A Mulher – Seu Lugar nas Escrituras
Nossos dias são de muita inquietação. O Movimento Sufragista Feminino obteve sua grande vitória – o voto das mulheres – há alguns anos e desde então as coisas têm avançado a passos gigantescos. Até mesmo uma instituição tão conservadora quanto a igreja oficial (o autor se refere à Igreja Anglicana, na Inglaterra) está se preparando para dar às mulheres um lugar em seu ministério.
Do ponto de vista político, essa questão não deveria preocupar o cristão. Sua “política” é celestial, pois “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Somos, contudo, naturalmente afetados pelo que nos rodeia. A anarquia no mundo tende a induzir à anarquia na igreja. Sendo assim, parece que o momento é propício para um exame deste assunto tão importante – A mulher: seu lugar nas Escrituras.
Primeiramente, o assunto parece dividir-se em duas partes:
- A mulher: seu lugar na natureza;
- A mulher: seu lugar na graça.
Torna-se, contudo, impossível separar inteiramente as duas. O lugar da mulher na natureza é uma figura do seu lugar na graça, ou melhor dizendo, do seu relacionamento de mulher cristã para com Deus. Isto se destaca através da própria maneira pela qual a mulher foi criada. Foi uma maneira especial – em extremo contraste com qualquer outro ser. E foi também de uma maneira simbólica e ilustrativa. Adão mergulhou num profundo sono – figura da morte de Cristo. Uma costela foi retirada de seu lado, e dela foi feita uma mulher que lhe foi apresentada como ajudadora. É uma figura da igreja – o resultado da morte de Cristo – que Lhe será apresentada como noiva.
A expressão “Ou não vos ensina a mesma natureza” encontrada em 1 Coríntios 11.14 tem uma aplicação bastante ampla. Deus, em Sua sabedoria, colocou grandes diferenças na constituição física, mental e emocional do homem e da mulher. De uma maneira muito evidente Ele os criou para serem distintos, ainda que se complementando. A estatura, força e capacidade de raciocinar, que no homem são mais destacadas, contrastam de uma maneira afortunada com a graça, gentileza e agilidade mental naturais à mulher.
O fato de que a mulher “provém do varão” demonstra a sua igualdade. Ela não é inferior, mas igual, ajudadora. Entre homem e mulher há semelhança, identidade; entre o homem e a mulher há igualdade, mas com distinção. E é por isso que o fato de que a mulher “provém do varão” também proclama a supremacia que Deus concedeu ao homem, além do privilégio que ela tem de conceder ao homem o lugar que Deus lhe deu.
Homem e mulher são iguais moralmente, mas o homem é a cabeça posicionalmente. As Escrituras declaram explicitamente: “Porque o varão não provém da mulher, mas a mulher do varão. Porque também o varão não foi criado por causa da mulher, mas a mulher por causa do varão… Todavia, nem o varão é sem a mulher, nem a mulher sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus” (1 Cor 11.8-9, 11-12). Que apresentação primorosamente comedida e equilibrada da verdade!
Tudo isto tem a intenção de ilustrar o relacionamento entre Cristo e a igreja. Em Efésios 5, o relacionamento entre marido e mulher foi desvendado. Deve a mulher se submeter ao marido? Sim, com base na declaração de que “o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja” (Ef 5.23). Da mesma forma, os maridos devem amar suas esposas “como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Deve o homem abandonar seu pai e sua mãe para se juntar à sua mulher como uma só carne? Quanto a isto somos lembrados: “Grande é este mistério: digo-o, porém a respeito de Cristo e da igreja” (Ef 5.32).
O leitor verá que desde o princípio o lugar da mulher na natureza é uma figura do seu lugar na graça; e constatar ainda, conforme avançarmos, que é uma figura do relacionamento da igreja com Cristo. Que coisa maravilhosa!
EVA
Foi-nos dito: “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão, não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2.13-14). Temos aqui a primeira e mais poderosa advertência contra a mulher assumir a liderança. Um farol poderoso bem no começo da viagem do homem através do oceano do tempo.
Ao invés de repelir o avanço da serpente, buscando a ajuda e a proteção da cabeça que Deus lhe dera, a mulher agiu com independência. Não há necessidade de explorar a seriedade do ato, nem a indizível tristeza dos seus resultados.
SARA
Depois de Eva, a primeira mulher na Bíblia a receber mais do que apenas uma observação passageira foi Sara. Evidentemente ela era uma mulher de personalidade vigorosa. Ela não era um mero objeto, sem capacidade de raciocínio ou vontade própria. Pelo contrário, podemos deduzir que ela foi uma mulher hábil e decidida. Mas ela permanece como o exemplo das “santas mulheres que esperavam em Deus, e estavam sujeitas aos seus próprios maridos”, pois lemos “como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor; da qual vós sois filhas, fazendo o bem” (1 Pe 3.5-6). Isto demonstra claramente a posição da mulher em relação ao homem, e a prática seguida pelas piedosas mulheres da antiguidade.
DÉBORA
Débora ocupa um lugar de destaque nas Escrituras. Foi uma profetisa – também era mulher casada e juíza em Israel. Ela foi uma exceção à regra, mas a exceção comprova a regra. As Escrituras não falam contra o lugar que ela ocupou, mas também não o aprovam. Contudo é suficiente o que foi dito pela própria Débora para vermos o que ela pensava sobre o assunto – condenou, pelo menos, a negligência dos homens, para não dizermos mais (Jz 4.4-10).
Ela convocou Baraque para que atacasse Sísera. No papel de profetisa, disse-lhe que o Senhor entregaria o inimigo em suas mãos. Mas Baraque, em sua covardia, não quis ir, a não ser que Débora o acompanhasse. Ela prontamente concordou com seu pedido, mas o informou que daquela missão ele não teria nenhuma honra – Sísera seria apanhado pela mão de uma mulher. Certamente a observação de Débora implicava que, se era motivo de vergonha para Baraque que uma mulher matasse Sísera, não era menos vergonhoso que uma mulher fosse obrigada, pela covardia dos homens, a julgar Israel.
MULHERES DO NOVO TESTAMENTO
Quando nos aproximamos do Novo Testamento, descobrimos a posição das mulheres piedosas, honradas e belas no mais alto grau. A virgem Maria – “agraciada” – “bendita entre as mulheres”; sua prima Isabel, mãe de João Batista; e Ana, idosa viúva de oitenta e quatro anos, dedicada ao serviço de Deus, são as mais belas personagens conectadas ao nascimento de Cristo.
Maria, a irmã de Lázaro, assentava-se aos pés do Senhor para ouvir a Sua palavra. Foi ela quem O ungiu para o Seu sepultamento, uma ação que jamais perderá a sua fragrância – “onde quer que este Evangelho for pregado, em todo o mundo, também será referido o que ela fez para memória sua” (Mt 26.13). Ela recebeu um elogio que não poderia ser mais elevado: “Esta fez o que podia” (Mc 14.8). A Maria Madalena foi concedida a alta honra de transmitir a maravilhosa mensagem da ressurreição de Cristo aos Seus discípulos: “Dize-lhes que eu subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus” (Jo 20.17). Pensem nas mulheres que serviam o bendito Senhor Jesus (Lc 8.3). Que honra!
E quando chegamos ao tempo quando Cristo já havia subido aos céus e o Espírito Santo já havia sido enviado, somos lembrados das “mulheres gregas da classe nobre” (At 17.12) que creram e do elogio que Paulo fez às mulheres que trabalharam no Senhor (Rm 16). Ou Priscila, que sob a liderança de seu marido, teve o privilégio de instruir o eloquente Apolo, declarando-lhe “mais pontualmente o caminho de Deus” (At 18.26). Que belo e honrado caminho foi esse trilhado pelas mulheres cristãs!
O LUGAR DA MULHER NO MINISTÉRIO
Seu lugar enfaticamente não é o do testemunho público. Temos sessenta e seis livros na Bíblia e todos os seus autores foram homens. Não há uma mulher entre os autores. Foram diretamente escolhidos por Deus. Houve doze apóstolos, e foram todos homens. Nenhuma mulher foi escolhida para apóstolo. Foram setenta os enviados pelo Senhor, além dos apóstolos. Não fomos informados de que tenha havido alguma mulher entre eles. A suposição de que todos eram homens é tão forte, em associação com os ensinamentos gerais das Escrituras a este respeito, que resulta em prova positiva. Houve “sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria”, escolhidos em Atos 6 para “servir às mesas”. Nenhuma mulher foi escolhida.
Houve muitas testemunhas citadas em 1 Coríntios 15 para provar a ressurreição do Senhor. Homens foram mencionados como testemunhas, mas não se citou nenhuma mulher. Isto torna-se extraordinariamente significativo em razão de Maria ter sido a primeira pessoa que viu o Cristo ressuscitado, e recebeu a incumbência de transmitir a maravilhosa mensagem aos discípulos. Sua exclusão da lista das testemunhas é a prova mais forte possível de que as Escrituras não concedem à mulher um lugar de testemunho público.
Houve bispos escolhidos na igreja primitiva; foram todos homens. Nenhuma mulher estava entre eles. Diáconos e anciãos também foram escolhidos na igreja primitiva, conforme descrito em 1 Timóteo e Tito. Foram todos homens. Temos duas testemunhas em Apocalipse 11. São profetas – não profetisas ou um profeta e uma profetisa, mas profetas – homens.
A MULHER FORA DO SEU LUGAR
Quando as mulheres saem do seu lugar, parece que se transformam em presas especiais do diabo. Na parábola foi uma mulher quem introduziu o fermento nas três medidas da massa – tipo da introdução de princípios corruptos, que permearam a fé cristã (Mt 13.33; 16.12). Foi uma mulher – Eva – que “sendo enganada, caiu em transgressão” (1 Tm 2.14).
Há “mulheres néscias carregadas de pecados, levadas de várias concupiscências” (2 Tm 3.6) que são cativadas por homens perversos nestes perigosos últimos tempos. É uma mulher – Jezabel – que permanece como exemplo histórico no Antigo Testamento de tudo o que é repugnante e perverso; que permanece figurativamente no Apocalipse como exemplo da corrupção eclesiástica e depravação religiosa da pior espécie (Ap 2.20).
Hoje em dia, a grande maioria dos médiuns espíritas são mulheres; o espiritismo moderno começou com mulheres – as irmãs Fox nos Estados Unidos. Foi uma mulher histérica – a Sra. White – que através de suas blasfemas pretensões tornou-se a líder e principal inventora desse sistema maligno chamado Adventismo do Sétimo Dia. A Ciência Cristã – que não é cristã nem ciência – deve sua origem à uma mulher, a Sra. Eddy. A teosofia, assim conhecida no hemisfério ocidental, foi popularizada por uma mulher – Madame Blavatsky – e sua obra foi continuada por outra mulher, a Sra. Beasant.
INSTRUÇÕES BÍBLICAS DECISIVAS
Lemos em 1 Coríntios 14.34,35: “As mulheres estejam caladas nas igrejas; porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na igreja”. Está bem claro que a mulher participar publicamente na igreja é um desafio às Escrituras.
Mas dizem que a palavra “falar” significa “tagarelar”. Dizem-nos que os homens sentavam-se de um lado e as mulheres de outro nas assembleias cristãs como era o costume nas sinagogas judias daquele tempo. Dizem-nos que as mulheres causavam escândalo nos cultos públicos “tagarelando”. Mas a palavra “falar” não significa tagarelar – significa mesmo falar e é a mesma palavra usada na Bíblia quando se faz referência a Deus falando.
Outros insistem que isto só se aplica às mulheres casadas. Mas parece absurdo demais supor que uma mulher poderia falar um dia antes de seu casamento, para não poder fazê-lo um dia depois. O fato é que as Escrituras consideram as mulheres de forma generalizada como estando casadas, daí terem de interrogar a seus maridos em casa (1 Cor 14.35). Naturalmente uma mulher solteira poderia apropriadamente interrogar algum irmão casado e ficar bem dentro do espírito das instruções divinas.Mais uma vez as Escrituras declaram que “se alguém cuida ser profeta, ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são MANDAMENTOS DO SENHOR” (1 Cor 14.37). Além disso, a passagem em 1 Timóteo 2.8 é bastante clara: “Quero pois que os homens orem em todo o lugar, levantando mãos santas, sem ira nem contenda”. Aqui a palavra significa exatamente “homens” em contraposição a “mulheres”. No versículo seguinte o apóstolo fala de mulheres, em contraposição a homens, exortando-as à modéstia e simplicidade nas roupas e ornamentos. E então o apóstolo acrescenta: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido (ou “sobre o homem” conforme algumas versões), mas que esteja em silêncio” (1 Tm 2.11-12).
Isto leva a questão para além de 1 Coríntios 14, onde o que se tem em vista é a conduta na assembleia. 1 Timóteo 2.11,12 trata da conduta entre homem e mulher, e poderia incluir qualquer testemunho público, onde ambos os sexos estivessem presentes.
Dois motivos são apresentados:
- “Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva” (13). Evidentemente é o motivo mais forte, conforme a ordem da criação; a ilustração também se refere a Cristo e à igreja.
- “E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão” (14). Aqui podem ser vistas as consequências governamentais como resultado da primeira mulher não ter se sujeitado à ordem divina.
O DIVINO TIPO É ARRUINADO
Além do que já vimos, quando a mulher saiu do seu lugar, arruinou o tipo do homem e da mulher ilustrando Cristo e a igreja. Lemos: “Mas quero que saibais que Cristo é a cabeça de todo varão, e o varão a cabeça da mulher; e Deus a cabeça de Cristo” (1 Cor 11.3).
Mas o leitor poderá argumentar que as Escrituras falam de mulheres orando e profetizando (1 Cor 11.5); que as filhas de Filipe profetizaram (At 21.8-9), embora jamais tenha sido mencionado que profetizassem diante de Paulo, conforme muitos declaram; e que as mulheres trabalharam com Paulo no Evangelho. E o leitor poderá ainda perguntar se isto não prova seus direitos de ministrar publicamente.
Tudo isso mostra haver lugar para um serviço muito propício e abençoado. Quão bom seria se houvesse mais desse tipo de serviço! Mas claramente não inclui o ministério na assembleia, ou o testemunho público diante de uma audiência mista de homens e mulheres. Se o fizesse, as Escrituras estariam em contradição. Se o Espírito Santo levasse mulheres a praticar tal coisa, Ele as levaria a violar as Escrituras dadas pelo mesmo Espírito Santo, o que seria inimaginável.
Alguém poderá dizer que mulheres evangelistas já foram usadas por Deus. Sim, é verdade, mas não constitui prova de que estivessem certas, e com toda certeza teriam sido ainda mais usadas se o seu serviço fosse mantido dentro dos limites permitidos. “Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros” (1 Sm 15.22).
Há um campo amplo para o ministério das mulheres, entre as mulheres e crianças, reuniões de mães, trabalho com crianças na Escola Dominical, etc., além de poderem ajudar os servos do Senhor de modo semelhante ao das mulheres que trabalharam com Paulo. O conforto e o estímulo que uma mulher cristã ativa e piedosa – movida pelo amor a Cristo e às almas e ainda assim governada pelas Escrituras – pode prestar é incalculável. Quando encontramos tais mulheres, respeitamo-las profundamente.Maria ungiu o Senhor para o Seu sepultamento. Marta serviu ao Senhor muito bem. Febe foi uma servidora da igreja e socorreu a muitos. Lídia hospedou o apóstolo Paulo em sua casa. Priscila, sujeita à supremacia e liderança do seu marido, ajudou Apolo a entender melhor os planos de Deus. As mulheres trabalharam com Paulo na pregação do Evangelho. Que pudéssemos encontrar as descendentes dessas piedosas mulheres em cada cidade ou vila do mundo! Que serviço apropriado e abençoado! Não há razão para as mulheres se lamentarem das restrições divinas para o seu serviço. Há mais trabalho para elas do que jamais poderiam assumir.
Que as mulheres cristãs partam de seu estudo das Escrituras determinadas, pela graça de Deus, a obedecer às suas instruções quanto ao seu relacionamento com o homem. Que possam estar prontas a ilustrar, por seu comportamento, a maravilhosa verdade referente a Cristo e à igreja; a ser um testemunho individual de protesto contra o espírito de anarquia deste século; a se gloriar pelo lugar maravilhoso e único que lhes foi dado. Então Deus será glorificado. Então sua verdadeira utilidade estará plenamente à disposição. Então os homens cristãos as respeitarão profundamente, sendo ajudados e influenciados por elas, e descobrirão o que significa verdadeiramente a maravilhosa palavra – AJUDADORA – a qual só pertence às mulheres.
O espírito de obediência é o grande segredo de toda a devoção. A fonte de todo o mal, desde o princípio, tem sido a vontade independente. Obediência é a única condição adequada à criatura, caso contrário Deus deixaria de ser Supremo – deixaria de ser Deus. Onde quer que haja insubordinação haverá também o pecado. Se esta regra for lembrada, seremos maravilhosamente ajudados por ela em guiar nossa conduta.
Algernon James Pollock (1864 – 1957)