Graça é uma palavra do Novo Pacto, não que não a encontremos no Antigo Testamento, pois a encontramos, mas raramente. Sim, Deus é revelado como o Gracioso naquela parte da Bíblia, mas a palavra é encontrada lá apenas algumas vezes, como, por exemplo, em Esdras 9:8 e Salmo 84:11.
Conta-se sobre o grande ganhador de almas, Dwight L. Moody, que ao sair do estudo dessa palavra, ele correu para a rua e parou a primeira pessoa que encontrou com a pergunta: “Você conhece a graça?” A resposta, como era de se esperar, foi: “Graça quem?” A resposta, como era de se esperar, foi: “Graça de quem?”. A isso o Sr. Moody prontamente respondeu: “A graça de Deus”, e seguiu com uma explicação sobre esse grande assunto.
O poeta tentou descrever a graça:
“Favor para quem não merece, isso é graça!
Amor, quando Dele nos afastamos,
Anseio, quando não ansiamos,
Misericórdia, quando Seu amor é desprezado, Isso é graça!”
“Vida, quando só a morte merecemos, Isso é graça!
Tomando o pecado que confessamos,
Dando-nos Sua justiça,
Desejando sempre apenas abençoar, Isso é graça!”
A graça é a atitude de Deus para com os pecadores e, muito mais, é Sua ação para com eles. Além disso, ela é a base de Seus movimentos no mundo (Atos 11:25) e no coração de Seus próprios filhos (1 Pedro 2:20, margem). É também a motivação na vida do crente.
Vamos observar três aspectos da graça de Deus.
A Revelação
“E o Verbo se fez carne e habitou (tabernaculou) entre nós (e vimos a Sua glória, glória como do unigênito do Pai), cheio de graça e de verdade… Porque a lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram por (subsistiram em) Jesus Cristo” (João 1:14 e 17). Aqui temos a graça residindo em uma pessoa, e essa pessoa é o Senhor Jesus. Por meio dele, ela foi revelada em toda a sua plenitude. Nessa palavra estão compreendidas as ideias de recepção, repleção e subsistência. Cristo recebeu a graça em toda a sua plenitude, pois “aprouve ao Pai que nEle habitasse toda a plenitude” (Colossenses 1:19). Ela subsistiu, encontrou seu ser nEle, pois “a graça de Deus, que traz salvação, apareceu a todos os homens” (Tito 2:11). Em Cristo, a graça se encarnou. Assim como em um prisma todas as cores do arco-íris são vistas, todos os raios da glória divina convergem para o unigênito do Pai. Durante os dias de Sua carne aqui, o Senhor Jesus manifestou em toda a sua plenitude os atributos cognatos de Deus: amor, graça, misericórdia, compaixão, bondade, piedade e benevolência.
A Beleza
“E a graça de Deus estava sobre ele… E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lucas 2:40 e 52). Aqui a graça é vista como repousando sobre uma pessoa, o mesmo Glorioso. Pintores antigos retrataram o Senhor com uma auréola na cabeça. Nós os criticamos, mas, à luz dessas e de outras Escrituras, podemos estar errados. Havia em Jesus uma aurora, uma beleza, uma graciosidade que era apreciada pelo Pai e também era vista pelo homem. Com relação a Ele, o salmista escreveu: “A graça se derramou em Teus lábios” (Sl 45:2). Sabemos que, em Sua época, os homens “se maravilhavam das palavras de graça que saíam da Sua boca” (Lucas 4:22).
Embora nosso estudo da graça gire em torno do Senhor Jesus, devemos perceber que a beleza da Cabeça deve adornar cada membro do Corpo de Cristo. A oração do homem de Deus, Moisés, foi: “Que a beleza do Senhor nosso Deus esteja sobre nós” (Salmos 90:7). Com relação à Virgem Maria, lemos: “Salve, tu que és a mais favorecida (agraciada) entre as mulheres” (Lucas 1:28). Maria foi agraciada com um propósito especial, uma beleza, um dom que repousou sobre ela para sua realização. Com relação a todos os santos, lemos sobre “a glória da Sua graça, pela qual nos fez aceitos no Amado” (Efésios 1:6). Essa beleza aplicada a nós é ilustrada na história do aleijado que trabalhou diligentemente em um modelo do templo, colocando a prata e o ouro nos devidos lugares. Quando terminou, o modelo não parecia tão bonito quanto ele esperava. Um amigo, no entanto, focalizou um refletor elétrico e o fez brilhar com excelente esplendor.
Quando a luz da presença divina brilha sobre o crente, ele também deve brilhar com a beleza do Senhor. Podemos orar:
“Que a beleza de Jesus seja vista em mim!
Toda a Sua maravilhosa paixão e pureza.
Ó, Tu, Espírito Divino, refina toda a minha natureza,
Até que a beleza de Jesus seja vista em mim.”
A Comunicação
“Todos nós recebemos da Sua plenitude, e graça por graça” (João 1:16). Nessa passagem, lemos sobre a graça que flui de uma pessoa e, novamente, essa pessoa é o nosso abençoado Senhor Jesus. Ele é seu repositório e recurso. Nossa primeira consideração é apreender mais e mais dessa plenitude e, então, apropriar-nos do que precisamos dEle. “Águas para nadar” (Ezequiel 47:5) é uma imagem vívida de Sua plenitude de graça, energia e força que abundam em Seu povo. Essa graça concedida aumenta; é graça por graça; à medida que um suprimento é usado, outro flui. Israel não podia armazenar maná para o dia seguinte, nem nós podemos armazenar graça para alguma ocasião futura. No entanto, “Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda boa obra” (2 Coríntios 9:8). O Senhor disse ao apóstolo Paulo: “A minha graça te basta” (2 Coríntios 12:9). Ou seja, não apenas o suficiente, mas a abundância para atender a todas as exigências.
Podemos notar aqui três exortações quanto à nossa responsabilidade em vista do generoso suprimento de graça à nossa disposição. “Procurando diligentemente para que ninguém perca a graça de Deus” (Hb 12:15). A Nova Tradução traduz a palavra “falhar” como “carecer”. Como é possível que aqueles que foram salvos pela graça de Deus estejam agora deficientes nessa qualidade! A falta da graça pode ser uma falta no plano gracioso de Deus para nossas vidas. Ao nos privarmos de Sua graça, falhamos por causa da fraqueza. Há outra exortação que é muito incisiva: “Rogamos-vos também que não recebais a graça de Deus em vão” (2 Coríntios 6:1). Como isso é possível? O assunto dessa porção é serviço, não salvação, e ela pressiona sobre nós o tempo aceitável, hoje, para recebermos de Sua plenitude. Recebe a graça de Deus em vão quem não se apropria dela plenamente, mas com moderação.
Observe mais uma palavra forte: “Portanto, nós, que recebemos um reino que não pode ser abalado, tenhamos a graça de servir a Deus de modo aceitável, com reverência e temor a Deus” (Hb 12:28). “Tenhamos graça!” É tão fácil assim? Sim, basta aceitar, receber o que está armazenado para você em Cristo. Há sempre o suficiente nEle. Ele diz: “Minha graça te basta”.
M. B. McJannet, “Alimento Para o Rebanho”, 1964.
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