A Base Divina da Verdade
Se para o resgate e salvação eterna dos pecadores Deus providenciou o Senhor Jesus Cristo, o grandioso e suficiente sacrifício para remissão de pecados, alguém ainda poderia duvidar de que este mesmo Pai, Todo-poderoso e cheio de amor, também não tenha, da mesma forma, providenciado tudo o que é relativo à caminhada e à comunhão dos cristãos? Realmente, seria absoluta descrença, além de desonra ao Nome do Senhor da Glória, supor que Ele tenha negligenciado este aspecto que é o mais vital das necessidades de Seu povo adquirido por preço de sangue.
O coração do cristão pode estar confiante de que a preciosa Palavra de Deus contém a plena resposta para qualquer questão que possa surgir neste sentido. Assim, crendo, que examine as Escrituras com o espírito disposto a se submeter à soberana vontade de Deus.
A Base: “Um Só” Corpo
Gostaria de despertar a prontidão do espírito de fé que há no filho de Deus. Em primeiro lugar, admitindo que a verdade pertence a Deus, e não a nós, vamos reconhecer que a SUA base traçada para a reunião de seu povo é absolutamente a mesma desde o começo da Igreja, no dia de Pentecoste (At 2), até que a Igreja seja tomada para a Glória na vinda do Senhor Jesus.
A área demarcada pelo círculo representa esta base. O contorno consistente revela que esta base permaneceu intocável durante todo o transcorrer da história. Esta é a base, o fundamento sobre o qual foi estabelecida a igreja primitiva no livro de Atos. E é a única base sobre a qual a unidade do Espírito pode existir na Igreja. Efésios 4:3-4 nos dá uma clara indicação disto: “Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz: há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação”. A preservação da “unidade do Espírito” só é possível se baseada sobre uma verdade estabelecida, e que não muda: “há somente um corpo e um Espírito”. A unidade do corpo de Cristo, a Igreja, não pode ser dissolvida porque é obra de Deus. E esta unidade inclui todo o pecador sobre a face da terra que foi salvo pela Graça. Deus não pode reconhecer outra base que é mais restrita do que esta, e nem pode aumentá-la para incluir sequer uma alma que não seja salva.
Contudo, mesmo que um crente jamais possa perder o seu lugar no corpo de Cristo, ainda é possível que se afaste do terreno em que está assentada a base, a verdade do único corpo – e este, lamentavelmente, é o estado da cristandade hoje em dia. Assim, ainda que cada crente tenha o seu lugar assegurado no corpo de Cristo (que é um só), quando ele abandona a base deste, a verdade do “único corpo”, ele torna-se incapacitado para preservar “a unidade do Espírito”, porque abandonou o princípio da operação do Espírito na Igreja. Não importa quantos abandonem esta base, ainda assim “o firme fundamento de Deus permanece firme” (II Tm 2:19). Deus não pode mudar o Seu fundamento para se adequar aos desejos dos homens.
Alguém formulou esta simples ilustração:
Um professor disse a seus alunos que brincassem no pátio da escola. Não demorou muito e todos os alunos deixaram o terreno da escola para brincar em outro lugar. Se estão juntos ou não, eles não estão mais na base que lhes foi estipulada. Assim também foi logo depois do estabelecimento da Igreja, até parece o povo de Deus foi unânime em deixar a base da verdade do único corpo de Cristo, para então adotar o clericalismo (hierarquia), o ritualismo (liturgia), as denominações entre outros males. Hoje em dia até já se chegou ao ponto de algumas denominações ousarem reivindicar serem elas descendência direta da igreja primitiva original! Mas o denominação em si já é uma grosseira negação da verdadeira base da Igreja! Este tipo de orgulho espiritual não deveria enganar a ninguém. A nós cabe confiar somente, e não arrogar sermos da “linha original”. Isto nada mais é que justificar a nós mesmos, e não a Deus. Deus sempre está certo, nós é que erramos todas as vezes que deixamos a base que Ele delimitou.
Qualquer outra base que tomamos, mesmo que pareça estar bem próxima à base verdadeira, mesmo que ali seja possível uma ótima cooperação com outros, esta continua não sendo a base divina, e o filho de Deus deve encarar isto honestamente, com um espírito quebrantado e contrito diante de Deus. Desta feita, o que o filho de Deus deveria buscar, não é meramente ser ‘mais certo’ do que os outros, deveria, ao invés disto, simplesmente voltar para a base que o próprio Deus estabeleceu. De fato, nem voltando para este terreno poderíamos arrogar que ‘nós estamos certos’, porque, afinal de contas, o professor tinha dito que todos os alunos deveriam brincar juntos no pátio da escola; e enquanto algum dos santos de Deus ainda permanecer fora da base, qualquer indício de satisfação consigo mesmo está muito impróprio. Ao invés de justificar a nós mesmos, deveríamos mostrar verdadeira preocupação pelos outros; e assim a nossa atitude estará justificando a Deus, estará demonstrando que ‘o lado certo’ é o de Deus.
O número de “outros terrenos” ou bases fora do fundamento de Deus é ‘legião’, isto porque a igreja professa tem sido dividida em inúmeros grupos com várias formas de organização humana. Não é que todas estas práticas sejam incoerentes, mas são padrões adotados e defendidos como que se fossem bíblicos – em outras palavras, tomaram uma base que é oposta à base divina da verdade. Por isso, se o crente quer honrar a Deus, terá que deixar tudo isto de lado e voltar ao “fundamento de Deus”.
Vamos tomar o exemplo da doutrina do clericalismo. Ali há uma classe chamada ‘clero’, que tem o título e a autoridade espiritual sobre os ‘leigos’. A raiz desta doutrina já começou a se desenvolver na igreja primitiva. Diótrefes gostava de exercer a primazia (III Jo 9), e “as obras dos nicolaítas” transtornavam a igreja em Éfeso (Ap 2:6). Sabe o que significa ‘nicolaíta’? “Quem governa os leigos”. A igreja em Éfeso odiava estas obras, as quais o Senhor também odiava. Contudo, em Pérgamo este mal aumentou e foi aceito: “Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu aborreço” Apocalipse 2:15. Uma pessoa cujas obras são incoerentes pode ser tolerado até um certo ponto, mesmo quando há espirituais que odeiam estas obras. Mas quando se forma uma doutrina para defender e justificar as tais obras, então já é desobediência aberta ao fundamento do ‘único’ corpo, é fraudar a autoridade do Espírito Santo na Igreja. O mesmo deve ser dito das falsas doutrinas, associações impuras, independência, prática do mal, legalismo, denominacionalismo, ritualismo, quando qualquer grupo de pessoas quiser justificar isto como sendo bíblico. É solene pensar que os homens não terão receios em justificar o mal com a intenção de justificar a si próprios. Mas vamos nós, ao invés disto, justificar a Deus.
Agora, outro exemplo. Por vezes nós podemos agir de um modo independente demais. É quando dizemos: “Sou eu guardador do meu irmão?”. Deveríamos julgar severamente uma tal indiferença. Mas a ‘independência’ é a doutrina que proclama que cada assembleia local é independente em sua constituição e governo, não sendo responsável ou não tendo um vínculo vital com outras assembleias. Isto é, novamente, uma absoluta negação da verdadeira base do “único corpo”, porque o corpo compreende todos os santos do mundo. O fato de serem “um só” corpo implica que os membros estejam todos ligados uns aos outros, fazendo supor que haja vida, dependência e responsabilidade pelo mútuo bem-estar.
Vários fundamentos anti-bíblicos facilmente se misturam umas com as outras. De fato, a tolerância religiosa de nossos dias, leviana, é propícia para tais misturas. Mas a base do ‘único corpo’ não tolera misturas, porque é a base da verdade, e aí o erro não tem lugar. Daí a razão da linha que demarca o círculo ser espessa e contínua. Deus não permite que algo que o homem elaborou penetre em seu fundamento.
Esta base, finalmente, é aquela sobre a qual o Espírito de Deus está livre para operar como quer, realizando a verdadeira unidade segundo Deus, e possibilitando a plena manifestação dos diferentes dons que há em cada membro do corpo de Cristo. Caso alguém se deixou tocar pelo Senhor para retornar a esta base, poderá encontrar alguns que vão se opor e alegar que, se fizer assim, estará rompendo a unidade com eles, mas ele pode bem responder que a unidade, se não estiver fundada sobre a base de Deus, não é a unidade do Espírito, e por isso não tem valor espiritual. Mesmo que somente um aluno se preocupasse em voltar para o pátio da escola, por causa da palavra do professor, este aluno não poderia ser acusado por dissidência; o contrário é que seria verdadeiro. “Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra” (II Tm 2:20-21).
Podemos estar certos de que Satanás sempre vai atacar esta base, e fará tudo em seu poder para tirar as almas de lá, ou impedir que se aproximem dela. A base ele não pode destruir, mas fazendo uso de todos estes males ao redor do círculo, procura atacar violentamente aquilo que não pode aniquilar. Para isso, não cessa de usar insinuações, denúncias e trapaças em seu esforço para ofuscar a pura verdade de Deus. Quer assim evitar que busquem verdadeiramente o bendito fundamento de Deus. Somente a fé simples e real no Deus vivo poderá discernir e andar nesta grande verdade, que é revelada tão claramente na Sagrada Escritura. O leitor verdadeiramente interessado talvez não precise de outros comentários a respeito dos vários “outros terrenos” e suas influências nocivas, mas com a ajuda das referências bíblicas citadas será capaz de procurar, por si mesmo, quais os pensamentos do Senhor e Mestre em todas estas coisas. Que nestes dias, em que não podemos deixar de estar impressionados pela proximidade da vinda do Senhor Jesus, o nosso gracioso Deus e Pai ainda desperte os corações de Seu povo a desejar sinceramente estar no lugar que Deus determinou para eles.
Leslie M. Grant – “Things New and Old” (“Coisas Novas e Velhas”), U.S.A.