A Origem do Mundo de Satanás
Quando consideramos a expressão “mundo” como ela é utilizada na Palavra de Deus, fica claro que ela tem pelo menos três significados distintos. É importante observar o significado no contexto pretendido em cada escritura onde encontramos a palavra.
O Mundo Material
Em primeiro lugar, temos o mundo como um lugar, o mundo físico que Deus criou, no qual vivemos e nos movemos. Assim, lemos em João 1:10, “O mundo foi feito por Ele”, referindo-se ao mundo material, tal como o conhecemos. É interessante observar que a palavra grega usada frequentemente para “mundo” no Novo Testamento, e especialmente no ministério de João, é kosmos, que possui o sentido de ordem ou beleza. Quando Deus criou este mundo e as coisas nele, Ele poderia dizer “que isso era bom” (Gn 1:25). Apesar da ruína que o pecado trouxe, ainda hoje vemos neste mundo muitas coisas belas e um reflexo da ordem na qual Deus a criou.
As Pessoas
Em segundo lugar, temos o mundo visto nas escrituras como sendo as pessoas. Assim, temos o que é talvez o versículo mais conhecido na Bíblia nos dizendo que “Deus amou o mundo” (Jo 3:16), referindo-se, naturalmente, as pessoas no mundo e não ao mundo material si. Como outro exemplo, o Apocalipse se refere a “hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo” (Ap 3:10), referindo-se a tribulação que virá sobre as pessoas neste mundo.
O Sistema do Mundo
Em terceiro lugar, temos o mundo visto como um sistema – um vasto arranjo de coisas interconectadas como cultura, comércio, lazer, e até mesmo a religião, que busca atender às necessidades do homem.
Assim, o Salmo 17:14 se refere a “homens do mundo, cuja porção está nesta vida”. No Novo Testamento, encontramos diversas referências ao mundo como um sistema, como por exemplo, “Não ameis o mundo … Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (1 Jo 2:15). É com esse aspecto do mundo que tratamos neste artigo. Onde o chamado sistema do mundo começa, quais suas características e o que as escrituras nos dizem sobre isso? Como sempre, em qualquer assunto moral e espiritual, encontramos a resposta na Palavra de Deus.
A Origem
O mundo como um sistema não é nenhuma novidade; é quase tão antigo quanto a presença da humanidade nele. É verdade que o mundo como um esquema organizado e coordenado de coisas assumiu um significado especial no momento da rejeição do Senhor Jesus, sendo falado no Novo Testamento muito mais do que no Velho Testamento. No entanto, o caráter básico deste sistema do mundo começa em Caim, o primeiro filho de Adão e Eva.
Conhecemos bem a história sobre como Caim e seu irmão Abel trouxeram ofertas ao Senhor. O Senhor aceitou a oferta de um cordeiro de Abel, mas rejeitou oferta do fruto da terra de Caim. Como resultado, Caim matou seu irmão Abel e trouxe sobre si um castigo duplo. Em primeiro lugar, o solo foi amaldiçoado por causa dele deixando de dar a sua plenitude (Gn 4:12). Segundo, e mais importante, Caim foi declarado “um fugitivo e errante” na terra. Consequentemente, ele “saiu da presença do Senhor” e construiu uma cidade; em seguida, Caim e seus descendentes cercaram-se de todas as coisas possíveis para tornarem-se tão felizes quanto pudessem em uma terra amaldiçoada e longe de Deus. Há pelo menos quatro características distintas do sistema do mundo que Caim “configurou” e essas características permanecem até hoje. A cultura, o comércio, os prazeres e os bens materiais podem ter mudado ao longo dos milênios, mas os princípios permanecem os mesmos.
Sem Arrependimento
Primeiro de tudo, não houve arrependimento por parte de Caim, seja por apresentar um sacrifício inaceitável ou por assassinar seu irmão. Seu orgulho o levou a invejar, um dos piores pecados, e o assassinato foi o resultado. Quando confrontado com isso, ele inventou uma desculpa, mentiu (ao próprio Deus!), em seguida, reclamou da severidade de sua punição. Ele estava chateado com os resultados de seu pecado, mas não houve arrependimento pelo seu pecado. Na verdade, Caim merecia morrer, mas como Deus ainda não havia instituído o governo ou a pena capital, isso não aconteceu.
Fora da Presença de Deus
Segundo, de forma deliberada e definitiva, Caim “saiu da presença do Senhor” (Gn 4:16). Como tantos outros depois, ele e sua família “se não importaram de ter conhecimento de Deus” (Rm 1:28). Jó se referiu a esse tipo de pessoas como aqueles que dizem a Deus: “Retira-te de nós; porque não desejamos ter conhecimento dos teus caminhos” (Jó 21:14). Caim poderia ter tudo de bom que Deus poderia fazer por ele, mas queria distância de qualquer conhecimento ou intimidade com Deus.
Ele Construiu Uma Cidade
Terceiro, “ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque” (Gn 4:17). Enoque significa “dedicado” e é evidente que Caim dedicou sua cidade ao seu filho, de modo que todas as suas esperanças e ambições foram centradas em sua família e não em Deus. Não havia nada de errado na construção de uma cidade, mas o objeto de Caim ao fazer isso não foi para glorificar a Deus; ao contrário, foi fazer um nome para si e para sua família. Não havia nenhum lugar para Deus naquela cidade. É reconfortante notar que um descendente de Adão, através da família de Seth, também foi levou o nome de Enoque (Gn 5: 21-24). Ele também foi dedicado, mas no caminho correto, pois lemos que “andou Enoque com Deus” (Gn 5:24).
Invenções Para a Felicidade
Finalmente, a família de Caim passou a cercar-se de cada invenção que poderia ajudar no seu conforto e felicidade, deixando Deus de fora. E assim foi por muitas gerações, lemos que, como consequência disso, Jabal era o “pai dos que habitam em tendas e têm gado” (Gn 4:20). Em seguida, seu irmão Jubal era o “pai de todos os que tocam harpa e flauta” (vs. 21). Finalmente, Tubalcaim foi “mestre de toda obra de cobre e de ferro” (vs. 22). Gado serviu de comida, bronze e ferro de comércio e a harpa e a flauta de prazer para o homem. Essas coisas não eram erradas em si mesmas; mas foi o uso para o qual elas foram colocadas que era inadequado.
Todas essas características do mundo de Caim estão conosco hoje. O homem sente remorso como efeito do pecado, mas não reconhece a gravidade do pecado aos olhos de Deus e, portanto, não há arrependimento. Ele ainda não quer o conhecimento de Deus. Da mesma forma, a mente inventiva do homem procura tornar este mundo o mais confortável possível, satisfazendo seus desejos e tendo a permissão da bondade de Deus. Fazendo da sua própria vontade (que é a própria essência do pecado) o seu código de conduta, enquanto percebe que a vida deve acabar um dia. Sua crença central resume-se no que um colega de trabalho me disse uma vez: “Não estamos aqui por um longo tempo; apenas para ter um bom tempo!”.
À medida que os dias ficam mais escuros e mundo assume um carácter cada vez maior do mal, nós, como crentes precisamos buscar a graça da parte do Senhor para podermos obedecer ao mandamento: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” ( Rm 12:21).
William J. Prost – Junho 2015