A Um Católico Romano
Você tem lido dez mil histórias sobre nós que somos comumente chamados Protestantes, do qual, se você acreditar apenas em mil, você deve pensar muito duramente a nosso respeito. Mas isto é completamente contrário às regras de nosso Senhor: ‘Não julgue, para que não sejas julgado’; e tem muitas consequências más, especialmente esta – nos inclinar a pensarmos duramente de você. Assim sendo, nós estamos em ambos os lados, menos desejosos de ajudarmos um ao outro, e mais prontos a ferirmos um ao outro. Consequentemente o amor fraternal fica completamente destruído; e cada lado, olhando o outro, como monstros, abre caminho para a ira, ódio, malícia, a todo tipo de afeição indelicada, que tem frequentemente irrompido em tais barbaridades desumanas, como dificilmente é citada em meio aos pagãos.
Agora, pode nada ser feito, até mesmo, nos permitindo de ambos os lados retermos nossas opiniões, para acalmarmos nossos corações, em direção um ao outro, e darmos um basta a esta inundação de indelicadeza e restaurarmos, pelo menos, algum pequeno grau de amor, em meio aos nossos próximos e conterrâneos? Você deseja isto? Você não está totalmente convencido de que a malícia, ódio, vingança, amargura, se em nós, ou em você, em nossos corações, ou seus, são uma abominação ao Senhor: Sejam nossas opiniões corretas, ou sejam elas erradas, esses temperamentos são inegavelmente errados. Eles são a estrada larga que conduz à destruição, para o inferno mais profundo.
Eu não suponho que todas as amarguras estão do seu lado. Eu sei que existem muito mais de nosso lado – tanto mais, que eu temo que muitos Protestantes (assim chamados) ficarão irados comigo também por escrever a você desta maneira, e dirão: ‘Isto é mostrar a você muito favor, você não merece tal tratamento de nossas mãos’.
Mas eu acredito que você mereça. Eu penso que você merece o mais terno respeito que posso mostrar, seja ele apenas por causa do mesmo Deus que ergueu você e a mim do pó da terra, e nos fez ambos, capazes de amarmos e desfrutarmos Dele para a eternidade; seja apenas porque o Filho de Deus comprou você e a mim com Seu próprio sangue. Quanto mais, se você é uma pessoa temente a Deus (como sem dúvida, muitos de vocês são) e visando ter uma consciência nula de ofensa em direção a Deus e ao homem!
Eu devo, portanto, me esforçar, tão humilde e inofensivamente, quanto eu puder, para remover em alguma medida o motivo de sua indelicadeza, ao declarar claramente qual é nossa crença e qual é nossa prática; para que você possa ver que não somos tão completamente tais monstros, como talvez você imaginou que fôssemos.
Um verdadeiro Protestante pode expressar sua crença nestas ou em palavras parecidas:
Como eu estou seguro de que existe um Ser infinito e independente, e que é impossível que possa haver mais do que um; então, eu acredito que este único Deus é o Pai de todas as coisas, especialmente de anjos e homens; que Ele é de uma maneira peculiar, o Pai daqueles a quem ele regenera, através de Seu Espírito, a quem Ele adota em Seu Filho, como coerdeiros com Ele, e coroa com uma herança eterna; mas em um sentido ainda maior, o Pai de Seu único Filho, a quem ele gerou da eternidade.
- Eu acredito que este Pai de todos, não apenas é capaz de fazer tudo que agradar a Ele, mas também de ter o direito eterno de fazer o que, quando e como Lhe agradar, e de possuir e dispor de todos que Ele criou; e que Ele de Sua própria bondade criou o céu e terra e tudo que nela existe.
- Eu acredito que Jesus de Nazaré foi o Salvador do mundo, o Messias, há tanto profetizado; que, sendo ungido com o Espírito Santo, Ele foi um Profeta, nos revelando toda a vontade de Deus; que Ele foi um Sacerdote que deu a Si mesmo como sacrifício pelo pecado e ainda faz intercessão pelos transgressores; que Ele é um Rei, que tem todo poder no céu e na terra, e reinará até que Ele tenha subjugado todas as coisas para Si mesmo.
- Eu acredito que Ele é o próprio Filho natural de Deus, Deus de Deus, o próprio Deus do próprio Deus; e que Ele é o Senhor de todos, tendo absoluto domínio supremo universal sobre todas as coisas; mas mais peculiarmente nosso Senhor, de quem crê Nele, tanto através da conquista, compra, e favor voluntário.
- Eu acredito que Ele foi feito homem, juntando a natureza humana com a divina em uma pessoa; sendo concebido pela operação singular do Espírito Santo, e nascido da abençoada Virgem Maria, que, tanto depois, quanto antes que o gerasse, continuou virgem pura e imaculada.
- Eu acredito que Ele sofreu dores inexprimíveis, ambos do corpo e alma, e, por fim, a morte, mesmo a morte da cruz, no tempo em que Pôncio Pilatos governou a Judéia, sob o Imperador Romano; que Seu corpo foi, então, colocado em uma sepultura, e Sua alma foi ao local dos espíritos separados; que, no terceiro dia, Ele ressuscitou dos mortos; que Ele ascendeu ao céu; no mais elevado poder e glória, como Mediador, até o fim do mundo, assim como Deus para toda a eternidade; que no final, Ele virá do céu para julgar cada homem, segundo suas obras, aqueles que, então, vivem, assim como todos que morreram antes daquele dia.
- Eu acredito que o Espírito de Deus, infinito e eterno, igual com o Pai e o Filho, não seja apenas perfeitamente santo em Si mesmo, mas a causa imediata de toda santidade em nós; iluminando nosso entendimento, corrigindo nossas vontades e afeições, assegurando-nos a adoção como filhos, dirigindo-nos em nossas ações, purificando e santificando nossas almas e corpos, para um desfrute completo e eterno de Deus.
- Eu acredito que Cristo, através de Seus Apóstolos reuniu junto a Si mesmo, a Igreja, para a qual Ele tem continuamente acrescentado tais que devam ser salvos; que esta Igreja católica (ou seja, universal – [explicação do Sr. Wesley]), extensiva a todas as nações e em todas as épocas, é santa em todos os seus membros, que têm camaradagem com Deus, o Pai, Filho e Espírito Santo; que eles têm camaradagem com os santos anjos, que ministram constantemente para aqueles herdeiros da salvação; e com todos os membros vivos de Cristo sobre a terra, assim como todos que são separados em Sua fé e temor.
- Eu acredito que Deus perdoa todos os pecados daqueles que verdadeiramente se arrependem, e acreditam sinceramente em Seu santo Evangelho; e que, no último dia, todos os homens ressuscitarão, cada um com seu próprio corpo.
- Eu acredito que, como o injusto deverá depois da sua ressurreição ser atormentado no inferno para sempre, então, o justo desfrutará de felicidade inconcebível na presença de Deus para toda a eternidade.
Agora, existe alguma coisa errada nisto:
Existe algum ponto que você não acredita, tanto quanto nós?
Mas você pensa, que devamos acreditar mais. Nós não entraremos agora em discussão. Apenas deixe-me perguntar: se um homem sinceramente crê assim tanto, e pratica, conformemente, pode alguém mais possivelmente persuadir você a pensar que tal homem perecerá eternamente?
‘Mas ele pratica, conformemente?’. Se ele não o faz, nós garantimos que toda sua fé não o salvará. E isto me conduz a mostrar a você em poucas e claras palavras, qual é a prática de um verdadeiro Protestante. Eu digo, um verdadeiro Protestante: porque eu repudio todos os blasfemadores, beberrões, todos os libertinos, mentirosos, impostores, fraudadores; em uma palavra todos que vivem em pecado declarado. Esses não são Protestantes; eles não são cristãos, afinal. Dê a eles seus próprios nomes; eles são pagãos declarados; eles são a desgraça da nação, a ruína da sociedade, a vergonha da humanidade, a escória da terra.
Um verdadeiro Protestante acredita em Deus, tem uma completa confiança em Sua misericórdia, teme a Ele, com o temor filial e o ama com toda sua alma. Ele adora a Deus, em espírito e verdade, em todas as coisas dá a Ele graças; clama junto a Ele com seu coração, assim como, com seus lábios, todo o tempo, e em todos os lugares; honra seu Santo nome, e Sua Palavra, e serve a Ele verdadeiramente todos os dias de sua vida.
- Agora, você aprova isto?
- Existe algum ponto que você pode condenar?
- Você não pratica, assim como aprova isto?
- Pode você ser feliz sempre, se você não fizer?
- Pode você esperar a paz verdadeira neste mundo, ou glória no mundo vindouro, se você não crê em Deus, através de Cristo? Se você assim não teme e ama a Deus?
Meu querido amigo, considere, eu não estou persuadindo você a deixar ou mudar sua religião, mas a seguir, segundo aquele medo e amor a Deus, sem o que toda religião é vã.
Eu não digo uma palavra a você, com respeito às suas opiniões ou maneira exterior de adoração. Mas eu digo, toda adoração é uma abominação ao Senhor, exceto se você adorar a Ele, em espírito e verdade, com seu coração, assim como seus lábios, com seu espírito e seu entendimento também.
Seja sua forma de adoração, o que ela for, a não ser que em todas as coisas ela dê graças a Ele, tudo isto será trabalho perdido. Use quaisquer observâncias exteriores que lhe agradar. Mas coloque toda confiança Nele, honre o Seu santo nome e Sua Palavra, e sirva a Ele verdadeiramente todos os dias de sua vida.
Novamente: Um verdadeiro crente ama seu próximo – ou seja, todo homem, amigo ou inimigo, bom ou mal – como a si mesmo, assim como ele ama sua própria alma, assim como Cristo nos amou. E como Cristo entregou Sua vida por nós, assim, ele está pronto a entregar sua vida por seus irmãos. Ele mostra seu amor, fazendo a todos os homens, em todas as questões, como ele gostaria que fosse feito junto a ele. Ele ama, honra e obedece ao seu pai e mãe, e os ajuda com todo seu poder. Ele honra e obedece ao rei, e todos que são colocados em autoridade debaixo dele. Ele alegremente se submete a todos os seus governos, professores, pastores espirituais e mestres. Ele se comporta mansamente e reverentemente com todos os seus superiores. Ele não fere a ninguém, através de palavra ou feito. Ele é verdadeiro e justo em todas as suas condutas. Ele não carrega malícia ou ódio em seu coração. Ele se abstém de toda maledicência, mentira e calúnia, nem fraude é encontrada em sua boca. Sabendo que seu corpo é templo do Espírito Santo, ele o mantém em sobriedade, temperança e decência. Ele não deseja os bens de outros homens; mas está contente com o que ele tem, trabalha para conseguir sua própria subsistência, e faz toda a vontade de Deus, nesta condição de vida, a que agradou a Deus, chamá-lo.
- Você tem alguma coisa para reprovar nisto?
- Você não está nisto, assim como ele?
Se não (diga a verdade):
- Você não está condenado, ambos por Deus e sua própria consciência?
- Pode você falhar em algum ponto disto, sem falhar como um cristão?
Venha, meu irmão, e vamos raciocinar juntos:
- Você está certo, se você apenas ama seu amigo e odeia seu inimigo? Não fazem o mesmo os pagãos e publicanos? Você é chamado para amar seus inimigos, para abençoar os que o amaldiçoam, e orar por aqueles que maliciosamente o usam e perseguem. Mas você não é desobediente ao chamado divino? Seu amor terno a todos os homens – não apenas aos bons, mas também aos maus a ingratos – aprovam você, como filho de seu Pai que está no céu? Do contrário, tudo que você crê e o que quer que pratique, você é de seu pai, o diabo.
- Você está pronto para colocar sua vida por seus irmãos? E você faz a eles o que gostaria que eles fizessem a você? Se não, não engane sua própria alma: você é um pagão ainda.
- Você ama, honra e obedece ao seu pai e mãe e os ajuda com todo seu poder? Você honra e obedece a todos em autoridade? Todos os seus governadores, pastores espirituais e mestres? Você se comporta mansamente e reverentemente com todos os seus superiores? Você fere ninguém, através de palavra ou feito? Você é verdadeiro e justo em todos os seus acordos? Você cuida de pagar o que deve?
- Você não sente malícia, ou inveja, ou vingança, ódio ou amargura por algum homem? Se você sente, fica claro que você não é de Deus; porque todos esses são temperamentos do diabo.
- Você fala a verdade de seu coração a todos os homens, e isto na ternura e amor? Você é um ‘Israelita, de fato, em quem não existe fraude:’. Você mantém seu corpo na sobriedade, temperança, e caridade, sabendo que ele é o templo do Espírito Santo, e que, se algum homem corrompe o templo de Deus, ele destrói Deus nele? Você aprendeu, que em todas as condições em que esteja você deve ficar contente?
- Você trabalha para conseguir seu próprio sustento, abominando a preguiça, assim como abomina o fogo do inferno? O diabo tenta outros homens, mas um homem preguiçoso tenta o diabo: o cérebro de um homem preguiçoso é a loja do diabo, onde ele está continuamente maquinando injurias. Você não é indolente no trabalho? O que quer que sua mão encontre para fazer, você faz com todo seu poder? E você faz tudo, como para Deus, como um sacrifício a Deus, aceitável em Jesus Cristo?
Esta, e apenas esta é a velha religião. Este é o verdadeiro Cristianismo primitivo. Oh, quando ele se espalhará sobre a terra? Sem esperar pelos outros, que cada um de nós, pela graça de Deus, reformemos um.
Nós não concordamos até ai? Vamos agradecer a Deus por isto, e receber tudo como um sinal renovado do amor Dele. Mas, se Deus ainda nos ama, nós devemos também amar um ao outro. Nós devemos, sem esta disputa interminável a respeito de opiniões, encorajarmos um ao outro para amararmos e operarmos o bem. Que os pontos em que diferimos fiquem de lado: aqui existe muito com que concordarmos o suficiente para ser o alicerce de todo temperamento cristão e de toda ação cristã.
Ó, irmãos, não vamos ainda cair no caminho! Eu espero vê-lo no céu. E se eu pratico a religião acima descrita, você não se atreverá a dizer que irei para o inferno. Sua própria consciência diz o contrário. Então, se nós não podemos pensar igualmente em todas as coisas, pelo menos, podemos amar igualmente. Nisto nós não podemos possivelmente errar. Porque de um ponto ninguém poderá duvidar, um momento: — ‘Deus é amor, e aquele que habita no amor, habita em Deus, e Deus nele’. Em nome de Deus, então, e na força de Deus:
- Não vamos ferir um ao outro. Fazer coisa alguma indelicada ou descortês, um ao outro, nada que não teríamos feito a nós mesmos. Antes, vamos nos esforçar em busca de todo exemplo de delicadeza, amigavelmente, e comportamento cristão, em direção um ao outro.
- Deus sendo nosso ajudador, não vamos falar coisa alguma rude ou indelicada um do outro. O caminho certo para evitar isto é dizer toda sorte de bem que pudermos um do outro, em toda nossa conversação, quer com, ou concernente um ao outro, e usar apenas da linguagem do amor, para falar com toda delicadeza e ternura, com a expressão mais afetuosa, e que seja consistente com a verdade e sinceridade.
- Não vamos nutrir algum pensamento indelicado, nenhum temperamento descortês, em direção um ao outro. Vamos colocar o machado na raiz da árvore; vamos examinar tudo que surge em nossos corações, e não permitir disposição lá que seja contrária à afeição terna. Então, facilmente refrearemos as ações e palavra indelicada, quando a própria raiz da amargura for cortada.
- Vamos nos esforçar para ajudarmos um ao outro, no que quer que estejamos de acordo, para nos conduzir ao reino. Até onde pudermos, vamos nos regozijar sempre em fortalecer as mãos uns dos outros em Deus. Acima de tudo, vamos prestar atenção, cada um em si mesmo (já que cada um deverá prestar contas a Deus), e que ele não falhe na religião do amor; que ele não seja condenado naquilo que ele mesmo aprova. Ó que você e eu (o que quer que outros façam) pressionemos adiante para o prêmio de nosso alto chamado! Que, justificados pela fé, possamos ter paz com Deus, através de nosso Senhor Jesus Cristo; que possamos nos regozijar em Deus, através de Jesus Cristo, através de quem temos recebido a redenção; que o amor a Deus possa se espalhar por todo nosso coração, através do Espírito Santo, que é dado a nós. Vamos considerar todas as coisas, perda para a excelência do conhecimento de Jesus Cristo, nosso Senhor; estando prontos por Ele, a suportar a perda de todas as coisas, e considerá-las excremento, para que possamos ganhar a Cristo.
Eu sou, seu afetuoso servo, por amor a Cristo,
John Wesley – Dublin, 18 de Julho, 1749.