Aproximação ao Getsêmani

Que beleza extraordinária pode ser vista na atitude de nosso amado Senhor ao se aproximar do Getsêmani!

Mateus, em seu Evangelho, descreve Cristo como o esperado Rei de Israel e o derradeiro Rei dos Reis, de cuja face fugirão a terra e os céus. Quando esse Rei se sentar para julgar, o grande e o poderoso, o escravo e o livre invocarão as rochas e as montanhas para que caiam sobre eles e os escondam de Sua face.

No entanto, esse Rei, o nosso Salvador, tinha voltado Seu rosto para Jerusalém com determinação, sabendo que Sua hora havia chegado. Mateus nos diz que “Ele foi um pouco mais longe”, mais longe do que outros que eram Seus companheiros na caminhada terrena, mais longe do que qualquer outro havia ido, a fim de assegurar a redenção de Seus súditos que estavam vendidos sob o pecado. “Prostrou-se sobre o seu rosto e orou” no Getsêmani. Que submissão majestosa é vista nessa descrição: “prostrou-se sobre o seu rosto”. O rosto do Rei já foi coberto de suor, sangue e lágrimas na contemplação da cruz do Calvário, a fim de que os redimidos, revestidos de Sua justiça, pudessem contemplar Sua face em beleza. Ele não escondeu Seu rosto da vergonha e do cuspe, para que pudesse ser escrito sobre os resgatados na glória: “Eles verão o Seu rosto”.

O Evangelho de Marcos retrata Jesus como o perfeito Servo de Jeová. Em toda a narrativa, Ele é visto se movendo fielmente entre os homens, fazendo a vontade do Pai Celestial, sempre o Servo proveitoso. Repetidamente, Marcos, ao falar de Seu progresso em Seu ministério, usa a palavra “imediatamente”. Nunca houve um Servo que sempre andou no caminho reto do centro da vontade de Deus, sem desvios nem falhas!

Por isso, não nos surpreendemos quando Marcos fala de Sua aproximação das agonias do Getsêmani com a afirmação: “Ele foi adiante”. Não é de admirar que ouçamos a voz de Deus ao longo dos tempos: “Eis aqui o meu servo”, ao observarmos o obediente e fiel servo de Jeová “seguir adiante” no caminho da vontade de Deus.

Assim como o servo que desejava servir seu mestre para sempre e não queria sair livremente, teve sua orelha furada como marca de sua servidão, o Servo de Deus disse em profecia: “O Senhor Deus furou a minha orelha, e eu não fui rebelde nem voltei atrás”.

Marcos diz que “avançou um pouco e caiu no chão”, o chão sobre o qual Deus havia dito a Adão: “Maldita é a terra por tua causa”. O pó de uma terra amaldiçoada se agarrou à forma dAquele que se adiantou para se tornar a maldição por nós. Muitos fardos foram carregados por homens e animais, mas nunca um fardo tão pesado quanto o que foi colocado sobre o Servo de Jeová, o fardo do pecado e da tristeza, a responsabilidade imensurável de ser chamado a responder por crimes que não eram Seus. Oh, a beleza da firmeza do perfeito Servo de Deus ao “seguir adiante” no caminho da obediência à vontade de Deus!

O Evangelho de Lucas retrata o último Adão, o perfeito Filho do Homem, em quem não havia mancha ou mácula. Ele superou infinitamente Adão, até mesmo Adão em seu estado sem pecado. O primeiro Adão caiu na primeira tentação, mas o último Adão “em tudo foi tentado, como nós, mas sem pecado”. Ele era o santo e imaculado Filho do Homem, em quem todas as tentações do Príncipe deste mundo não encontravam resposta. Esse Homem perfeito não apenas não foi manchado por pecados cometidos, mas também se adequou em todos os aspectos ao padrão de santidade e justiça de Deus. Ele não apenas se absteve completamente do “não farás” da lei de Deus, mas também cumpriu perfeitamente cada “farás”.

Que bela frase Lucas insere ao retratar Cristo em Seu caminho para o Monte das Oliveiras! “Ele foi como era Seu costume”. Isso indica Seu hábito ininterrupto de retirar-se em oração e doce comunhão com o Pai. Isso nos fala do Filho do Homem que achava a comunhão com Deus em oração tão natural quanto respirar. Nunca a pergunta “Adão, onde estás?” ficou sem resposta em relação a Ele. Nem uma única vez Sua comunhão com o Pai foi interrompida.

Lucas nos diz que o Senhor “estava afastado deles a um passo de uma pedra”. Certa vez, havia uma mulher a uma distância de uma pedra daqueles que procuravam cumprir a letra da Lei que exigia sua morte. Jesus os lembrou de que, para cumprir os julgamentos da Lei, era preciso estar sem pecado. Havia apenas um presente com essa qualificação, e Ele não executou a punição merecida, pois não tinha vindo para condenar, mas para salvar. Mal sabia essa mulher arrependida que seu Libertador um dia seria retirado de Seus companheiros a um passo de uma pedra. Mal sabia ela que o perfeito Filho do Homem, o único que havia cumprido a Lei e que, portanto, deveria atirar a primeira pedra, seria um dia o destinatário da punição exigida por essa Lei.

Como João resume de forma bela os relatos dos outros três evangelistas! Em João 18:1, ao descrever a aproximação do Filho de Deus ao Getsêmani, ele diz que “Ele saiu com Seus discípulos para o ribeiro Cedrom”. Somos lembrados de outro rei que atravessou o mesmo riacho para fugir das forças de seu filho perverso. Que contraste! Enquanto Davi fugiu derrotado pelo riacho, o Senhor de Davi saiu em corajosa majestade para enfrentar todas as forças do pecado, do mal e das trevas. Os seguidores de Davi choraram, mas os seguidores de Jesus dormiram. Apesar da falta de apoio e simpatia daqueles que Ele amava, nosso Rei conquistador “atravessou o ribeiro de Cedrom”.

João também nos lembra do caráter de Cristo como o perfeito Servo de Jeová, que, “tendo dito estas palavras, saiu”. Que palavras? As palavras dessa oração, muitas vezes chamada de oração sumo-sacerdotal de nosso Senhor, na qual, como Servo perfeito de Jeová, o Senhor Jesus diz: “Acabei a obra que me deste a fazer”. Não é de se admirar que Jeová tenha dito sobre Ele, ao sair para levar o pecado do mundo: “Eis o Meu Servo”.

João é o único evangelista que nos diz que “havia um jardim, no qual Ele entrou”. Somos imediatamente lembrados do Cabeça da Nova Criação, o perfeito Filho do Homem, que em todos os aspectos atendia aos padrões de justiça e santidade de Deus. Em resposta à pergunta de Deus no primeiro jardim: “Adão, onde estás?”, aqui estava Aquele que poderia responder em linguagem profética: “Eis que venho (no volume do Livro está escrito a meu respeito); deleito-me em fazer a tua vontade, ó Deus; sim, a tua lei está dentro do meu coração”.

I. Butcher, maio de 1963.

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