 1906 em Avenell House, North Berwick, Edinburgh, Escócia. Descansa no jazigo familiar no cemitério de Glasgow, Escócia.
Música: George William Martin (1828-1881)