Aguardando a Primeira Ressurreição

A morte física é a separação entre o corpo e o espírito que acontece para todos, conforme ensina o Pregador: “Lembra-te também do teu Criador nos dias da tua mocidade, antes que… o pó volte para a terra como o era, e o espírito volte a Deus que o deu” (Ec 12:1,2). O corpo, feito do pó da terra, volta para ela, mas o espírito volta a Deus e é eterno, como Ele próprio. Oportunamente haverá ressurreição dos mortos, como ensina um dos maiores profetas: “muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno” (Dn 12:2). Estes são os dois destinos para a humanidade, já previstos antes da vinda de Jesus Cristo ao mundo trazendo as boas notícias conhecidas como o Evangelho.

“Para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro… tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor” (Fp 1:21-23).

Jesus Cristo veio ao mundo com o propósito de dar a Sua vida, a fim de que todo aquele que nele crê saia da morte espiritual (separação de Deus por causa do pecado) em que se encontra e tenha a “vida eterna” (a reconciliação com Deus). Isto é o que o Senhor Jesus chamou de “novo nascimento”, que é entrar num estado de comunhão para sempre com Deus que nunca poderá ser perdido.

A existência consciente continua para todos depois da morte física, tenham ou não a “vida eterna”, e, considerando que todos passarão por um período entre a morte física e sua ressurreição, em que estarão destituídos dos seus corpos físicos, surgem as seguintes perguntas: “Terá o espírito (ou alma), do morto lembrança do seu passado na terra, ou algum conhecimento do que se passa por aqui? Qual será a sua atividade onde estiver? Todos os mortos ressuscitarão juntos, ou haverá separação em períodos diferentes? O que vem a ser a “primeira ressurreição”? (Ap 20:5 e 6).

Vamos a seguir procurar as respostas a essas perguntas, sem entrar em cogitações de nossa imaginação.

Os espíritos (ou almas), todos conscientes, irão depois da morte para lugares distintos, conforme ilustrado pelo Senhor Jesus com o caso do homem rico e Lázaro (Lc 16:19-31). Abraão, justificado pela sua fé, e o mendigo Lázaro, que sofrera os males da vida, encontravam-se longe do rico, separados por um grande abismo. Os três estavam fisicamente mortos, mas conscientes, em um lugar denominado “”hades””. Não somente estavam conscientes, mas podiam se reconhecer, bem como se comunicar entre si.

O homem rico se lembrou da sua vida aqui no mundo, da sua família, e de Lázaro. Lázaro não tomou parte na conversa, mas isso não permite concluir que ele fosse diferente. Temos o raro exemplo de Samuel, que, tempos depois de morto, surgiu em espírito para falar com o rei Saul, lembrou-se dele e lhe deu uma mensagem profética vinda de Deus (1 Sm 28:13-19). Samuel demonstrou ter conhecimento atual da situação por que passava Saul. Moisés também apareceu em espírito no monte, junto com o profeta Elias, para falar com o Senhor Jesus, e isso foi testemunhado pelos apóstolos Pedro, Tiago e João. As almas dos que terão sido martirizados durante a tribulação demonstrarão grande interesse no julgamento e vingança do seu sangue por Deus dos que habitam sobre a terra (Ap 6:10).

Dados estes exemplos, concluímos que é possível às almas dos mortos tomarem conhecimento do que se passa sobre a terra. Não sabemos em que oportunidade, e em que condições isso se dá, ou se existem restrições.

É muito comum dizermos, ao falecer um irmão: “ele agora descansa no Senhor”, o que dá a ideia de completa inatividade até a sua ressurreição. Realmente uma voz vinda do céu ordenou a João que escrevesse que os santos da tribulação que morrerem depois do início da grande perseguição desencadeada pela besta, ou anticristo, são bem-aventurados, e o Espírito confirma que a morte lhes trará descanso das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. Disto entendemos que aquilo que fizeram pelo Senhor será lembrado no céu e terão a sua recompensa.

A Bíblia por várias vezes fala dos que “dormem”, referindo-se aos mortos, o que pode dar uma ideia falsa de descanso e inatividade (At 7:60; 1 Cor 7:39; 11:30; 15:6, 15:18, 15:51, 1 Ts 4:13-15, 2 Pe 3:4). Trata-se, porém, do uso metafórico da palavra “sono” (“koimaomai” no grego), e se refere à morte do corpo. É apropriado por causa da semelhança entre o corpo de quem dorme e o corpo do morto: ambos se caracterizam por uma aparência de descanso e paz. Sugere que:

  • Assim como quem dorme não deixa de existir enquanto o seu corpo está imóvel, também o morto continua existindo apesar da impossibilidade de comunicação entre ele e os que permanecem na terra.
  • Assim como o sono é temporário, também será a morte do corpo.

Paulo nos informa que, quando o corpo físico do crente se desfaz na morte, o seu espírito é revestido de um novo corpo celestial, com o qual estará presente com o Senhor (2 Cor 5:2-8). Ele declara que “isto é ainda muito melhor” (Fp 1:23), do que o estado presente de gozo na comunhão com Deus e atividade em Seu serviço. Isto não poderia significar simples descanso e inatividade, e sem dúvida o espírito do crente terá muito em que se ocupar na presença do Senhor.

Paulo teve uma visão do “terceiro céu”, o paraíso, onde “ouviu palavras inefáveis, as quais não é lícito ao homem referir” (2 Cor 12:4). Em Lucas 23:43, o Senhor Jesus prometeu ao ladrão arrependido crucificado com Ele, que ambos estariam juntos no paraíso naquele mesmo dia. Logo, o paraíso agora está no céu, e não mais no “hades”. Aprouve a Deus não nos revelar o que os espíritos dos mortos estarão ocupados a fazer ali antes da sua ressurreição, mas o que já sabemos é suficiente para animar todo crente, e os seus queridos quando ele parte para lá.

A Bíblia nos informa sobre várias ressurreições, algumas sendo simples “despertamento” do corpo mortal, que eventualmente voltou a morrer. Outras são de grande amplitude, e todos os mortos passarão por elas. Vamos nos limitar a estas.

A primeira ressurreição é conhecida como a “Ressurreição dos Justos”, e a Bíblia declara que é “Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele mil anos”. (Ap 20:6). Esta iniciou-se com a ressurreição de Jesus Cristo, também chamada “As Primícias”: Ele foi o precursor, e durante quarenta dias demonstrou o Seu novo corpo glorioso a mais de quinhentas pessoas, antes de se elevar com ele ao céu, visivelmente, diante dos Seus discípulos (At 1:22, 2:31, 4:33, Rm 1:4, 6:5, Fp 3:10, 1 Pe 1:3, 3:21). Em seguida, encontramos duas fases bem definidas dessa primeira ressurreição:

  1. A ressurreição dos que morreram em Cristo, colocando a sua fé n’Ele, pertencendo assim à Sua igreja. Seus espíritos virão com o Senhor Jesus nos ares, recebendo novos corpos e encontrando-se com o remanescente da Igreja, composto dos que ainda se encontrarem vivos, cujos corpos serão transformados, e todos voltarão para os céus com o Senhor (Jo 14:1-3, 1 Ts 4:13-18, 1 Cor 15:50-58).
  2. A ressurreição do restante dos justos, desde o início da humanidade até a segunda vinda de Cristo, que acontecerá depois do período da tribulação e antes do milênio. Ela abrangerá os santos do Velho Testamento e porventura outros que nele não tenham sido mencionados, e os que tiverem morrido durante o período da tribulação (Is 26:19, Dn 12:2, Ap 20:4).

Finalmente, terminado o milênio, acontecerá a ressurreição do julgamento dos injustos, compreendendo todo o restante dos mortos, a fim de comparecerem ao “trono branco” para receber a sua condenação (Jo 5:29, At 24:15, Ap 20:5).

Richard D. Jones