“Qual o lírio entre os espinhos, tal é meu amor entre as filhas. Qual a macieira entre as árvores do bosque, tal é o meu amado entre os filhos; desejo muito a sua sombra, e debaixo dela me assento; e o seu fruto é doce ao meu paladar” (Ct 2:2-3). Neste maravilhoso cântico, rapidamente percebe-se a intimidade entre duas pessoas que se amam e esforçam-se por demonstrar este sentimento. Após ouvir uma declaração de amor do Amado, a Amada responde, comparando-o à macieira; ela fala do seu desejo de estar assentada à sua sombra, apreciando seu doce fruto. Ao lermos o Cântico dos cânticos, percebemos a vontade do Senhor em expressar um relacionamento entre Cristo e a Sua Igreja, mesmo que existam outras interpretações e ensinamentos neste livro sagrado.
Quando o Amado faz sua declaração, comparando-a ao “lírio entre os espinhos”, traz-nos à memória o trecho em que diz : “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito” (Is 53: 11). A Igreja é preciosa demais aos olhos de Cristo, como uma pérola de grande valor; um reluzente brilho em meio às trevas deste mundo, retirada do lamaçal de pecado, manifestando a fragrância de seu conhecimento (2 Cor 2: 14,15). Do mesmo modo que o lírio expressa a sua beleza, diferenciando-se dos espinhos, assim nosso Amado Salvador cuida da Sua Igreja, para “apresentá-la gloriosa, sem mácula, nem ruga” (Ef 5: 27, 29).
Nós, como Igreja, comprados pelo sangue de Cristo, devemos expressar a mesma gratidão e o mesmo desejo da Amada: assentar-nos à Sua sombra e desfrutarmos o que nos é oferecido. No Salmo 81, Deus diz: “Ah! Se o meu povo me escutasse…”. receberia toda a proteção e o sustento do Senhor; semelhantemente, na presença Cristo, podemos encontrar toda a sorte de bênçãos.
Infelizmente, muitas vezes encontramo-nos sufocados pelo sol quente deste mundo e continuamos lutando com as nossas forças em busca daquilo que nos apraz e de nossas ambições terrenas, não tendo sequer a visão de que precisamos da sombra do Amado. Estamos misturados com as multidões, ouvindo o barulho do mundo, dissipando nosso tempo e nossa energia, e a justiça de Deus é relegada ao segundo plano.
Outras vezes, no ímpeto de servir a Deus na Igreja, queremos fazer muitas coisas, sobrecarregando nossa agenda com atividades, assumindo diversas tarefas, como se pudéssemos servir sem primeiro aquietarmos na presença do Senhor.
Seria muito mais sábio e proveitoso pararmos um tempo todos os dias e assentarmos à sombra d’Aquele que pode nos dar todas as coisas e ensinar o que devemos fazer. Maria aprendeu rapidamente esta lição, ao passo que sua irmã teve de ouvir a repreensão: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas cousas”. E ao curar um surdo-gago, Jesus tira-o da multidão (Mc 7:33); ao colocar saliva em sua língua, Jesus mostra compaixão diante do sofrimento humano. E ali, distante do barulho e aglomerações, aquele homem pode descobrir quem era o Senhor e a grandeza do Seu poder.
Também ao ensinar Seus discípulos a orar, Ele aconselha que entremos no quarto e fechemos a porta. Quão importante é essa intimidade para o crescimento espiritual dos cristãos e talvez seja a necessidade mais urgente para a Igreja de nossos dias. Conhecemos na verdade muito pouco do Nosso Salvador e para contemplarmos a beleza de Sua santidade, precisamos estar bem próximos, sentindo o refrigério de sua sombra.
O nosso mundo ao redor reflete a glória de Deus na Sua criação; mas também a agitação causada pelo mundo materialista e consumista abafa a voz do Criador; é mais que necessário nos deliciarmos na presença de Jesus, sentir a Sua proximidade para ouvir a sua voz de amor. Quando Ele viu as multidões, subiu ao monte para ensinar seus discípulos (Mt 5:1). Que nós também possamos subir ao monte, assentarmo-nos à Sua sombra para d’Ele aprender e saborear o doce fruto da sua comunhão. Com certeza, ali o nosso coração irá arder e só assim teremos força para testemunharmos de Cristo sem constrangimentos a este mundo que jaz no pecado!
Dirceu Packer