Basta uma leitura cuidadosa para o crente perceber que as sete parábolas de Mateus 13, têm um significado especial. Nelas estão contidos “os mistérios do reino dos céus”. A palavra “mistério” indica um significado encoberto, porém revelado pelo Espírito Santo ao crente. O verso 13 indica um começo: “Eis que o semeador saiu a semear”, enquanto que os versos 49 e 50 indicam um fim: “Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus dentre os justos…”.
O que temos nestas sete parábolas é uma profecia do curso da cristandade através dos séculos até a descida do Senhor Jesus Cristo à terra no dia da Sua manifestação. As parábolas dividem-se nos seguintes dois grupos:
- As quatro primeiras foram apresentadas junto do mar à multidão e destacam a obra de Satanás para atacar o propósito de Deus;
- As três últimas foram apresentadas dentro de casa para os discípulos no verso 36 e demonstram como a operação e o propósito de Deus hão de triunfar em fim.
Neste estudo vamos nos ocupar apenas do primeiro grupo, cuja primeira parábola é a do semeador.
1. PARÁBOLA DO SEMEADOR – Esta parábola ocupa os versículos 1 a 8 e 18 a 23. Não é necessário entrarmos nos detalhes interessantes desta parábola. Queremos chamar a atenção do leitor à atividade do diabo como se vê nela. Lemos no verso 4 que “vieram as aves e comeram-na”, isto é, comeram a semente. O Senhor Jesus explica no verso 18 que isto significa a obra satânica de arrebatar a boa semente semeada na pregação do Evangelho. Todo o verdadeiro pregador do Evangelho é testemunha da realidade deste problema.
2. A PARÁBOLA DO TRIGO E DO JOIO – Esta parábola ocupa os versos 24 a 30 e 36 a 43. Joio é o inço que se assemelha muito ao trigo. Dizem que é o inimigo do plantador no Oriente Médio. A parábola explica no verso 39que o joio semeado entre o trigo é obra do inimigo.
Uma das armas principais de satanás para desfazer a obra de Deus é a imitação. É triste ver, mesmo na época do Novo Testamento como alguns “se introduziram” sem serem percebidos entre o povo de Deus (Jd 4). Eles eram tão parecidos com os verdadeiros crentes que somente o tempo manifestou que não eram reais. Com esta arma o Inimigo já prejudicou muito a obra de Deus!
3. A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA – Esta parábola ocupa os versos 31 e 32, e nela vemos um crescimento extraordinário. É explicado que o grão de mostarda é a mais pequena de todas as sementes e neste caso ela se torna a maior das plantas e serve para repouso para as aves do céu.
Para interpretá-la ainda nos valemos da explicação dada pelo Senhor Jesus no verso 19, pois se na primeira parábola as aves significam o diabo, certamente o serão também nesta. Assim vemos um crescimento sensacional. Fora do normal, e atrás desse crescimento a atividade de satanás.
Pensemos no humilde começo do cristianismo: foi um cenáculo onde se reuniram discípulos humildes. Passemos agora em pensamento àquilo que se tem por matriz do cristianismo em nossos dias, isto é, a igreja católica. Como é diferente! O Vaticano, que é a sede de tal igreja na cidade de Roma, contém onze mil quartos, oito escadas grandes, duzentas escadas pequenas, vinte pátios. No museu há obras de arte de valor incalculável. Podemos ter certeza que nunca foi a intenção do Senhor Jesus que aquilo que começou duma maneira tão pura e simples, se transformasse num sistema político e numa sociedade riquíssima.
Lamentavelmente temos de reconhecer que na medida que o cristianismo cresceu, perdeu seu caráter e utilidade para Deus.
Crescendo o grão de mostarda, lemos que vêm as aves dos céus e se aninham nos seus ramos. Assim tudo que é doutrina de demônios se apega ao título cristão. Os erros graves do catolicismo, do protestantismo, do Adventismo do Sétimo Dia, do Mormonismo, das testemunhas de Jeová, são propagados debaixo da bandeira do cristianismo. O seu verdadeiro caráter é conhecido por Deus e pelo crente esclarecido.
Outras passagens da Bíblia mostram como esta “árvore” será sujeita ao juízo de Deus. Ela passará a ser “a Grande Babilônia” (Ap 17:5) depois da retirada da verdadeira Igreja, e o próprio céu se regozijará sobre o julgamento (Ap 18:20).
Neste intervalo, o caminho do filho de Deus é claro: é um caminho de separação de todos estes sistemas de erro.
4. A PARÁBOLA DO FERMENTO – Esta parábola ocupa o verso 33, e apresenta o reino de Deus como sendo semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.
As três medidas de farinha levam-nos a pensar na oferta de manjares (Lv 2 e Ez 45:24) e assim, sugere as glórias e perfeições do nosso Senhor Jesus Cristo. O fermento é o símbolo daquilo que é mau, e a mulher leva-nos a pensar em religião corrupta. Veja por exemplo Jezabel em I Reis 18:4 e Apocalipse 2:20, e a Mãe das prostituições em Apocalipse 17:5.
O quadro é completo! Durante os séculos a Pessoa do Senhor Jesus Cristo tem sido o alvo do ataque dos propagadores de falsa religião. Ora atacam a Sua Divindade, ora atacam a Sua perfeita humanidade. Feliz é o crente humilde em Cristo que pode dizer: “Eu sei em Quem tenho crido” (II Tm 1:12).
5 e 6. A PARÁBOLA DO TESOURO E A DA PÉROLA – Estas parábolas ocupam os versos 44 a 46 e apresentam um contraste com as quatro primeiras. Nestas não aparecem a atividade de Satanás nem a fraqueza humana. Assim podemos ver que apesar dos sucessos de Satanás, e apesar do fracasso do homem, os propósitos de Deus hão de se firmar.
Na parábola do tesouro vemos a nação de Israel, escondida no campo, que é o mundo. O Senhor Jesus pela Sua morte na cruz, comprou o campo e o tesouro também, que é Israel. Veja Apocalipse 11:15: “Os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do Seu Cristo, e Ele reinará para todo o sempre”. Israel apesar de ser uma nação desterrada durante muitos séculos, tem sido guardada por Deus. Outras nações que foram exiladas da sua pátria se misturaram com as demais nações, mas esta nação não perdeu a sua identidade e jamais a perderá.
A pérola é a Igreja, e o negociante é o Senhor Jesus Cristo. Esta parábola leva-nos a pensar em Efésios 5:25-27: “Cristo amou a Igreja e a Si mesmo Se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra, para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”. Das águas turbulentas do pecado, será apresentada a Deus a mais brilhosa, a mais resplandecente, a mais formosa pérola que jamais brilhou na sua presença: a Igreja.
Através dos séculos sempre tem havido pessoas salvas. A obra do Evangelho nunca parou, e não parará até que a Igreja esteja completa e o Senhor desça dos céus até aos ares para a buscar para estar eternamente com Ele. Ver-se-á então as belezas da pérola de grande valor. Aquilo que o Senhor Jesus comprou na cruz é d’Ele, e nada ou ninguém pode tirá-lo da Sua mão.
Veja nestas parábolas os seguintes princípios:
- A estabilidade da Obra consumada na cruz: As compras foram irrevogavelmente efetuadas;
- A estabilidade dos propósitos de Deus referentes à terra: O campo que é o mundo, pertence ao Senhor Jesus e seu futuro está nas mãos d’Ele;
- A estabilidade dos propósitos de Deus referentes à Israel: Aquele que comprou o campo também é dono do tesouro;
- A estabilidade dos propósitos de Deus referentes à Igreja: A pérola pertence ao negociante, o Senhor Jesus, O qual jamais abrirá mão dela.
7. A PARÁBOLA DA REDE – Esta parábola ocupa os versos 47 a 50. “Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes. E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora” (47-48).
Esta parábola apresenta o final do programa de Deus, isto é, quanto aos mistérios do reino. Leva-nos em pensamento além do arrebatamento da Igreja, até o fim da Grande Tribulação. Dentro da rede da profissão cristã haverá muitos elementos falsos, todos os quais serão castigados. A cristandade sem Cristo será julgada. Os justos terão sua parte no reino, embora isto não se destaque aqui.
As palavras do Senhor Jesus em vers. 52, indicam que a Sua instrução a respeito do reino dos céus contém riquezas espirituais. Que saibamos aproveita-las bem!
“Palavras de Edificação”, janeiro de 1987.