A Morte, o Estado Intermediário, a Ressurreição e o Destino Final

O QUE A BÍBLIA ENSINA SOBRE A VIDA APÓS A MORTE

O assunto da vida após a morte invariavelmente levanta muitas questões e muito interesse sempre que surge tal tópico em conversas. Embora talvez nunca tenhamos nossas questões satisfatoriamente respondidas enquanto estivermos aqui neste mundo, somos gratos que o Evangelho “trouxe à luz” muitas coisas concernentes à “vida (para a alma) e à incorruptibilidade [ou imortalidade]” (para o corpo) segundo lemos em 2 Timóteo 1.10.

A Bíblia não foi escrita para meramente satisfazer a curiosidade humana, mas para nos ocupar com o Senhor Jesus Cristo que é o único capaz de encher nossos corações e nossas mentes. Deus, todavia, tem se agradado em nos revelar muitas coisas em sua Palavra, concernentes ao futuro de nossas almas de modo que possamos ter uma “completa certeza da esperança” (Hb 6.11). “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Cor 15.19). Felizmente, temos esperança no próximo mundo também.

Os comentários que se seguem são alguns fatos que sabemos sobre a morte, o estado intermediário, a ressurreição e o destino final dos seres humanos.

A MORTE

O homem é um ser trino, isto é, ele é feito de três partes. A Bíblia diz, “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Seu espírito é a parte inteligente que tem a consciência de Deus (Jó 32.8; Is 29.24). Sua alma é o lugar de suas emoções, apetites e desejos (Gn 27.4; Ct 1.7). E seu corpo é, logicamente, a parte física do seu ser.

Morte física ocorre no ser humano quando a alma e o espírito se separam do corpo. Tiago diz, “o corpo sem o espírito está morto” (Tg 2.26). As Escrituras definem isto como “…deixar o corpo” (2 Cor 5.8). Veja também Gênesis 35.18 e 49.33; Jó 14.10; Eclesiastes 12.7; Lucas 23.46 e Atos 7.59.

A palavra “Morte” é usada nas Escrituras pelo menos em sete diferentes modos. Em cada caso tem o sentido de separação.

  • Morte física é ter a alma e o espírito separados do corpo (Tg 2.26).
  • Morte espiritual é estar espiritualmente separado de Deus por não ter a nova vida (Ef 2.1; Cl 2.13).
  • Segunda morte é estar eternamente separado de Deus no lago de fogo (Ap 20.6, 14).
  • Morte apóstata é estar separado de Deus por abandonar sua profissão de fé (Jd 12; Ap 8.9).
  • Morte nacional é não mais existir como uma nação na terra (Is 26.19; Ez 37; Dn 12.2).
  • Morte judicial é estar posicionalmente separado de toda ordem de pecado sob a liderança de Adão pela morte de Cristo (Rm 6.2; 7.6; Cl 3.3).
  • Morte moral é estar separado em comunhão com Deus (Rm 8.13; 1 Tm 5.6).

É prudente pensar que o pecado é a causa de cada um destes aspectos da morte! Na verdade, “o salário do pecado é a morte” (Rm 5.12; 6.23).

A Bíblia nos diz que há só dois estados no qual uma pessoa morre (fisicamente). Há os que “morrem no Senhor” (Ap 14.13) e aqueles de quem se diz “morrereis em vossos pecados” (Jo 8.24). Morrer nos seus pecados é ter partido deste mundo sem ter tido seus pecados colocados de lado diante de Deus judicialmente pela obra de Cristo na cruz. A pessoa que morre nesta terrível condição será responsável em pagar o preço de seus pecados sob o justo juízo de Deus por toda a eternidade. Morrer no Senhor é morrer sendo salvo e seguro de todo julgamento sob a proteção do sangue de Cristo, o Filho de Deus (Jo 5.24; 1 Jo 1.7).

A morte do crente é “preciosa aos olhos do SENHOR” (Sl 116.15), enquanto a morte de um incrédulo é algo que Deus não tem prazer nela, pois Ele disse, “Vivo eu, diz o Senhor Jeová, que não tenho prazer na morte do ímpio” (Ez 33.11). Deus não está “querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pe 3.9).

A morte, entretanto, não significa extinção, pois todos os mortos “para Ele vivem” (Lc 20.38). Os homens gostam de pensar que a morte é fim da existência de modo que possam escapar das consequências de seus pecados, mas as Escrituras falam que “aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27). O corpo é mortal, sujeito à morte como vemos em Romanos 6.12, 8.11; 1 Coríntios 15.53-54; 2 Coríntios 4.11, mas a alma e o espírito são imortais. E assim como a Bíblia nos diz que há somente dois modos de viver: “para si” ou “para Ele” (2 Cor 5.15), também nos diz que há somente dois modos de morrer: “no Senhor” (Ap 14.13) ou “em nossos pecados” (Jo 8.24). Morrer “no Senhor” é morrer estando salvo e seguro de todo juízo sob a proteção da obra consumada de Cristo e assim gozar de eterna bênção com Ele para sempre. Morrer “em nossos pecados” é sair deste mundo eternamente condenado pelo juízo. A morte do crente é preciosa à vista do Senhor (Sl 116.15), enquanto que a morte de um incrédulo é algo que o Senhor não tem prazer (Ez 33.11), pois Ele não quer que nenhum pereça (2 Pe 3.9).

RAZÕES PARA A MORTE DO CRENTE

A morte de um crente é chamada de “dormir” nas Escrituras e se refere ao corpo por que a alma não dorme (2 Sm 7.12; Jo 11.11; At 7.60, 13.36; 1 Cor 11.30, 15.6, 18, 20, 51; 1 Ts 4.14, 5.10). Mateus 27.52 diz claramente, “e muitos corpos de santos que dormiam foram ressuscitados”.

Há pelo menos três principais razões para a morte do crente:

  • Primeiro, ela pode ser “para a glória de Deus” (Jo 11.4, 21.18-19; Fp 1.20). Ele pode ser chamado à morte como um mártir ou por outra causa de modo que um testemunho do Senhor seja dado àqueles que a testemunham.
  • Segundo, o crente morre por causa de seu trabalho de servir ao Senhor na terra já estar completo (At 13.36; 2 Tm 4.7; 2 Pe 1.14).
  • Terceiro, o crente pode morrer sob a mão corretora de Deus. É possível para um cristão se comportar tão pobremente neste mundo como testemunho para o Senhor que Deus poderá tirá-lo de seu lugar de testemunho na terra. Seria chamado para casa no céu (Jo 15.2; At 5.1-11; 1 Cor 11.30; Tg 5.20; 1 Jo 5.16).

A VITÓRIA DE CRISTO SOBRE A MORTE

Cristo passou pela morte e conquistou a grande vitória sobre ela para os filhos de Deus. Hebreus 2.14-15 diz, “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; e livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão”.

O ESTADO INTERMEDIÁRIO

Seol e Hades. Seol (em hebraico do antigo testamento) e Hades (em grego do novo testamento) são uma e a mesma coisa. Enquanto a morte é a condição do corpo sem a alma e o espírito, Seol ou Hades [1] é a condição da alma e do espírito sem o corpo. A morte demanda o corpo, Hades pede pela alma e espírito. Hades é uma condição ao invés de um lugar de almas e espíritos que partiram e simplesmente significa “o mundo do invisível”.

É uma condição temporária de pessoas que deixaram o corpo num intervalo entre a morte e a ressurreição. É também chamada de estado de separação (ou intermediário) uma vez que a morte separou a alma e o espírito do corpo. Seol ou Hades são expressões vagas usadas em geral para descrever os espíritos que partiram, sejam eles justos ou injustos, salvos ou perdidos. Assim é aplicado para ambos [2], o Senhor Jesus Cristo (At 2.27, 31, 13.35) e os santos (1 Cor 15.55), tanto quanto para os perdidos (Lc 16.23, etc…). Pessoas neste estado fora do corpo são totalmente conscientes tendo memórias e emoções, etc. (Lc 16.23-25), mas não têm conhecimento das coisas que estão acontecendo no presente neste mundo, uma vez que estão em outro (Jó 14.21; Ec 9.5; Is 63.16; 1 Sm 28.15-19 – quando trazido para cima, Samuel teve de ser informado da condição presente de Israel). O fato de que “os mortos não sabem coisa nenhuma” (Ec 9.5) não significa que eles não têm consciência ou que não existam. O contexto de Eclesiastes diz respeito às coisas “debaixo do sol” (Ec 1.3, etc…), ou seja, neste mundo. Você não sabe o que está acontecendo exatamente agora no palácio de Buckingham, porque você não está lá, mas isto não significa que você está inconsciente. Você simplesmente não está lá para saber.

Na versão inglesa Autorizada de King James, a palavra Hades é, infelizmente, traduzida como “inferno” [3]. Isto pode confundir algumas pessoas, pois inferno, é o lugar final e eterno do condenado e é distintamente diferente do Hades, o estado temporário daquele que partiu. Os seguintes versículos no NT (versão de João Ferreira de Almeida), onde está “inferno” deveria ser “Hades”: Mateus 11.23, 16.18; 1 Coríntios 15.55; Apocalipse 1.18, 20.13-14.

Desde a vinda de Cristo temos agora o privilégio de saber mais a respeito da condição de “fora do corpo” (Hades). Há uma divisão no Hades entre os justos e os injustos e um grande abismo está colocado entre eles de modo que ninguém pode passar de um para outro (Lc 16.26). Sabemos agora que os justos no Hades estão no paraíso e os injustos estão em prisão. Uma ilustração foi usada por A. C. Hayhoe no passado e ajuda a entender esta divisão. O salão de reuniões onde ele vivia foi construído de tal modo que ao entrar você imediatamente estava diante de um patamar onde de um lado havia escadas que levavam para o andar superior e, do outro lado, escadas que levavam para o porão. Caso você visse alguém, andando na rua, entrar nesse prédio e desaparecer porta adentro (o que ele estava comparando com a morte), não veria exatamente, como um observador externo, se ele se dirigia ao andar superior ou ao porão. O mesmo ocorre quando alguém passa pela morte. O corpo vai para a sepultura e a alma e espírito vão para o Hades: para o paraíso ou prisão.

Paraíso – Os justos no Hades estão no paraíso com Cristo (Lc 23.43; 2 Cor 12.1-4; Ap 2.7). Paraíso significa “o jardim das delícias” e descreve o estado dos justos repousando em bênção consciente. O apóstolo Paulo compara isto com o terceiro céu (2 Cor 12.1-4; Mt 18.10). Ele também se refere ao crente nesta condição como estando “despido” (2 Cor 5.4) o que é “muito melhor” que estar vivo neste corpo neste mundo (Fp 1.23). Os Judeus criam que Abraão, o patriarca deles, estava no mais alto lugar de felicidade. Assim quando o Senhor falou de Lázaro estando no “seio de Abraão” eles puderam entender claramente que Ele se referia ao seu estado de bênção (Lc 16.22).

Agora que podemos falar mais especificamente do estado desencarnado do justo estando no paraíso, Hades, o termo mais vago e geral quase desaparece quando aplicado ao crente que partiu. É usado só uma vez nas epístolas com respeito aos santos (1 Cor 15.55). Para ilustrar isto poderíamos falar de uma pessoa que conhecemos que tenha ido para a Inglaterra, mas após saber de seu particular paradeiro, diríamos que ela (a pessoa) se encontra em Londres, morando com a família real. Tal é o caso com o crente que partiu deste mundo através da morte. Ele não está simplesmente no Hades, mas “com Cristo” no paraíso (Lc 23.43; Fp 1.23).

Prisão – Os injustos no Hades estão em uma prisão (Is 24.21-22 “os reis da terra”; 1 Pe 3.19-20). É um estado temporário onde as almas e espíritos dos pecadores que partiram estão confinadas esperando pela sentença final no grande trono branco (Ap 20.11-15). Enquanto neste confinamento eles estão sofrendo tormentos (Lc 16.23-24; Is 57.20-21). Embora esta prisão dos espíritos que partiram seja somente um estado temporário, os que entram nela têm seu destino irrevogável e eternamente selado.

Alguns ficam perplexos quanto ao que significa Cristo pregando “aos espíritos (homens) em prisão” (1 Pe 3.18-20) e supõem que Ele deve ter ido, após sua morte, com a missão de dar aos perdidos uma última chance de escaparem. Esta suposição é, certamente, um erro. O fato de que foi pregado aos espíritos em prisão é inegável, mas foi quando eles eram homens sobre a terra que Cristo lhes pregou pelo Espírito através de Noé (Gn 6.3; 1 Pe 1.11, 3.18-19). Eles rejeitaram a pregação e consequentemente estão agora em prisão. O fato de que lhes foi pregado mostra assim que não estão neste lugar de prisão injustamente, mas a pregação teve lugar quando eles estavam na terra e não após Cristo ter morrido.

O Abismo – O abismo (Lc 8.31; Ap 9.1-2, 11, 11.7, 17.8, 20.1-3) é o lugar temporário de confinamento para os espíritos angélicos maus. Os anjos maus serão lançados no abismo quando o reino de Cristo se estabelecer na terra (Is 24.21-22). Alguns anjos maus já estão lá (2 Pe 2.4; Jd 6). Eles permanecerão lá até o grande dia de julgamento no fim do Milênio (os mil anos de reinado de Cristo) que neste tempo serão lançados no lago de fogo (2 Pe 2.4; Jd 6; Mt 35.41). Satanás também será preso no abismo durante o Milênio (Ap 20.1-3) após o qual ele será lançado no lago de fogo (Mt 25.41). “Tartarus” (2 Pe 2.4 “no mais profundo da escuridão” como traduzido na versão de J. N. Darby) aparentemente é um lugar especial de confinamento solitário no abismo no qual alguns dos anjos caídos estão sendo temporariamente mantidos devido à malignidade pessoal deles (Jd 6). Anjos não são sujeitos à morte e nem participam da ressurreição (Lc 20.35-36).

RESSURREIÇÃO

Assim como a morte (física) é a separação da alma e espírito do corpo (Tg 2.26), a ressurreição é a reunião da alma e espírito com o corpo (Lc 8.55). O túmulo é a custódia temporária do corpo, Hades é a custódia temporária da alma e espírito. Todos que morrem, sejam justos ou injustos, irão experimentar a ressurreição. Mas não serão todos ressuscitados simultaneamente. Há duas ressurreições (Jo 5.29; At 24.15). A “primeira ressurreição” (Ap 20.4-6) chamada de “ressurreição da vida” (Jo 5.29) ou “ressurreição dos justos” (Lc 14.14) é a ressurreição somente das pessoas justas. Esta ressurreição é referida como a ressurreição “de entre os mortos” (Mt 17.9; Fp 3.11; Cl 1.18, etc…) porque ela é uma coisa seletiva na qual os justos são tirados de entre os maus. A primeira ressurreição tem lugar em três fases: primeiro, “Cristo as primícias” (1 Cor 15.23; Mt 28.1-8), então, “os que são de Cristo na Sua vinda” (1 Cor 15.23; 1 Ts 4.15-18), depois, por último, aqueles que se voltam a Deus durante o período da tribulação e são martirizados (Ap 6.9-11, 15.2) são ressuscitados no fim dos sete anos (Ap 14.13, 20.4). Todos que participam da primeira ressurreição gozarão de uma porção celestial com Cristo e reinarão com Ele sobre a terra (Ap 5.9-10). A segunda ressurreição, chamada de “ressurreição de condenação” (Jo 5.29), ou “ressurreição dos injustos” (At 24.15) é a ressurreição das pessoas más que morreram em seus pecados. Eles ressuscitarão juntos depois dos mil anos de reinado (Milênio) de Cristo (Ap 20.7, 11-15) para ficarem diante do “grande trono branco” e receberão sua sentença após o julgamento. Todos que participam desta ressurreição, que é o resto dos mortos, serão lançados no lago de fogo para sempre.

Glória – Ressurreição para o crente é o completo e final aspecto de livramento do todo o efeito e consequência do pecado. Quando a primeira ressurreição tiver lugar na vinda do Senhor (arrebatamento) cada filho de Deus que partiu deste mundo pela morte será ressuscitado com corpos incorruptíveis (1 Cor 15.51-55 “isto que é corruptível se revestir de incorruptibilidade”; 1 Ts 4.15-18). Os corpos dos cristãos passarão por uma transformação quando forem arrebatados para encontrar com o Senhor nos ares (1 Cor 15.52-54 “isto que é mortal ser revista de imortalidade”). Os corpos dos santos (aqueles que ressuscitaram e os que foram arrebatados) serão glorificados como o corpo do Senhor Jesus Cristo que Ele mostrou aos seus discípulos na ressurreição (Fp 3.21; Rm 8.17, 30; Lc 24.39-43). Quando glorificados os santos não aparentarão seus defeitos e envelhecimento, etc., mas estarão no “orvalho da mocidade” (Sl 110.3; Fp 3.21). Os santos irão também reconhecer uns aos outros naquele dia, como Pedro, Tiago e João reconheceram Moisés e Elias no monte da transfiguração (Lucas 9:28-36). Além de terem corpos glorificados os santos irão também experimentar uma moral permanente em semelhança a de Cristo (1 Jo 3.2). A natureza caída e pecaminosa será erradicada para sempre (Hb 11.40, 12.23 “feitos perfeitos”). O apóstolo Paulo fala desse estado glorificado como sendo “revestidos da nossa habitação, que é do céu” (2 Cor 5.1-2). Também se faz referência a isso como a fase final da salvação dos santos a qual lhes foi dita que esperassem por ela (Rm 5.9, 8.11, 19-25, 13.11; Hb 9.28; 1 Pe 1.5). Assim a morte será “tragada pela vitória” (1 Cor 15.54). Mais que isto, na aparição de Cristo (depois de sete anos de tribulação), os santos em estado glorificado serão revelados ao mundo como associados com Cristo (2 Ts 1.10). Eles viverão e reinarão com Ele sobre a terra no reino Milenar (Ap 20.4-6). Este estado glorificado é eterno (2 Tm 2.10).

Frequentemente ouvimos cristão dizerem dos entes queridos que partiram para estar “com Cristo” em um estado intermediário (“despidos”) como estando agora na glória. O estado glorificado [4] é aquele em que os santos serão trazidos após a vinda do Senhor (arrebatamento). Cristo está na glória agora (1 Pe 1.21; 2 Cor 3.18) e está aguardando para trazer Seus santos para ali na Sua vinda. Os santos “fora do corpo” estão no presente “com Cristo”, mas não glorificados como Cristo ainda.

Inferno, o Lago de Fogo – Depois que o reinado de mil anos de Cristo (o Milênio) terminar, terá lugar a segunda ressurreição. O restante dos mortos que são os maus (uma vez que os justos ressuscitam na primeira ressurreição), será levantado para ficar diante do “grande trono branco” sobre o qual o Senhor se sentará como Juiz. Os livros serão abertos e suas vidas reveladas. Consequentemente, irão receber a sentença que lhes cabe do julgamento e serão enviados para a perdição eterna no lago de fogo (Ap 20.5, 11-15). O lago de fogo é o lugar dos condenados e foi preparado para o diabo e seus anjos, mas todas as criaturas más e não arrependidas, incluindo homens e mulheres responsáveis serão encontradas lá no final (Mt 25.41, 46; Ap 20.15, 21.80). A expressão “lago de fogo” é linguagem simbólica descrevendo a punição eterna do perdido. Um lago é um lugar onde rios e correntes de água terminam. Tudo que flui para ele é coletado e confinado lá. Fogo é um símbolo de julgamento nas Escrituras. Assim o lago de fogo é o lugar de confinamento sob o juízo de Deus.

Cada pessoa lançada no lago de fogo será lançada lá viva, pois eles estarão ressuscitados nesse tempo. Seus corpos serão constituídos para durar por eras eternas: nunca morrerão, mas existirão eternamente na segunda morte no lago de fogo. Não haverá crianças ou pessoas mentalmente desabilitadas, pois elas não atingiram a idade de responsabilidade em suas vidas. Deus é fiel e justo em não permitir que qualquer destes “pequeninos” pereça em uma eternidade perdida (Mt 18.10-14; 2 Sm 12.23, Gn 18.25). Eles estão todos sob a proteção do sangue de Cristo mesmo que não sejam inteligentemente aptos para apreciar o valor dele. As pessoas que forem para o lago de fogo serão seres humanos responsáveis que tiveram plena oportunidade para receber e crer no testemunho que Deus lhes deu de Si mesmo, mas conscientemente rejeitaram. Também não haverá ninguém lá no lago de fogo arrependido de seus pecados ou genuinamente pesaroso pelo que fizeram quando em seus corpos aqui na terra. Haverá “choro”, mas será em autocomiseração. Haverá também “ranger de dentes”, mas será como insultos e maldições lançadas contra Deus (Mt 8.12, 13.42, 50, 24.51, 25.30).

“Inferno” e lago de fogo são o mesmo lugar. Será a habitação final e eterna dos perdidos. “Inferno” é a palavra usada para traduzir “Gehena” que é uma palavra grega usada para traduzir as palavras hebraicas “Vale de Hinom”. O “Vale de Hinom” é um vale ao sul de Jerusalém para onde se dirigia o esgoto. Nela existia um fogo chamado “Tofete” (2 Rs 23.10, Is 30.33) queimando constantemente dia e noite com o propósito de consumir o refugo da cidade (Is 66.24). “Gehena” aparece no NT doze vezes e é corretamente traduzido por “inferno” ou “inferno ardente” [5] (Mt 5.22, 29-30, 10.28, 18.9, 23.15, 33; Mc 9.43, 45, 47; Lc 12.5; Tg 3.6). Vai também além do sentindo literal de “Vale de Hinom” referindo-se também ao lugar de eterno juízo.

Ao contrário da crença popular, não há ainda pessoas no inferno (lago de fogo). As primeiras pessoas colocadas lá serão a Besta e o Falso Profeta (Ap 19.20). Pessoas perdidas estão no presente em prisão no Hades, sofrendo tormentos, mas estas pessoas irão mais tarde ser consignadas, depois de ressuscitadas, para o inferno para sempre. Para ilustrar a diferença entre a condição temporária do perdido, na prisão do Hades, e o lugar final eterno do perdido no lago de fogo, suponha que uma pessoa é pega quebrando a lei e ao ser apreendida é colocada na cadeia municipal (um lugar temporário de confinamento). Ela é mantida lá até o dia de seu julgamento quando for levada diante do juiz e sentenciada por seus maus feitos. Ela é então colocada na penitenciária estadual onde servirá sua pena. A cadeia municipal representaria a prisão no Hades e a penitenciária estadual o inferno (lago de fogo).

O diabo e seus anjos que serão confinados no abismo serão também lançados no lago de fogo (Mt 25.41), de modo que toda criatura má e sem arrependimento terá sua parte na eterna perdição.

Eterna perdição (2 Ts 1.9; Fp 3.19; Mt 7.13; 2 Pe 2.1, 12, 3.16, etc…) que será a porção do perdido, não significa o cessar de existência como alguns aniquilistas ensinam. Por exemplo, se você pegou um machado e destruiu uma mesa magnificamente construída o que resta é um material imprestável num monte de entulho no chão na mesma quantidade que havia naquela bela e útil mesa. Uma vez destruída nunca terá mais a utilidade de quando foi feita. O homem foi criado para a glória de Deus (Ap 4.11). Se ele for para a perdição eterna ele não mais serve para o propósito que foi criado. Isto é chamado de perdição “eterna” porque não há recuperação para esta condição. Ela é eterna (Mc 3.29).

Assim, considerando o destino do perdido em eterna separação de um Deus que é luz e amor, sejamos mais solenes ao ver que isso logo será a porção daqueles que não creem em Deus e não obedecem ao Evangelho de Cristo.

Bruce Anstey, junho de 1990.

[…]

Notas:

[1] “Concise Bible Dictionary” p. 357, “J. N. Darby translation”, Salmos 6.5 (nota de rodapé), Mateus 11.23 (nota de rodapé), F. W. Grant, “Facts and Theories as to a Future State” p. 144, “Help and Food”, vol. 14, p. 140, vol. 21, p. 138, H. E. Hayhoe, “Paradise”, p. 2, A. J. Pollock, “Hades and Eternal Punishment”, p. 3, 10-12. Há ocasiões, entretanto, quando Seol é ainda mais abrangente incluindo também a sepultura onde o corpo jaz (Gn 37.35, 42.38, 44.29, 31; Nm 16.30, 33; 1 Rs 2.6, 9; Sl 49.15, 141.7).

[2] J. N. Darby, “Collected Writings”, vol. 13, p. 179, C. E. Stuart, “The Unclothed State”, p. 6, W. Scott, “The Book of Revelation”, p. 49, 414, F. W. Grant, “Facts and Theories as to a Future State”, p. 151, “Help and Food”, vol. 14, p. 140, vol 30, p. 57, “Scripture Truth”, vol.28, p.247. !3

[3] A versão de João Ferreira de Almeida em português também traduz Hades como “inferno” em algumas passagens.

[4] J. N. Darby, “Collected Writings”, vol. 31, p. 179, p. 185.

[5] Há uma grande diferença entre Hades e Gehena. Embora ambas sejam traduzidas como “inferno” na versão de João Ferreira de Almeida, somente Gehena deveria ser traduzida como “inferno”. Hades não é o inferno, mas Gehena é. Hades é uma condição, Gehena é um lugar onde a pessoa como um todo, incluindo o corpo, é lançada como lemos em Mateus 5.29-30, 10.28, 18.8-9. Hades é temporário (Ap 20.14), Gehena é eterno (Mc 9.43). Hades afeta a alma (At 2.27, 31), Gehena afeta ambos, corpo e a alma (Mt 10.28).

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