A Obediência do Filho

Ele, Jesus, nos dias da Sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da Sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem (Hb 5.7-9).

Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a Si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a Si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Pelo que também Deus O exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai (Fp 2.5-11).

O Senhor Inicia a Obediência

A Bíblia nos diz que o Senhor Jesus e o Pai são um. No começo era o verbo e o verbo era Deus. O céus e a terra foram criados pela palavra. A glória que Deus tinha no principio, até mesmo a glória inigualável de Deus, também era a glória do Filho. O Pai e o Filho existem igualmente e são iguais em poder e propriedade. Só em Pessoa há uma diferença entre o Pai e o Filho. Não é uma diferença essencial; é apenas um arranjo dentro da Divindade. Portanto, as Escrituras dizem que o Senhor “não julgou como usurpação o ser igual a Deus” – isto é, não era uma coisa a ser tomada. Sua igualdade com Deus não é uma coisa a ser tomada nem adquirida, pois inerentemente Ele é a imagem de Deus.

Filipenses 2.5-7 é uma seção, e os versículos 8-11 outra. Nestas duas seções, nosso Senhor foi apresentado humilhando-se duas vezes: primeiro esvaziou-se de Sua divindade e, então, humilhou-se em Sua humanidade. Quando veio a este mundo, o Senhor tinha se esvaziado de tal maneira da glória que ninguém naquele tempo, a não ser por revelação, reconheceu-o como Deus. Trataram-no como homem, uma pessoa comum neste mundo. Como Filho, de boa vontade submeteu-se à autoridade do Pai e declarou “o Pai é maior do que Eu” (Jo 14.28). Portanto há perfeita harmonia na Divindade. Alegremente o Pai assume o lugar de Cabeça, e o Filho reage em obediência. Deus torna-se o emblema da autoridade, enquanto Cristo assume a posição de símbolo da obediência.

Para nós, os homens, obedecer deveria ser simples, porque tudo de que precisamos é um pouco de humildade. Para Cristo, entretanto, ser obediente não foi uma questão simples. Foi muito mais difícil para Ele ser obediente do que criar os céus e a terra. Por quê? Porque teve de esvaziar-se de toda a glória e poder de Sua divindade e assumir a forma de escravo para poder obedecer. Portanto a obediência foi iniciada pelo Filho de Deus.

O Filho originalmente partilhou a mesma glória e autoridade com o Pai. Mas quando veio ao mundo, de um lado, abandonou a autoridade e, de outro, assumiu a obediência. De boa vontade assumiu o lugar de escravo, aceitando as limitações humanas de tempo e espaço. Ele se humilhou ainda mais e foi obediente até à morte. Obediência dentro da Divindade é a coisa mais admirável em todo o universo. Sendo Cristo obediente até a morte – sofrendo uma morte muitíssimo dolorosa e vergonhosa na cruz – Deus o exaltou sobremaneira. Deus exalta todo aquele que se humilha. Este é um principio divino.

Estar Cheio de Cristo é Estar Cheio de Obediência

Uma vez que o Senhor deu inicio à obediência, o Pai tornou-se o Cabeça de Cristo. Portanto, uma vez que a autoridade e a obediência foram instituídas por Deus, é natural que aqueles que conhecem Deus e Cristo obedeçam. Mas aqueles que não conhecem Deus nem Cristo, não conhecem a autoridade e a obediência. Cristo é o principio da obediência. Portanto, uma pessoa que está cheia de Cristo deve ser uma pessoa que também está cheia de obediência.

Hoje em dia, as pessoas costumam perguntar: “Porque que eu tenho que obedecer? Considerando que ambos somos irmãos, por que tenho de obedecer a você?” Mas os homens não tem qualificações para fazer tais perguntas. Só o Senhor tem esta qualificação; contudo Ele jamais anunciou tais palavras nem um tal pensamento jamais penetrou em Sua mente. Cristo representa obediência, que é tão perfeita quanto a autoridade de Deus. Que Deus seja misericordioso com aqueles que proclamam conhecer a autoridade quando obediência falta em suas vidas.

O Caminho do Senhor

No que se refere à Divindade, o Filho e o Pai são co-iguais; mas sendo Ele o Senhor, foi recompensado por Deus. O Senhor Jesus Cristo foi feito Senhor só depois que Se esvaziou. Sua divindade deriva do que Ele é, por ser Deus em sua natureza inerente. Ser Senhor, entretanto, é um resultado do que fez. Foi exaltado e recompensado por Deus para ser Senhor só depois que abandonou Sua glória e manteve-se no papel perfeito de obediência. No que se refere a Ele, é Deus; no que se refere a recompensa, é o Senhor. Seu Senhorio não existia originalmente na Divindade. A passagem de Filipenses 2 é dificílima de explicar; pois é muitíssimo controvertida além de ser muitíssimo santa. Vamos descalçar nosso pés e pisar terreno santo recapitulando esta passagem bíblica. Parece que no principio houve um conselho na Divindade. Deus idealizou um plano para a criação do Universo.

Nesse plano, a Divindade concordou que a autoridade fosse representada pelo Pai. Mas a autoridade não pode ser estabelecida no Universo sem a obediência, pois ao pode existir sozinha. Portanto, Deus tem de encontrar a obediência no Universo. Seriam criados dois tipos de seres vivos: os anjos (espíritos) e os homens (almas viventes). De acordo com Sua onisciência, Deus previu a rebelião dos anjos e a queda do homens, por isso não lhe foi possível estabelecer Sua autoridade nos anjos ou na raça adâmica. Consequentemente, dentro do acordo perfeito da Divindade, essa autoridade seria atendida pela obediência no Filho. A partir daí começaram as operações distintas de Deus Pai e Deus Filho. Um dia Deus Filho se esvaziou e, tendo nascido em semelhança de homem, tornou-se símbolo da obediência. Considerando que a rebeldia surgiu nos seres criados, a obediência teria agora de ser estabelecida num ser criado. O homem pecou e se rebelou; por isso a autoridade de Deus tem de ser estabelecida na obediência do homem. Isto explica por que o Senhor veio ao mundo e foi feito igual ao homem criado.

O nascimento de nosso Senhor é na realidade o aparecimento de Deus. Em lugar de permanecer como Deus com autoridade, colocou-se ao lado do homem, aceitando todas as limitações do homem e assumindo a forma de escravo. Ele enfrentou o possível perigo de não ser capaz de retornar com glória. Se desobedecesse na terra como homem, ainda poderia reclamar o Seu lugar na Divindade usando de Sua autoridade original; mas, nesse caso, teria para sempre quebrado o principio de obediência.

Havia duas formas de o Senhor retornar: uma era obedecendo absolutamente e sem reservas como homem, estabelecendo a autoridade de Deus em todas as coisas, em todas as ocasiões, sem o menor toque de rebeldia; assim, passo a passo, através da obediência a Deus, tornar-se-ia o Senhor de tudo. A outra seria forçando o Seu caminho de volta, reclamando e usando a autoridade, o poder e a gloria de Sua divindade, se considerasse a obediência impossível através da fraqueza e limitações da carne humana.

Mas o Senhor ignorou o segundo caminho e trilhou humildemente o caminho da obediência – até a morte. Tendo-se esvaziado, recusou voltar atrás. Ele jamais tomaria um caminho assim ambíguo. Se o Senhor falhasse no caminho da obediência, depois de renunciar Sua gloria e da obediência, depois de renunciar Sua gloria e autoridade divinas, assumindo a forma de escravo, jamais teria novamente retornado com glória. Só através da obediência como homem é que ele retornou. Assim Ele retornou com base na obediência perfeita e singular. Embora sacrifício fosse acrescentado a sacrifício, Ele demonstrou obediência absoluta, sem o menor toque de resistência ou rebeldia.

Consequentemente, Deus o exaltou grandemente e o Fez Senhor quando retornou à glória. Não foi Jesus que se encheu com aquilo de que uma vez se esvaziara; antes, foi Deus Pai. Foi o Pai que trouxe este Homem de volta à glória. E, assim, Deus Filho também é agora Jesus Homem em Seu retorno à glória. Por causa disto, o nome de Jesus é preciosíssimo; não há ninguém no Universo igual a Ele. Quando na cruz exclamou “Tudo está consumado!”, proclamou não somente a consumação da salvação mas também o cumprimento de tudo o que Seu nome significa. Portanto, Ele obteve um nome que está acima de todo nome, e diante do Seu nome todo joelho deverá se dobrar e toda língua deverá confessar que Jesus é Senhor. Doravante, Ele é o Senhor bem como Deus. Ser o Senhor fala do Seu relacionamento com Deus, de como foi recompensado por Deus. Ser Cristo revela o Seu relacionamento com a igreja.

Resumindo, então: quando o Filho deixou a glória não pretendia retornar com base nos Seus atributos divinos; pelo contrário, desejou ser exaltado como homem. Desta maneira, Deus confirmou Seu principio de obediência. Como é imprescindível que sejamos totalmente obedientes sem o mais leve traço de rebeldia! O Filho retornou ao céu como homem; foi exaltado por Deus depois que obedeceu na semelhança de homem. Vamos encarar este grande mistério da Bíblia. Quando se despediu da glória e se revestiu da carne humana, o Senhor determinou não regressar por virtude de Seus atributos divinos. E tendo jamais dado o menor sinal de desobediência, foi exaltado por Deus com base em Sua humanidade. O Senhor abandonou a Sua gloria quando veio; mas quando retornou, não só recebeu de volta essa mesma gloria, mas recebeu ainda glória muito maior.

Que nós também tenhamos esta mente que havia em Cristo Jesus. Vamos todos trilhar o caminho do Senhor e nos apegar à obediência tornando muito nosso este principio da obediência. Sujeitemo-nos uns aos outros. Tendo uma vez entendido este principio não teremos dificuldade em discernir que nenhum pecado é mais sério do que a rebeldia e na é mais importante que do que a obediência. Só no principio da obediência podemos servir a Deus; só obedecendo como Cristo obedeceu podemos reafirmar o principio divino da autoridade, pois a rebeldia é a operação do principio de Satanás.

Aprendendo a Obediência Através do Sofrimento

Em Hebreus 5.8 somos informados que Cristo “aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu”. O sofrimento exigiu obediência do Senhor. Por favor, observe que Ele não trouxe obediência a esta terra; Ele a aprendeu – e o fez através do sofrimento.

Quando encontramos o sofrimento, aprendemos a obediência. Tal obediência é verdadeira. Nossa utilidade não fica determinada através do nosso sofrimento, mas pelo tanto de obediência que aprendemos por meio desse sofrimento. Sós os obedientes são úteis para Deus. Enquanto o nosso coração não for amolecido, o sofrimento não nos abandonará. Nosso caminho passa por muitos sofrimentos; os que amam os prazeres e as coisas fáceis são inúteis para Deus. Vamos, portanto, aprender a obedecer no sofrimento.

A salvação torna as pessoas obedientes e também alegres. Se nós só buscamos a alegria, nossas propriedades espirituais não serão abundantes; mas aqueles que são obedientes experimentarão a abundância da salvação. Não vamos transformar a natureza da salvação. Vamos obedecer – pois nosso Senhor Jesus, tendo sido aperfeiçoado pela obediência, tornou-se a fonte de nossa salvação eterna. Deus nos salva para que possamos obedecer à Sua vontade. Se travamos conhecimento com a autoridade de Deus, descobrimos que a obediência é fácil e que a vontade de Deus é simples, porque o próprio Senhor sempre foi obediente e nos transmitiu esta vida de obediência.

Watchman Nee – Extraído do livro “Autoridade Espiritual”.

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