A Suficiência e a Finalidade das Escrituras
Frequentemente encontramos a sugestão de que a Bíblia não foi dada para ser um guia completo nas questões de doutrina e prática durante a presente época. Alguns acham que enquanto as Escrituras são de origem e autoridade divina, não foram uma revelação final, e que a autoridade da Igreja seria suficiente para poder providenciar doutrinas e orientações adicionais.
Outros pensam que verdades que eram essenciais para os primeiros cristãos não são essenciais nas circunstâncias dos dias modernos;. Em outras palavras, que o avanço da civilização tornou muitos ensinos apostólicos fora da moda.
A epístola de Judas declara que a fé “uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). A versão corrigida “uma vez foi dada aos santos” poderia ter o sentido de “antigamente” (no passado). A palavra “hapax” no original não contém este sentido, que é representado por pote. Visto que a fé foi entregue “uma vez por todas”, é óbvio que não foi a intenção divina que recebesse acréscimo ou modificação. A fé está contida na Bíblia como foi entregue a nós. Tentar aumentá-la, ajustá-la ou formar decretos adicionais como se fossem de autoridade divina, é contestar a obra perfeita do Espírito Santo e ser culpado de impiedade presunçosa. Sem dúvida, esta é a razão porque um aviso é dado três vezes no livro contra a falsificação das Escrituras.
- O primeiro é a exigência dada a Israel: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela” ( Dt 4:2; 12:32);
- O segundo se encontra em Provérbios: “Toda a Palavra de Deus é pura … nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Pv 30:5-6);
- O terceiro está no Apocalipse onde achamos o aviso: “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, da cidade Santa, e das coisas que estão escritas neste livro” (Ap 22:18-19).
Sem dúvida, este último se refere diretamente ao conteúdo do Apocalipse, mas considerando as três passagens juntas, elas constituem uma proibição contra qualquer tentativa de aumentar ou diminuir o conteúdo da Palavra de Deus.
O apóstolo Paulo faz uma declaração clara da finalidade e permanência das Escrituras. Ele instrui Timóteo a advertir todos de que nenhuma outra doutrina seja ensinada: “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Éfeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina … Conserva o modelo das sãs palavras … guarda o bom depósito pelo Espírito Santo” (I Tm 1:3 e II Tm 1:13-14). As coisas que ele ouviu de Paulo, ele passaria aos homens fiéis, para poderem ensinar outros também. O dever dele então foi manter a verdade, e não produzir mais. Outra vez ele afirma em II Tm 3:16-17 a suficiência absoluta das Escrituras, ao declarar que é inspirada por Deus, e assim “o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”. Ele afirma tanto a origem e a autoridade divina das Escrituras como a sua finalidade na doutrina.
Se um homem de Deus, por intermédio destes meios seria completo e completamente instruído, não haveria necessidade de doutrina adicional. Os apóstolos avisam os cristãos para continuarem no ensino dado a eles. O apóstolo João diz: “Portanto, o que desde o princípio ouvistes, permaneça em vós” (I Jo 2:24). Paulo escreve: “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste” (II Tm 3:14). Veja também I Tm 6:20.
Certos ensinos em I Coríntios são considerados por alguns meramente aplicáveis à igreja à qual aquela epístola foi endereçada. Porém, foram escritos não somente àquela igreja, mas para “todos os que em todo o lugar invocam o Nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (I Cor 1:2). Muitos dos seus ensinos são os alicerces da fé, e o que foi de aplicação contém princípios essenciais para as igrejas de todos os tempos. Conforme a exortação no Capítulo 14 referindo-se à conduta e ordem nas reuniões das igrejas, como por exemplo: ministério oral; exercício de dons; silêncio das mulheres e a instrução acerca de cobrir as suas cabeças, o apóstolo diz que as coisas que estava escrevendo foram “mandamento do Senhor”. Outra vez em I Cor 4:17 e I Cor 7:17 ele diz que o que ele está transmitindo é o que ele ensina em todas as igrejas.
O apóstolo João insiste em aderência à fé como segue: “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece, não tem Deus; … Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas”. II João 9 e 10 (Atualizada) impõe uma limitação indevida à frase “o ensino de Cristo”, fazendo-a referir-se apenas a uma doutrina d’Ele. Assim, concluímos que “o ensino de Cristo” é toda a revelação divina acerca d’Ele, e isto é “a verdade” à qual o apóstolo se refere nos versos 1e 2: “conosco será para sempre”. Ele enfatiza o ensino dado por ele e os seus coapóstolos.
Uma reivindicação que, se não fosse válida, seria nada menos do que presunção, mas que realmente testemunha tanto a sua autoridade divina como a perfeição das doutrinas das Escrituras. Ele diz: “Nós somos de Deus: aquele que conhece a Deus ouve-nos; aquele que não é de Deus não nos ouve. Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do erro” (I Jo 4:6). Concluímos obviamente que os ensinos dos apóstolos são o padrão pelo qual julgamos o que é verdadeiro ou falso na doutrina. Sendo assim, o que não é confirmado pelo Novo Testamento não tem a autoridade de Deus.
Pela Palavra de Deus somos julgados daqui por diante; pois é dada como o padrão da nossa vida e a nossa obediência à fé. Quão importante é ver que os nossos caminhos são dirigidos em obediência às Escrituras, tanto na nossa vida particular, como no trato dos nossos contemporâneos! É importante também que, ao considerar assuntos relativos à igreja, não sigamos as tradições e dogmas dos homens, mas as Escrituras da verdade! Sendo o artífice o “Espírito de Deus”, Que veio para nos guiar em toda a verdade, como o nosso Senhor prometeu, as Escrituras são conselheiras infalíveis.
Sendo suficientes e finais para nós como a completa Palavra de Deus, deveriam ser suficientes e finais para nós na organização de todos os nossos afazeres. Que o nosso apelo seja: “Que diz a Escritura?” e, tendo recebido uma resposta, digamos: “Não posso ir além da palavra do Senhor meu Deus, para fazer menos ou mais”. Assim, no cumprimento da Sua “boa e aceitável e perfeita vontade” podemos dizer “Guardei a fé”, e esperar com confiança para receber do nosso Senhor a Sua recomendação: “Guardaste a minha palavra, e não negaste o Meu Nome” (Ap 3:8).
William Edwy Vine – Tradução: Jaime Crawford.