No mês passado, procuramos mostrar que a morte do Senhor Jesus foi para todos. Encerramos com as seguintes perguntas, que devem ser consideradas neste mês: “Se, então, Cristo morreu por todos, isso significa que todos serão salvos? E se não, por que não?”
As Escrituras ensinam que nem todos serão salvos, e o motivo é que, para ser salvo, a pessoa precisa se arrepender de seus pecados e confiar no Senhor Jesus Cristo. O testemunho da Palavra sobre isso é tão abundante que precisamos apenas citar alguns exemplos: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados” (At 3:19); ‘Todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna’ (Jo 3:16); ‘Quem crê no Filho tem a vida eterna; e quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus’ (Jo 3:36); ‘Se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados’ (Jo 8:24).
Esses dois fatos — que Cristo morreu por todos e que nem todos serão salvos — são vistos, por alguns, como uma contradição. “Como”, perguntam eles, ”pode alguém por quem Cristo morreu estar perdido?” Alguns questionam a justiça de tal situação: “Certamente é injusto que um pecador seja punido por pecados pelos quais Cristo já morreu”, podem dizer.
Para alguns, a solução é negar um ou outro dos dois fatos. Por um lado, há aqueles que rejeitam o ensino de que qualquer pessoa se perderá, levando ao “universalismo”, cujos adeptos contradizem os ensinamentos da Bíblia que mostram que muitos perecerão eternamente. Por outro lado, outros, reconhecendo que a Bíblia de fato ensina a realidade da punição eterna, negam que Cristo morreu por todos e, portanto, defendem a “expiação limitada”, ensinando que a morte de Cristo foi apenas para um grupo específico de pessoas e que elas, e somente elas, serão salvas.
Embora essas duas doutrinas sejam diferentes, seus proponentes têm algumas coisas em comum. Ambas negam o que as Escrituras ensinam claramente e se esforçam muito para tentar explicar as passagens bíblicas que são contrárias às suas teorias. Além disso, ambas derivam de um entendimento errado do que o Senhor Jesus realmente fez quando morreu na cruz.
O problema básico é a falsa noção de que isso pode ser visto como uma equação matemática, como se houvesse um total mensurável de sofrimento pelo pecado e que (olhando do ponto de vista “universalista”) se Cristo suportou tudo isso, então não há mais nada para o pecador sofrer. Eles concluem que não há razão para que alguém seja punido eternamente; ou que (do ponto de vista da “expiação limitada”), como alguns pecadores sofrerão eternamente, isso deve significar que Cristo não sofreu por eles.
Alguns veem isso como uma transação financeira. Cristo, na cruz, estava pagando a dívida do pecador e, portanto (argumenta-se), seria injusto que o pecador tivesse que pagar o que Cristo já pagou por ele; ou então há alguns cuja dívida Ele não pagou.
Entretanto, as Escrituras nunca apresentam a obra de Cristo dessa forma. Deus não pegou um grupo pré-selecionado de pessoas, contou todos os seus pecados, mediu a quantidade total de punição devida por isso e a colocou sobre Seu Filho, que continuou a sofrer até que esse total cumulativo de pecados (e somente esses) tivesse sido totalmente expiado. Até mesmo dizer que Deus pegou os pecados de toda a população do mundo (passado, presente e futuro), contou todos eles e os colocou sobre Seu Filho não faz justiça à obra do Calvário. Em vez disso, o Filho de Deus ofereceu a Si mesmo como sacrifício, para proporcionar a redenção, cujo preço foi Seu “precioso sangue” (1Pe 1:19), que está além da avaliação humana; um sacrifício de valor infinito. Por meio de Sua morte, toda a questão do pecado foi resolvida, e Cristo satisfez o Pai, independentemente de quantas pessoas houvesse no mundo ou de quantos pecados elas cometeriam. A provisão foi de valor imensurável, suficiente para todas as pessoas do mundo e todos os seus pecados, independentemente do número de pessoas. O que aconteceu no Calvário não envolveu um cálculo matemático.
Tampouco foi como uma transação financeira, por meio da qual o Senhor Jesus “pagou a dívida do pecador”. Mesmo nas parábolas sobre os devedores (Mt 18:27; Lc 7:42), a dívida não foi paga por ninguém; em vez disso, o devedor, que não tinha “nada a pagar”, foi perdoado, liberado de qualquer obrigação. E é assim no que diz respeito à obra da cruz. Não é que a dívida do pecador tenha sido paga ali, mas que a obra realizada ali permite que Deus perdoe o pecador.
Precisamos ver a morte de Cristo como ela realmente foi, um ato judicial, por meio do qual Ele fez propiciação pelos pecados, satisfazendo plenamente a Deus, declarando Sua justiça e permitindo que Ele fosse “justo e justificador daquele que crê em Jesus” (Rm 3:25-26). Isso não me deu automaticamente o perdão, a justificação, a redenção ou qualquer outra bênção que tenho agora. O que ela fez foi fornecer a base sobre a qual Deus poderia me dar essas bênçãos. Ela removeu a barreira legal que se interpunha entre Deus e os pecadores e permitiu que Ele, com base na justiça, saísse em misericórdia e graça para salvá-los.
E qual é o meio pelo qual as pessoas se beneficiam da provisão feita no Calvário? É por meio do arrependimento e da fé em Cristo. Somente nesse ponto — o momento da conversão — é que a obra do Gólgota se torna boa para o pecador individual. Embora a morte de Cristo seja suficiente para todos, ela se torna eficiente somente para aqueles que confiam Nele para a salvação.
A Bíblia ensina que Cristo morreu por todos e que nem todos serão salvos. Não há inconsistência. O fato de que muitos não serão salvos não é resultado de qualquer limitação na obra de Cristo, mas é porque eles não aceitaram a provisão ilimitada que foi feita.
David McAllister [ Donegal, Irlanda ]
Fonte: truthandtidings.com
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