Andando Com Deus

Gn 5.24 – “E andou Enoque com Deus e já não era; pois Deus o tomou para si“.

São várias as desculpas e razões nas quais os homens de mente depravada amiúde insistem para não prestarem obediência aos justos e santos mandamentos de Deus. Porém, talvez uma das objeções mais frequentes que fazem é esta, que os mandamentos de nosso Deus não são praticáveis porque são contrários à carne e ao sangue; por conseguinte, ele é um Deus severo, “ceifando onde não semeou e ajuntando onde não espalhou”. Descobrimos que esses eram os sentimentos nutridos por aquele mau e negligente servo mencionado no capítulo 25 do Evangelho de São Mateus, e sem dúvida é o mesmo sentimento cultivado pela geração má e adúltera de hoje. O Espírito Santo, já prevendo isso, teve o cuidado de inspirar homens santos da Antiguidade, para que registrassem exemplos de muitos homens e mulheres santos, os quais, mesmo debaixo da dispensação do Antigo Testamento, foram capazes de alegremente tomar sobre si o jugo de Cristo, e de considerar o serviço dele como perfeita liberdade. A grande lista de santos, confessores e mártires registrada no capítulo 11 de Hebreus abundantemente prova tal verdade. Que grande nuvem de testemunhas foi-nos apresentadas ali! E todas devido a sua fé, porém, com alguns tendo um maior grau de brilho do que outros.

O protomártir Abel lidera o grupo. Em seguida, temos Enoque, não somente porque ele é o próximo pela ordem dos relatos bíblicos, mas, também, devido a sua elevada piedade; dele se fala de maneira extraordinária nas palavras do texto. Temos aqui um relato conciso, mas muito completo e glorioso, tanto de seu comportamento neste mundo quanto do modo triunfante da sua entrada no outro. O primeiro caso está encerrado nestas palavras: “Enoque andou com Deus”. O segundo, nestas: “ele já não era, pois Deus o tomou para si”. Ele não era; ou seja, não foi mais encontrado. Ele não foi levado da maneira comum, ele não viu a morte; pois Deus o trasladou (Hb 11.5). Quem foi esse Enoque não transparece tão explicitamente. Para mim, ele parece ter sido alguém de caráter público; suponho eu, visto como Noé era um pregoeiro da justiça. E, se dermos crédito ao apóstolo Judas, ele era um ardente pregador, pois Judas cita uma de suas profecias onde Enoque diz: “Eis que veio o Senhor entre suas santas miríades, para exercer juízo contra todos e para fazer convictos todos os ímpios acerca de todas as obras ímpias que impiamente praticaram e acerca de todas as palavras insolentes que ímpios pecadores proferiram contra ele” (Jd 14-15). Porém, se Enoque foi pessoa pública ou comum, o fato é que ele deu nobre testemunho através de suas vívidas profecias.

O autor da epístola aos Hebreus nos diz que antes de seu traslado ele tinha este testemunho, de que agradou a Deus; e o fato de ter sido trasladado foi uma prova que não deixou nenhuma dúvida. E eu assinalo que foi sabedoria maravilhosa Deus trasladar Enoque e Elias sob a dispensação do Antigo Testamento, para que, doravante, quando se asseverasse que o Senhor Jesus foi levado ao céu, não parecesse de todo inacreditável aos judeus; visto que eles mesmos confessavam que dois de seus próprios profetas haviam sido transportados centenas de anos antes. Porém, não é meu intento deter-me mais com acréscimos e observações sobre a breve mas abrangente análise da virtude de Enoque: o que eu tenho em vista é fazer um discurso, à medida que o Senhor me capacitar, sobre um tópico momentoso e mui importante; quero falar do “andar com Deus”. E “Enoque andou com Deus”. Se isso puder ser dito de você e de mim depois de nossa morte, certamente não teremos razão alguma de nos queixarmos de havermos vivido em vão.Desenvolvendo o assunto proposto, eu pretendo:

  1. Empenhar-me para mostrar o que está implícito nas palavras “andou com Deus”.
  2. Prescrever alguns meios pelos quais, devidamente obedecidos, os crentes possam acompanhar e manter o seu andar com Deus.
  3. Apresentar algumas razões para nosso incentivo, pois, se nós nunca antes andamos com Deus, que a partir de agora venhamos a e caminhemos com ele agora. Tudo será encerrado com uma palavra ou duas de aplicação.

1. Empenhar-me para mostrar o que está implícito nas palavras “andou com Deus”.

Primeiro, tenho de mostrar o que está implícito nas palavras “andou com Deus”, ou, em outras palavras, o que devemos entender por andar com Deus. Isso significa que o poder predominante da hostilidade do coração de uma pessoa foi removido pelo bendito Espírito de Deus. Talvez algo duro de se dizer a alguns, no entanto, nossa experiência diária prova o que as Escrituras em muitas passagens afirmam que a mente carnal, a mente do homem natural não-convertido, ou melhor, a mente do não-regenerado, tanto quanto qualquer parte dele que permaneça não-renovada, é inimizade, não só uma inimizade, mas inimizade mesma contra Deus; de forma que não está sujeita à lei de Deus, nem de fato pode estar. Realmente, é bem de se admirar que alguma criatura, especialmente esta adorável criatura homem, feita imagem e semelhança de seu Criador, possuísse qualquer inimizade, muito menos uma inimizade predominante contra esse mesmo Deus no qual o homem vive, se move e existe. Mas, ai! Assim o é. Nossos primeiros pais contraíram esta hostilidade quando, por ocasião da queda, separaram-se de Deus comendo do fruto proibido, e o amargo e maligno contágio passou e se espalhou completamente para sua descendência inteira. Esta inimizade veio à tona no esforço de Adão ao esconder-se atrás das árvores do jardim. Ao ouvir a voz do Senhor Deus, em vez de correr em sua direção com o coração aberto dizendo: “Aqui estou!”; ai! ele agora não queria nenhuma comunhão com Deus e sua hostilidade ficou mais aparente através da desculpa que deu ao Altíssimo: “A mulher (ou, esta mulher) que você me deu, ela me deu do fruto, e eu comi”. Com efeito, dizendo isso Adão responsabiliza Deus e é como se ele tivesse dito: Se tu não tivesses me dado esta mulher, eu não teria pecado contra ti, portanto, és o culpado da minha transgressão”. E dessa mesma maneira essa inimizade está no coração dos filhos de Adão. Eles de vez em quando encontram algo para se insurgirem contra Deus, dizendo ainda: O que  fazes tu? ‘Isso põe no ridículo qualquer um dos inferiores rivais de Deus’ (diz o erudito Dr. Owen, em seu excelente tratado sobre o pecado interior). Essa exigência é como aquela dos assírios com respeito a Acabe: “acertem somente o rei” (1 Rs 22). E assim, atacam tudo que tenha aparência de verdadeira piedade assim como os assírios atiraram contra Josafá só porque vestia as vestes reais.

Porém, a oposição cessa quando eles descobrem que é só aparência, como os assírios que deixaram de perseguir Josafá ao perceberem que ele não era Acabe. Essa inimizade se revela no amaldiçoado Caim, que odiou e assassinou seu irmão Abel porque esse era amado e favorecido particularmente por seu Deus. E essa mesma inimizade governa e prevalece em cada homem gerado da descendência de Adão. A partir de então, a aversão à oração e aos deveres santos já é encontrada nas crianças e muito frequentemente nas pessoas adultas, mesmo que hajam sido abençoadas com uma educação religiosa. E todo esse pecado e impiedade manifestos, que como um dilúvio têm inundado o mundo, são somente riachos correndo desta fonte horrivelmente contaminada; quero dizer, a inimizade do coração do homem desesperadamente mau e enganoso. E aquele que não pode endossar isso, não conhece nada ainda (não de uma maneira salvífica) das Sagradas Escrituras nem do poder de Deus, pois todo aquele que entende isso prontamente reconhecerá que antes que se possa dizer que alguém anda com Deus, esse poder preponderante dessa hostilidade de coração deverá ser aniquilado, pois as pessoas que entre si mantêm ódio e inimizade irreconciliável uma contra a outra, não costumam andar juntas nem compartilhar entre si a companhia.

Atentem ao que eu digo, o poder dessa hostilidade predominante deve ser tirado, apesar da essência deste sentimento nunca ser totalmente removida até curvarmos definitivamente nossas cabeças e rendermos o espírito.  O apóstolo Paulo, de maneira iniludível ao falar de si mesmo, e não se referindo ao tempo em que era um fariseu, mas já como um verdadeiro cristão, lamenta que, quando queria fazer o bem, o mal estava presente com ele, não tendo domínio sobre ele, porém, se opondo e resistindo às suas boas intenções e, assim, ele não podia fazer as coisas que queria, ou seja, na perfeição que o novo homem desejava. Isto é o que ele chama “o pecado habitando nele” E é a isto que se refere Fronhma sarko (usando as palavras do 9.º artigo de nossa igreja): “da carne, uns apresentam sabedoria, alguns, sensualidade, outros, fortes desejos, que ainda permanecem, sim, naqueles que são os regenerados”. Porém, esse poder é destruído em cada alma que é verdadeiramente nascida de Deus, e vai ficando gradualmente mais e mais enfraquecido na medida em que o crente cresce em graça e o Espírito de Deus vai tendo ascendência cada vez maior sobre o seu coração.

Segundo, andar com Deus significa não somente que o poder da inimizade que domina o coração do homem é retirado, mas também que a pessoa de fato é reconciliada com Deus Pai, em e através da justiça e expiação todo-suficientes de seu querido Filho. “Podem dois caminhar juntos se não houver entre eles acordo?” (Am 3.3). Jesus é nossa paz, bem como aquele que media a nossa paz. Quando somos justificados pela fé em Cristo, então, e somente então, é que temos paz com Deus e consequentemente só a partir daí é que podemos dizer que andamos com Ele; o andar com uma pessoa é um sinal e uma prova de que somos amigos desta pessoa ou pelo menos, ainda que tenhamos tido divergências, revela que nos reconciliamos e nos tornamos amigos de novo. Esta é a grande mensagem que os ministros do Evangelho estão proclamando. A nós é confiado o ministério da reconciliação, como embaixadores de Deus, nós temos que rogar aos pecadores, no lugar de Cristo, a se reconciliarem com Deus e, quando eles atendem a este gracioso convite e são realmente, pela fé, trazidos a um estado de reconciliação com Deus, então, e só então, eles podem dizer que estão começando a andar com Deus.

Terceiro, andar com Deus implica em estabelecer uma firme e permanente comunhão e amizade com Ele, ou o que nas Escrituras é chamado “O Espírito Santo habitando em vós”. Isso foi o que Nosso Senhor prometeu quando disse aos discípulos que o Espírito Santo estaria neles e com eles, não como um caminhante, que chega para passar a noite e parte no dia seguinte, mas para estabelecer morada, fazer sua habitação em seus corações. Isso, quero crer, é o que o apóstolo João queria que compreendêssemos quando ele se refere a uma pessoa permanecendo nele, em Cristo, e andando como se Ele mesmo também andasse. E é o que particularmente significam as palavras de nosso texto: “E andou Enoque com Deus”, ou seja, ele manteve e cultivou uma santa, firme, habitual, indubitável e ininterrupta comunhão e amizade com Deus, em e através de Jesus Cristo. Para resumir o que foi dito nesta parte do primeiro tópico geral, andar com Deus consiste especialmente em estabelecer um costumeiro curvar-se diante da vontade divina, numa habitual dependência de seu poder e promessa, numa usual e voluntária dedicação total nossa à sua glória, num exame frequente de seus preceitos em tudo o que fazemos e numa costumeira autossatisfação em agradá-lo em todos os nossos sofrimentos.

Quarto, andar com Deus importa progredir ou avançar na vida divina. A ideia principal mesma da palavra “andando” parece supor um movimento progressivo. A pessoa que caminha, ainda que se mova vagarosamente, vai adiante e não continua no mesmo lugar. E assim é com aqueles que andam com Deus. Eles prosseguem, como diz o salmista, “de força em força” ou na linguagem do apóstolo Paulo: “somos transformados de glória em glória na sua própria imagem, como pelo Senhor o Espírito”. De fato, em certo sentido a vida divina não admite acréscimo nem decréscimo.  Quando alguém nasce de Deus, para todos os fins e propósitos ele é um filho de Deus; e ainda que viva até a idade de Metusalém, não obstante, ainda será um filho de Deus. Porém, em outro sentido, a vida divina admite declínios e melhoras. Daí encontrarmos o povo de Deus culpado de apostasia e perdendo seu primeiro amor. E é por isso que ouvimos falar de bebês, jovens e pais em Cristo. Nesse sentido, o apóstolo Paulo exorta Timóteo: “que o teu progresso seja a todos manifesto”; e o que aqui é exigido de Timóteo em particular, o apóstolo Pedro impõe a todos os cristãos em geral: “antes, crescei na graça e no conhecimento de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Pois a nova criatura cresce em estatura espiritual e, ainda que uma pessoa seja uma nova criatura, ainda assim haverá alguns que serão mais conformados à imagem divina do que outros e após a morte serão admitidos em maior grau de bem-aventuranças. Por falta de observar essa distinção, até algumas graciosas almas cujos corações são melhores do que suas cabeças, e também homens corruptos, réprobos no tocante à fé, têm, de forma desapercebida, incorrido francamente nos princípios antinomistas, negando todo o crescimento da graça em um crente, ou quaisquer sinais de graça declarada nas Escrituras da verdade. De tais princípios, e mais especialmente das práticas resultantes de semelhantes princípios, possa o Senhor dos senhores nos livrar!

Do que foi dito, podemos agora entender o que está encerrado nas palavras “andando com Deus”, a saber, em ter sido de nós removida – pelo poder do Espírito de Deus – essa inimizade que prevalecia em nossos corações; em agora vivermos realmente reconciliados e unidos a Deus pela fé em Jesus Cristo; em nós termos e cultivarmos uma firme comunhão e amizade com Ele; e em fazermos progresso diário no relacionamento com Deus, a fim de sermos conformados mais e mais à imagem divina. Como isso é feito, ou, em outras palavras, por quais meios os crentes cultivam e mantêm esse andar com Deus é o que vamos considerar em nosso segundo tópico geral.

2. Prescrever alguns meios pelos quais, devidamente obedecidos, os crentes possam acompanhar e manter o seu andar com Deus.

Em primeiro lugar, os crentes mantêm seu andar com Deus ao lerem sua santa Palavra. “Examinem as Escrituras, pois elas é que testificam de mim” diz nosso bendito Senhor. E o nobre salmista diz: “a palavra de Deus é lâmpada para os meus pés e luz para os meus caminhos”, e estabelece-a como característica de um homem bom, o qual “tem seu deleite na lei do Senhor, e se exercita nela dia e noite”. “Entrega-te à leitura”, diz Paulo a Timóteo. E Deus diz a Josué: “E este livro da lei não se afaste de tua boca”. Pois tudo o que dantes foi escrito, o foi para o nosso aprendizado. E a Palavra de Deus é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, e de todas as maneiras suficiente para tornar cada filho de Deus perfeitamente habilitado para toda a boa obra. Se nós nos envaidecermos no nosso conhecimento da Bíblia e deixarmos de fazer da Palavra escrita de Deus nossa única regra de fé e conduta, rapidamente ficaremos expostos a todas as formas de engano e em grande perigo de naufragarmos na fé e na sã consciência. Nosso bendito Senhor, conquanto tivesse o Espírito de Deus sem medida, todavia, sempre foi guiado pelo “está escrito”, e com ele lutou com o diabo. A isso o apóstolo chama de “a espada do Espírito”. Dela não podemos dizer como Davi disse a respeito da espada de Golias, que ela nada era. As Escrituras são chamadas de os oráculos vivos de Deus: não somente porque eles são geralmente para criar uma nova vida em nós, mas também porque a mantêm e a desenvolvem em nossas almas. O apóstolo Pedro, em sua segunda epístola, prefere-as mesmo a ver Cristo transfigurado no monte. Pois, depois de haver dito: “A voz vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com Ele no monte santo”, ele acrescenta: “Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração”: isto é, até que nós deixemos este corpo e possamos então ver Jesus face a face. Até lá, nós devemos ver e conversar com Ele através do espelho de sua Palavra. Devemos fazer do seu testemunho nosso conselheiro e diariamente, como Maria, sentar aos pés de Jesus e pela fé ouvir sua palavra. Então nós descobrimos, por feliz experiência, que as Escrituras são de fato espírito e vida, comida e bebida para nossas almas.

Em segundo lugar, os crentes devem conservar e sustentar seu andar com Deus através da oração em segredo. O espírito da graça vem sempre acompanhado do espírito da súplica. Ele é o próprio fôlego de vida da nova criatura, o sopro da vida divina, por meio da qual a centelha do fogo santo é acesa na alma por Deus, e não apenas é mantida, mas cresce e se transforma em uma chama. A negligência de orar em secreto tem sido frequentemente uma abertura a muitas doenças espirituais e tem sido acompanhada de consequências fatais. Orígenes observou que “oferecia incenso a um ídolo no dia em que saía de seu quarto sem ter orado a Deus em secreto”. A oração é uma das partes mais nobres da armadura espiritual do cristão. “Orai sem cessar” diz o apóstolo “com toda a sorte de súplicas”. “Orai e vigiai” diz Nosso Senhor, “para que não entreis em tentação”. E Ele contou uma parábola a fim de que seus discípulos orassem e não desanimassem.  Não que Nosso Senhor nos queira sempre de joelhos ou trancados em nossos quartos negligenciando os nossos deveres diários, mas o que Ele quer dizer é que nossas almas precisam ser mantidas em atitude de oração, de modo que sejamos capazes de dizer, como disse um bom homem em seu leito de morte, na Escócia, aos seus amigos: “Pudessem estas cortinas ou estas paredes falar, eles contariam a vocês que doce comunhão eu mantive com o meu Deus aqui”. Ó, a oração! A oração! Ela eleva o homem a Deus, e desce Deus ao homem. Ela ergue o homem até Deus e traz Deus até o homem. Ó, crentes! Se quiserem manter seu andar com Deus, orem, orem sem cessar. Fiquem em secreto, ponham-se a orar. E, quando vocês estiverem prestes a retornar às tarefas normais da vida cotidiana, façam preces abundantes e enviem de tempos em tempos breves cartas para o céu nas asas da fé. Elas irão alcançar o próprio coração de Deus e retornar para você novamente carregadas de bênçãos espirituais.

Em terceiro lugar, santa e frequente meditação é outro abençoado meio de um crente conservar a caminhada com Deus. “Oração, leitura, tentação e meditação”, diz Lutero, “faz um ministro”. E também produz e aperfeiçoa um cristão. Meditação para a alma é o mesmo que digestão para o corpo. O santo Davi descobriu isso, daí estar constantemente ocupado meditando, mesmo nas vigílias da noite. Também encontramos Isaque indo para o campo ao anoitecer a fim de meditar. A meditação é uma espécie de oração silenciosa, por meio da qual a alma é amiúde levada, por assim dizer, para fora de si mesma para Deus e, em certa medida, como aqueles espíritos abençoados, os quais por uma espécie de intuição imediata, sempre veem a face de nosso Pai celeste. Ninguém, exceto essas felizes almas que estão acostumadas a essa ocupação divina, pode dizer que bendita promotora da vida divina o é a meditação. “Enquanto eu meditava”, diz Davi, “acendeu o fogo”. E enquanto o crente medita na obra e na palavra de Deus, especialmente na obra das obras, na maravilha das maravilhas, no mistério da piedade, “Deus manifestado em carne”, o Cordeiro de Deus morto pelos pecados do mundo, ele frequentemente sente acender o fogo do amor divino, e vê-se assim obrigado a usar a sua língua para falar da ternura de Deus à sua alma. Sejam assíduos na meditação todos vocês que desejam guardar e manter um íntimo e estável andar com o Deus Altíssimo.

Em quarto lugar, os crentes cultivam seu andar com Deus vigiando e observando a maneira providencial como Deus está lidando com eles. Se cremos nas Escrituras, então devemos crer no que o Senhor declara nelas: “Todos os cabelos de vossa cabeça estão contados; e nenhum pardal cairá por terra (mesmo para apanhar um grão ou quando atingido por um caçador), sem o consentimento de vosso Pai que está nos céus”. Toda cruz traz em si um apelo, e cada particular dispensação da providência divina tem um objetivo a cumprir naqueles aos quais é enviada. Se for de natureza aflitiva, atormentada, Deus por ela diz: “Meu filho, mantenha-se longe da idolatria”; se for propícia, ele, com uma voz, por assim dizer, serena, lhe sussurra: “Meu filho, dá-me teu coração”. Se os crentes, por conseguinte, quiserem conservar o seu andar com Deus, de tempos em tempos devem ouvir o que o Senhor tem a dizer a seu respeito pela voz de sua Providência. Assim, encontramos o servo de Abraão quando ele foi buscar uma esposa para seu senhor Isaque, atento e vigilante à providência divina, e foi desse modo que encontrou aquela que estava destinada para ser a esposa de seu senhor. “Pois uma pequena dica da providência”, diz o piedoso Bispo Hall, “é o bastante para alimentar a fé”. E eu creio que isto será parte da nossa felicidade no céu: dar uma olhada e relembrar os vários elos da dourada corrente que nos levou para lá; assim, creio que aqueles que mais desfrutam do céu aqui embaixo, nos últimos minutos, relembrarão o modo como Deus tratou com eles, no tocante às suas providenciais dispensações aqui na terra.

Em quinto lugar, para andar bem junto de Deus, seus filhos devem não apenas ficar atento às ações da Providência Divina fora deles, mas também às do seu bendito Espírito em seus corações. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”, os que renunciam a si mesmos para serem guiados pelo Espírito Santo, do mesmo modo que uma criança pequena dá sua mão para ser conduzida pela babá ou por seus pais. Não há dúvida a esse respeito: precisamos nos converter e nos tornar como crianças pequenas. E, embora seja a quintessência do entusiasmo fingir ser guiado pelo Espírito sem a palavra escrita, é dever de todo o cristão ser guiado pelo Espírito em unidade com a Palavra de Deus escrita. Por isso, eu rogo a vocês, ó cristãos, que atentem ao mover do bendito Espírito de Deus em suas almas, e sempre testem as sugestões ou influências toda vez que vocês a sentirem, pela infalível regra da santíssima Palavra de Deus; e, se não se achar concordância entre elas e a Palavra de Deus, rejeitem-nas como diabólicas e ilusórias. Tendo tal precaução, vocês se conduzirão por um caminho intermediário entre dois extremos perigosos em que incorrem esta geração: quero dizer, o entusiasmo, por um lado, e o deísmo e a completa Infidelidade por outro.

Em sexto lugar, aqueles que querem manter uma santa caminhada com Deus devem andar com Ele nas ordenanças, nas providências etc. Por isso, está registrado que Zacarias e Isabel “eram justos diante de Deus e andavam irrepreensivelmente em todos os preceitos e mandamentos do Senhor”. E todo cristão corretamente instruído considerará os mandamentos, não como algo desprezível, mas sim como canais condutores por meio dos quais o infinitamente afável Jeová comunica sua graça às suas almas. O cristão reputá-los-á como o pão das criancinhas e como seu mais alto privilégio. Consequentemente, ele se alegrará quando ouvir os outros dizerem: “Vamos à Casa do Senhor”. Ele se regozijará em estar no lugar onde mora a glória de Deus, e ficará mui desejoso de aproveitar todas as oportunidades para manifestar a morte do Senhor Jesus até que Ele venha.

Em sétimo e último lugar, se você quer andar com Deus, você se unirá e andará com aqueles que também andam com Ele. “Meu deleite”, diz o santo Davi, “está naqueles que me sobrepujam” em virtude. E, sem dúvida, os primeiros cristãos conservavam seu vigor e seu primeiro amor porque se mantinham em união e amizade uns com os outros. O apóstolo Paulo sabia disso muitíssimo bem e, portanto, exorta os cristãos a que observassem isto e que não deixassem a sua congregação. Pois como pode alguém sozinho se aquecer? E não foi o mais sábio dos homens que nos disse: “O ferro com o ferro se afia, assim o homem ao seu amigo”. Logo, se olharmos a história da igreja ou observarmos com justiça o nosso próprio tempo, eu creio que vamos descobrir que, enquanto o poder de Deus predomina, as sociedades cristãs e as reuniões de comunhão predominam na mesma proporção. E que, à medida que aquele declina, essas outras também, de modo imperceptível, diminuem e definham-se ao mesmo tempo. Sendo assim, é necessário àqueles que querem andar com Deus e viverem uma vida religiosa ajuntarem-se sempre que for oportuno a fim de estimular uns aos outros ao amor e às boas obras.Prosseguindo, vamos para o terceiro assunto geral proposto: propor alguns motivos que atraiam a todos a vir e andar com Deus.

3. Apresentar algumas razões para nosso incentivo, pois, se nós nunca antes andamos com Deus, que a partir de agora venhamos a e caminhemos com ele agora. Tudo será encerrado com uma palavra ou duas de aplicação.

Primeiro, andar com Deus é algo mui apreciável. Esse é, em geral, o motivo preponderante para estimular pessoas de todos os tipos a assumirem algum importante compromisso. Ó, que isso de que estamos tratando incline e influencie você devidamente quanto à questão que está agora diante de nós! Eu suponho que todos vocês achem ser uma grandíssima honra ser admitido na reunião íntima de um príncipe terreno, que lhe confia seus segredos e dá-lhes sua atenção em todos os tempos e ocasiões. Parece que Hamã assim pensou quando se gabou de que fora “exaltado sobre os príncipes e servos do rei” (Ester 5.11); mais ainda: “a rainha Ester a ninguém fez vir com o rei ao banquete que tinha preparado, senão a mim; e também para amanhã estou convidado por ela juntamente com o rei”. E quando mais tarde uma pergunta foi feita a esse mesmo Hamã, Et 6.6 “Que se fará ao homem que o rei desejar honrar?”, ele respondeu, verso 8: “tragam-se as vestes reais, que o rei costuma usar, e o cavalo que o rei costuma andar montado, e tenha na cabeça a coroa real; entreguem-se as vestes e o cavalo às mãos dos mais nobres príncipes do rei, e vistam delas aquele a quem o rei deseja honrar, levem-no a cavalo pela praça da cidade e diante dele apregoem: Assim se faz ao homem a quem  o rei deseja honrar”. Isso parece que era tudo o que o ambicioso Hamã podia pedir, e o que de mais valioso ele achou que o rei Assuero, o maior monarca de toda a terra, poderia dar. Mas, ai! o que é essa honra comparada à que recebe o mais insignificante dos homens que anda com Deus? Pensem, senhores, é coisa pequena ter o segredo do Senhor dos senhores com vocês e serem chamados amigos de Deus? E tal honra a possuem todos os santos de Deus. O segredo do Senhor está com os que o temem, e “daqui em diante (diz o bendito Jesus) não os chamarei mais de servos, mas de amigos; pois o servo não sabe o que faz o seu senhor”. Seja o que for que vocês pensarem sobre isso, o santo Davi tinha tanta percepção da honra que acompanha aqueles que andam com Deus que declara: “prefiro estar à porta da casa de meu Deus do que permanecer nas tendas da perversidade”. Ó, que todos pensemos como ele!

Segundo, assim como é digno de honra, também é muito agradável caminhar com Deus. O mais sábio dos homens nos disse: “os caminhos da sabedoria são deliciosos e suas veredas paz”. E eu me lembro que o piedoso senhor Henry, quando estava já para morrer, disse a um amigo: “Você tem ouvido as palavras de muitos homens moribundos e estas são as minhas: Uma vida vivida em comunhão com Deus é a vida mais prazerosa do mundo!”. Com segurança, confirmo que isso é verdadeiro. Deveras, fui alistado sob o estandarte de Jesus somente há poucos anos; no entanto, eu tenho encontrado mais firme prazer em um único momento de comunhão com meu Deus do que eu o teria ou poderia ter nos caminhos do pecado mesmo que eu tivesse prosseguido no pecado por milhares de anos. E diante dessa verdade, poderia eu não apelar a vocês que temam e andem com Deus? Não lhes vale um dia nos átrios do Senhor, mais que mil anos? Em guardar os mandamentos de Deus, não encontraram vocês um presente e uma mui grande recompensa? Não tem sido a sua palavra mais doce do que o mel ou do que o favo de mel para vocês? Ó! o que sentem quando, como Jacó, estão lutando com Deus?  Não os tem Jesus encontrado amiúde quando meditando no campo e não tem se dado a conhecer repetidas vezes no partir do pão? Não tem o Espírito Santo frequentemente derramado abundantemente em seus corações o amor divino e os enchido de uma alegria indizível, uma alegria repleta de glória? Eu sei que vocês responderão a tais perguntas afirmativamente e de modo espontâneo reconhecerão que o jugo de Cristo é suave e seu fardo, leve; ou (para usar as palavras de uma de nossas orações antes do sacramento da ceia), “seu serviço é perfeita liberdade”. E que outros motivos mais precisamos para nos animar a andar com Deus?

Parece-me que ouvi alguém dentre vocês dizer: “Como isto pode ser? Pois, se andar com Deus, como você disse é algo apreciável e agradável, então, por que o nome do povo que segue tal caminho é rejeitado como coisa má e por todas as partes dele se fala contra? Como é que ele é frequentemente afligido, tentado, privado dos meios de subsistência e levado ao suplício? É essa a honra, é esse o prazer de que você fala?” Eu respondo: Sim. Pare por um momento; não seja precipitado demais. Não julgue conforme a aparência, mas segundo a reta justiça, e tudo ficará bem. É verdade, nós reconhecemos que “o povo desse caminho”, como você, e Paulo antes de você, quando é intimado por um perseguidor, é rejeitado, tido por mau, uma seita de que se fala contra em todos os lugares. Mas quem faz isso? Precisamente os inimigos do Deus Altíssimo. E você julga uma desgraça eles falarem mal de você? Bendito seja Deus, não é assim que nós aprendemos de Cristo. Nosso Mestre ilustre disse isto: “Bem- aventurados sois quando por minha causa, vos injuriarem e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós”. E Ele ordenou: “Regozijai-vos e estejam sobremodo alegres”, pois isso é um privilégio para os que são seus discípulos, e sua recompensa será grande no céu. Ele próprio foi tratado dessa forma. E pode haver uma honra maior para uma criatura do que ser conformada ao eternamente bendito Filho de Deus? Além do que, é igualmente verdade que o povo desse caminho é amiúda das vezes afligido, tentado, privado de recursos para subsistência e torturado. Mas e daí tudo isso? Isso destrói o prazer de andar com Deus? Não, de maneira nenhuma; pois esses que andam com Deus são capacitados, através da força que Cristo lhes vai dando, a alegrarem-se mesmo nas tribulações e a regozijarem-se mesmo quando mergulham em tentações. E eu acredito – e posso apelar para a experiência de todos os que verdadeira e intimamente caminham com Deus – que foram os momentos de sofrimentos, com frequência, os mais doces e aqueles em que eles mais se alegraram no Senhor, quando mais rejeitados e desprezados foram pelos homens, não? Descobrimos que esse foi o caso dos primeiros servos de Cristo, quando ameaçados pelo Sinédrio judaico e ordenados a não mais pregarem no nome de Jesus: eles regozijaram-se por serem achados dignos de sofrer afronta por causa de Jesus. Paulo e Silas louvaram a Deus até em um cárcere; e a face de Estevão, esse glorioso protomártir da igreja cristã, brilhou como a de um anjo. E Jesus é o mesmo tanto agora como o foi outrora, e cuida com amor, de forma tão doce, aliviando os sofrimentos e aflições para que seus discípulos descubram, através de uma feliz experiência, que, quanto mais abundam as aflições, muito mais abundam as consolações. Portanto, todas essas objeções, em vez de destruir, somente reforçam os motivos recomendados acima, para estimular você a andar com Deus.

Mas, supondo que as objeções fossem justas, e que aqueles que andam com Deus fossem desprezíveis e infelizes assim como você os descreveu, não obstante, eu teria uma terceira razão para apresentar, a qual, se pesada na balança do santuário, pesará mais do que todas as objeções, a saber, que há um céu no final dessa caminhada. E, para usar as palavras do piedoso bispo Beveridge, “Ainda que o caminho seja estreito, ainda assim ele não é muito longo: e ainda que o portão seja estreito, ele dá acesso para a vida sem fim”. Enoque encontrou-o. Ele andou com Deus aqui na terra e Deus o tomou para assentar-se com Ele no Reino dos Céus. Não que esperemos ser trasladados como ele foi: não, eu suponho que todos morreremos a morte normal de todos os homens. Porém, depois da morte, o espírito daqueles que andaram com Deus retornarão para Aquele que lhos deu; e na manhã da ressurreição, alma e corpo estarão para sempre com o Senhor; seus corpos serão feitos semelhantes ao glorioso corpo de Cristo, e suas almas preenchidas de toda a plenitude de Deus. Eles se assentarão em tronos; eles julgarão anjos. Eles serão capazes de suportar um extraordinário e eterno peso de glória, precisamente aquela glória que Jesus Cristo gozava junto com o Pai antes do início do mundo. “O gloriam quantam et qualem”, disse o sábio e piedoso Arndt, no momento em que curvou a cabeça e rendeu o espírito. O próprio pensar nisso é bastante para fazer-nos “desejar saltar nos nosso setenta anos”, como o bom Dr. Watts expressou, e fazer-nos irromper na zelosa linguagem do nobre salmista: “Minha alma tem sede do Deus vivo. Quando irei e me verei perante a face de meu Deus?”. Não faço ideia de como será isto, já que a mais comum irradiação e influxo da vida e do amor divino fazem com que algumas pessoas desfaleçam e, por algum tempo, até percam os sentidos. Algo menos do que isso, precisamente o contemplar a glória de Salomão, fez com que a rainha de Sebá se assombrasse; e algo menor ainda, precisamente, o ver os carros que José enviara do Egito para buscá-lo, fez Jacó desfalecer e, por um momento, por assim dizer, esmoreceu. Daniel, quando foi admitido a ficar a uma vista distante dessa excelente glória, caiu aos pés do anjo como morto. E, se uma visão distante dessa glória é assim tão excelente, o que deve ser a posse real dela? Se as primícias são tão gloriosas, quão infinitamente excederá em glória a colheita?

E agora, o que eu devo ou, de fato, o que eu posso ainda dizer para bem estimular a você, precisamente você, que ainda é estranho para Cristo, para que venha e ande com Deus? Se ama a honra, o prazer e uma coroa de glória, venha, busque isso tudo exclusivamente onde você o poderá achar. Venham, revistam-se do Senhor Jesus. Venham, apressem-se e andem com Deus, e não façam mais provisões para a carne a fim de preencher a concupiscência dela. Pare! Pare! Ó, pecadores! Voltem, homens não convertidos, pois o caminho pelo qual vocês agora andam, por mais direito que possa parecer aos seus olhos cegados, terá por fim a morte, precisamente, a destruição eterna de ambos corpo e alma. Não se atrasem mais, eu digo: Vocês estão em perigo, eu exorto você, não dê mais um passo no seu atual caminho. Pois, o que você sabe, ó homem, senão que seu próximo passo poderá levá-lo ao inferno? A morte poderá agarrá-lo, o juízo o encontrará e então, um grande abismo estará entre você e a glória sem fim para sempre. Ó, pense nessas coisas, todos vocês que não estão ainda dispostos a andar com Deus. Ponha-as no seu coração. Reconheçam que estão naquele caminho e, na força de Jesus Cristo, digam: Adeus, concupiscência da carne, eu não mais andarei com você! Adeus concupiscência dos olhos e orgulho da vida! Adeus, amigos da carne e inimigos da cruz, eu não mais andarei nem terei intimidade com vocês! Bem vindo Jesus, bem vinda sua palavra, bem vindo seus mandamentos, bem vindo a seu Espírito, bem vindo a seu povo, doravante andarei com vocês. Ó, que haja em você uma tal disposição! Deus colocará sua poderosa sanção e selará isso com o grande selo do céu, o selo do seu Santo Espírito. Sim, Ele o colocará, mesmo que desde o seu nascimento você esteja andando e seguindo os ardis e desejos de seus corações desesperadamente maus. “Eu, o Alto e o Sublime”, diz o grande Jeová, “que habito a eternidade, morarei com o de coração contrito e humilde, precisamente com o homem que treme diante da minha palavra”. O sangue, o precioso sangue de Jesus Cristo, se você vier ao Pai em e através d’Ele, limpá-lo-á de todo o pecado.

Contudo, o texto me leva a falar a vocês, santos, e também aos pecadores assumidos, não-convertidos. Não preciso contar-lhes que andar com Deus não é só apreciável, mas agradável e também proveitoso; pois vocês sabem-no, por feliz experiência, e o acharão cada dia melhor. Só me deixem despertar suas mentes puras, à guisa de lembrança e para suplicar para vocês a misericórdia de Deus em Cristo Jesus: prestem atenção em si mesmos, andem sempre mais perto de Deus conforme passam os dias, pois, quanto mais perto vocês andarem de Deus, mais vocês o apreciarão, pois sua presença é vida, e ficarão mais bem preparados para serem colocados à sua mão direita, onde há delícias perpetuamente. Ó, não sigam Jesus à distância! Ó, não sejam tão formais, não sejam tão mortos e estúpidos no cumprimento dos santos preceitos! Não abandonem vergonhosamente a sua congregação, não sejam avarentos ou indiferentes para com as coisas de Deus. Lembrem o que Jesus disse da igreja de Laodicéia: “Porque vocês não são frios nem quentes, vou vomitá-los de minha boca”.  Pensem no amor de Jesus, e que esse amor constranja-os a se conservarem próximos d’Ele; e, ainda que vocês morram por Ele, não o neguem, não fiquem distantes d’Ele de modo nenhum.

Uma palavra aos meus irmãos no ministério que estão aqui presentes, e eu encerro. Vocês percebem, meus irmãos, meu coração está cheio; quase diria que isso é grande demais para dele se falar e, todavia, grande demais para sobre ele se silenciar, sem lhes dar uma palavra. Pois o texto não fala especificamente àqueles que têm a honra de serem denominados embaixadores de Cristo e mordomos dos mistérios de Deus. Eu fiz a observação no começo desta elocução que Enoque, com toda a probabilidade, era um homem público e um ardoroso pregador. Embora esteja morto, não nos fala ele para avivar nosso zelo e nos tornar mais ativos no serviço de nosso glorioso e eternamente bendito Mestre?  Como Enoque pregava! Como Enoque andava com Deus, conquanto vivesse em uma geração má e adúltera! Então, vamos segui-lo como ele seguia a Jesus Cristo, antes de Jesus vir, pois onde ele está, nós também estaremos. Ele não entrou no seu descanso: no entanto, ainda por um pouco de tempo e entraremos no nosso, e isso, muitíssimo mais rápido do que ele. Ele peregrinou aqui embaixo por trezentos anos; mas, bendito seja Deus, os dias do homem estão agora encurtados e, em poucos dias, nossa caminhada estará terminada. O Juiz está à porta: Aquele que vem virá, e não tardará: e com Ele seu galardão. E, daqui a pouco, nós todos (se formos zelosos pelo Senhor dos exércitos) brilharemos para sempre como estrelas do firmamento, no Reino de nosso Pai celestial, para sempre e eternamente. Para Ele, o bendito Jesus e o Espírito eterno, seja toda a honra e a glória, agora e para toda a eternidade.  Amém e Amém. George Whitefield (1714-1770)